𝟐𝟒. 𝑽𝒊𝒔𝒊𝒕𝒂.

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                                Daniel

  Estacionei em frente a casa do Alfredo, já que ele não apareceu hoje no escritório. Logo assim que a governanta abriu a porta para mim, o vi parado em frente à escadaria principal. O cumprimentei, sorrindo, e rapidamente me levou até a sua sala, alguns metros dali. Demos de cara com Sâmia e o seu guarda-costas, passando por uma porta, ao entrarmos no corredor.

— Filha, o que está fazendo?
— Ah, estou mostrando os corredores secundários para o Samir, por precaução, pai. Ele pode precisar usá-los, um dia.
— Realmente, muito bem filha. É bom que ele conheça toda a casa.
— Bom dia, Sâmia. — falei, maravilhado — Tem passado bem? Você está linda hoje. — elogiei, e notei que o seu guarda-costas me encarou, franzindo a testa, olhando-me de cima a baixo, o que não entendi.
— Obrigada. — agradeceu, num tom que não compreendi — O que faz aqui, Daniel?
— Vim tratar de negócios com o seu pai.
— Pois é, filha, o cliente está tentando abaixar o valor do transporte. Mas acho que posso ceder, dessa vez.
— Mas, pai, é para qual região?
— Norte da África do Sul, naquela cidade aonde ainda só nós temos acesso.
— Então, não ceda. Se apenas nós temos acesso, cobre o valor que tem que ser cobrado. Ele depende de nós, por isso vai fazer o necessário. Caso perca a carga, vai se problema dele, não nosso. Até porque a Bastos Exportações não deixa nenhuma carga se perder. Se nos contatou, é porque pode nos pagar.
— Ela está corretíssima, Alfredo! — falei, encantado com aquele raciocínio tão frio — Precisamos manter o valor.
— Tudo bem, vamos manter. — ele concordou, com um ar cansado.
— Eu soube que está se saindo muito bem ajudando na administração da casa. — continuei, elogiando-a.
— Pois é, estou aprendendo como se faz tudo. Pretendo cuidar da minha casa, futuramente.
— Ah, isso é magnífico! Foi você que sugeriu tirar o funcionário que acendia as lareiras?
— Claro, não vi necessidade em mantê-lo, apesar de trabalhar bem. Quase não usamos as lareiras, fora que podemos acender o fogo nós mesmos. Era um gasto desnecessário. Só o chamamos para fazer a limpeza mensal.
— Sua atitude foi realmente inteligente e muito bondosa. — falei, sincero, mas acho que ficou constrangida, pois não demonstrou uma reação muito clara — Estou impressionado! Mas foi muito bom te ver. Até logo.
— Ah, até logo. Vamos continuar andando, pai. Te vejo no almoço. — acenou para o homem e fechou a porta.

  É incrível como, até mesmo sem maquiagem, ela continuava linda. A leveza no seu sorriso nunca mudou, sempre dando-lhe um ar de menina. Sem deixar de ser uma mulher adorável, pensei. Segundos depois, entramos em sua sala e ele fechou a porta.

— Vá direto ao assunto, Daniel.
— Eu pensei muito e quero o pagamento integral da dívida que tem comigo até o casamento do Miguel, o que te dá cerca de dois meses.
— O que? — perguntou, um pouco pálido — Não pode estar falando sério!
— Estou falando e muito! Já esperei demais e é a hora de eu ter o que é meu por direito. E com os juros.
— Daniel, porque está fazendo isso? Alguma vez eu já deixei te pagar?
— Nunca, Alfredo, mas... — falei, me aproximando dele — algo me diz que é a hora certa para te cobrar.
— Daniel, eu não posso te pagar assim, de uma vez só. Não pensou no valor das prestações?
— Pensei, mas quero o dinheiro integralmente. Essa dívida já existe há tempo demais.
— A dívida é maior do que o valor da nossa casa.
— Devia ter começado a me pagar anos atrás, então. Sei que vai achar uma alternativa, você é inteligente. Te vejo no escritório, amanhã, Alfredo. Não precisa me acompanhar até a porta.

  Saí satisfeito, ajeitando o paletó e nem sei como ele ficou depois que fui embora. Estou acostumado a negociar e ganhar, pensei, ao dirigir de volta para casa. Sorri comigo; eu vou ter o que quero, de um jeito ou de outro.
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