𝟑𝟗. 𝑷𝒓𝒐𝒗𝒂 𝒅𝒆 𝒂𝒎𝒐𝒓.

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                                  Sâmia

— Pessoal, pessoal! Eu gostaria da atenção de todos! — Miguel, pediu, e todos abriram um círculo ao redor dele e da Beatriz — Sei que foi meio repentino o evento de hoje, mas não podia mais esperar. Minha irmã disse que eu era louco de fazer um noivado a jato, mas me incentivou, mesmo assim. — falou, sorrindo para mim, e retribui, naturalmente — Porém, quando se sabe que encontrou a pessoa certa, as dúvidas desaparecem, e cada tempo separados é uma tortura. — continuou, olhando fundo a amada.

  Meu coração pesou ao se lembrar do erro do meu pai e da proposta que me foi imposta. Queria casar, claro, mas não nessas circunstâncias. Notei que Daniel me observava, do canto oposto do local, e desviei o foco dele. Pensar que queria me arrancar de perto do Samir só aumentava o meu ódio.

— Nós estamos namorando faz alguns anos, Bia, e não posso mais esperar. Sei que você é a mulher da minha vida, e compreendi isso desde o primeiro instante em que te olhei nos olhos. Sendo assim... — prosseguiu, se ajoelhando, abrindo a caixinha de veludo verde com um lindo diamante, brilhante como uma estrela — Beatriz, aceita se casar comigo?

  Ela respondeu um sim abafado, com os olhos cheios de lágrimas, e abraçou o amado, ao som dos aplausos emocionados. Eu também aplaudi, comovida, me segurando para não borrar a maquiagem. Pensei que poderia fazer isso com o Samir, um dia, mas graças ao Daniel, não seria possível. Se não aceitá-lo como marido, meus irmãos pequenos não terão aonde viver. Me sentia presa, mesmo sem ter dito sim.
   Seria obrigada a viver com um homem que não me entendia e não amava. Nem toda riqueza do mundo compensaria isso. Com a minha partida, meu guarda-costas seria demitido e nunca mais o veria. Meus olhos arderam com esse destino cruel.
  Não ouviria mais a sua voz, não sentiria o seu calor, nem o seu cheiro, sempre que me beijava. Ele me reconfortava, sem contar que me entendia completamente. Senti a angústia aumentando no meu peito, me sufocando e me retirei, discretamente, vendo que a chuva tinha dado uma trégua, e Samir me seguiu.

— Sâmia, espera, por favor! — ele pediu, no meu encalço, enquanto eu pisava no chão molhado, do lado de fora da casa, sujando os meus saltos roxos com lama.
— Eu preciso sair um pouco! Não aguento mais ficar lá dentro! — falei, seguindo para os fundos da propriedade, entrando na mata.
— Volta, por favor! Deve estar cheio de cobras aí! Está escuro!
— Preciso respirar! — disse, arfando, ao caminhar rápido, entre as árvores, com a visão embaçada pelas lágrimas.
— Meu bem, calma! — pediu, ao finalmente me alcançar e segurar nas minhas mãos.
— Eu não quero ir embora! — reclamei, abraçando-o apertado.
— Eu não vou deixar nada de ruim te acontecer. Nada vai te afastar de mim, Sâmia, nada! — garantiu, com o farfalhar ao redor.
— Não quero me casar com ele! Eu o odeio mais do que tudo, só por me tirar de perto de você! O Daniel não merece viver!
— Ninguém pode nos separar! Vou fazer o que for para te manter aqui, está bem? — prometeu, e balancei a cabeça, concordando, com uma lágrima correndo no meu rosto.
— Então, é por isso que não me quer mais? — Érica falou, segurando uma taça pela metade de champanhe, nos surpreendendo, depois que surgiu por trás de uma árvore — Por causa de uma pirralha?
— Está fazendo o que aqui? Ficou maluca? Vai embora!
— Não vou, não, Samir! Não vou engolir o fato de você ter me tratado tão mal, ainda pouco! Sabia que ele vai acordar um dia e simplesmente te deixar, Sâmia? É um egoísta!
— Dá para você sumir e nos deixar em paz?
— Ah, jura, Sâmia? O que o seu pai diria se soubesse que você estava aqui no meio do mato com ele, hein? Abraçadinhos, quase se beijando! — continuou, com desdém — A filhinha da mamãe se agarrando com o guarda-costas! Eu vi como se olhavam, no jogo de Polo!
— Você não vai abrir essa boca! — ordenei, puxando-a pelo braço, e ela tropeçou, caindo de joelhos, deixando a taça cair — Você está bêbada!
— Vou contar tudo! — garantiu, se pondo de pé — Nunca mais vai trabalhar nesse país, Samir, e ela vai ser mandada para o exterior, com certeza!
— Érica, se acalma, por favor! — pediu, tentando pegar na mão dela, que deu dois passos para trás.
— NÃO ME TOCA! — berrou — Vou acabar com esse circo já!
— Você não vai! — falei, tentando segurar no braço dela, que se desvencilhou e correu para dentro da mata — VOLTA AQUI!

Hasan    Where stories live. Discover now