𝟕𝟒. 𝑼𝒎 𝒎𝒆𝒊𝒐 𝒑𝒂𝒓𝒂 𝒖𝒎 𝒇𝒊𝒎, 𝒑𝒂𝒓𝒕𝒆 𝟐.

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                                Samir

  A modista foi até rápida! Meia hora depois, ela partiu e Sâmia pediu para usarmos smoking na sua festa, mas poderíamos decorá-los com algo da nossa preferência. Disse que não usaria máscara e o Felipe rebateu, perguntando “tem certeza que não usa, senhora?”.
  Ela não respondeu, obviamente, e tive vontade de quebrar a fuça dele, mas me segurei. Mal abri a porta do carro e o besta me alcançou, aumentando a minha irritação.

— Então, Samir, vai fazer alguma coisa de noite?
— Não sei, porque?
— Pensei que estaria livre, já que não vai dormir com dona Sâmia. — falou, baixo, com um sorriso sínico.
— Do que você está falando, uai? — questionei, aproximando-me, louco para quebrar o seu pescoço.
— Ora, Samir, é óbvio o que está acontecendo. Eu vi o jeito de vocês no salão de tiro do nosso chefe. Não entendi uma palavra do que disseram, porém eu tinha que ser muito burro para achar que não era nada.
— Você está imaginando coisas, Felipe.
— Será mesmo? Dá pra ver nos seus olhos! O que acha que o doutor vai fazer quando descobrir sobre vocês dois?

  Impulsivamente, olhei na direção da casa, e notei que Sâmia nos observava de uma das janelas frontais. Felipe seguiu o meu olhar e soltou uma risada baixa, com as mãos nos bolsos, sentindo-se em vantagem. Vi que ela parecia tensa ao nos ver ali, e tentei parecer o mais calmo possível.

— Nossa, ela parece preocupada. Porque será? — indagou, debochado — Acho melhor conversarmos mais para saber o que fazer, não acha?
— O que você quer, exatamente?
— É só ir na minha casa, hoje, lá pelas 22 horas. Precisamos resolver o que vocês dois vão fazer. Sabe aonde eu moro?
— Sei. Vou aparecer, não se preocupe. — respondi, cansado.

  Parti dali, rápido, apertando o volante do carro, querendo esganá-lo. Nada o impediria de abrir o bico, então eu precisaria tomar uma ação definitiva. Cheguei logo, em casa, surpreendendo a minha mãe, que tomava um lanche na cozinha com nossas primas e a Zaina, e todas olharam-me com desaprovação. Com certeza, estavam comentando o rompimento com a Layla e o suposto motivo.

— Filho, chegou cedo. O que houve?
— O doutor Daniel deu folga para mim e o outro segurança, que ficaram de plantão. Volto só amanhã.
— Você terminou com a Layla e nem nos contou! — Nádia reclamou, depois de um gole de café.
— Francamente, Samir, não sabemos o que te deu para deixar uma menina linda dessa escapar. — Amina completou, e minha mãe abaixou o olhar, chateada.
— Não, Amina, nós sabemos sim! — Nádia rebateu, incomodada — A Layla deixou bem claro o motivo! Isso, é verdade, Samir?

  Nem respondi, só saí de perto, rumo ao meu quarto, com a cabeça lotada. Aquelas desocupadas não sabiam falar de outra coisa! Eu tinha mais como que me preocupar. Como iria calar o Felipe sem que ninguém notasse? Para a Sâmia, foi fácil fazer isso com a tia dela; o ambiente favorecia.
  Não podia simplesmente dar um tiro nele, até porque os vizinhos ouviriam o barulho. Tinha casas demais ao redor. Eu não podia ser visto entrando lá. Cortar o pescoço dele não seria uma boa ideia, pois eu não queria fazer sujeira e minhas facas especiais estavam no meu apartamento.
  Pensa, Samir, pensa, sussurrei, agarrando o cabelo, andando de um lado para o outro do cômodo. Já sei, disse, ao pegar no armário uma caixa de couro, aonde eu guardava a minha arma, tirando o forro, achando no fundo o vidrinho com as ervas que Sâmia tinha me dado, um dia, para uma morte um pouco mais demorada. Sentei na beirada da cama, segurando-o; acho que chegou a hora de usar, murmurei, guardando no lugar, em seguida. Duas batidas na porta despertaram-me, e minha irmã entrou.

— Eu terminei com a Sâmia, como pediu. — informei, apressado.
— Ah, jura? — indagou, irônica, ao cruzar os braços — O que quer em troca? Parabéns? Bem, pela sua cara, deve ser verdade. E a Layla?
— Se foi. É melhor assim. Nunca deveria ter começado com ela.
— Fala como ela fosse o problema! As pessoas não são descartáveis, Samir! Essa atitude só magoa os outros! Você é que errou, se envolvendo com duas ao mesmo tempo! No fim das contas, acabou sozinho! A Sâmia te descartou!
— Não, ela não fez! Zaina, nunca quis nada disso! Olha, se quiser odiar alguém, odeie a mim, e não ela!
— Eu não odeio ninguém, Samir, odeio a forma como aconteceu tudo! Você sempre falou que detestava traição e estava fazendo justamente isso! Ainda não consigo entender o que se passou pela sua cabeça para fazer uma coisa dessa! É bom que esteja sofrendo, você merece! 
— Só quero concertar tudo, mana. Não quero fazer ninguém mais sofrer. — confessei, triste.
— Tudo bem, uai, acredito em você. Porque as nossas primas estão falando que você terminou por não gostar de...
— Porque são um bando de caquétic
as desocupadas! Eu fiz o que era certo, ao terminar! Não aguentava mais! Por favor, me perdoa, Zaina. — implorei, chateado, segurando as suas mãos.
— Eu não te odeio, Samir! — garantiu, me puxando para um abraço apertado, o que me confortou — Nunca faria isso! Nem a Sâmia tem o meu ódio. Por favor, para de se envolver em tantos problemas. — pediu, ao se afastar e me olhar fundo.
— Eu vou, prometo. Inclusive, eu já acertei a minha demissão. — contei, e ela ficou surpresa — O marido dela implorou para eu fazer a segurança da festa, principalmente por causa do que houve com a Érica e a tia da Sâmia.
— O que houve com a tia dela?
— A mulher cortou a própria garganta e tinha uma carta embaixo do rosto dela confessando a morte da outra.
— Que horror, Samir! — soltou, cobrindo a boca com a mão, chocada.
— Foi achada hoje. Estão todos em pânico.
— Por isso está com esse cara, porque a viu morta?
— Infelizmente, sim. — menti, já que o que Felipe disse não saía da minha cabeça.
— Ah, maninho, não fica lembrando do que aconteceu. Você vai voltar a se sentir melhor, não se preocupe. — garantiu, sorrindo ao acariciar o meu rosto.
— Vou sim, pode deixar. Eu vou descansar um pouco, estou exausto.

Hasan    Where stories live. Discover now