𝟐𝟏. 𝑰𝒏𝒕𝒆𝒏𝒄̧𝒐̃𝒆𝒔.

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                               Daniel

Domingo, 20 de Abril de 1957

  O melhor negócio que fiz foi me tornar sócio da Bastos Exportações, pensei, ao tomar uma dose de conhaque, no meu escritório. Era uma empresa próspera, e eu queria muito investir em algo rentável. Só tinha uma parte muito pequena, mas me permitia opinar sobre a forma de conduzir certos assuntos. Minha riqueza estava aumentando, mas de nada adiantaria tanto dinheiro e não ter com quem dividir.
  Foi então que conheci Sâmia, a filha do sócio majoritário, Alfredo, uma jovem excepcional. Tenho certeza que foi instruída para ocupar um lugar na empresa, futuramente.
  Como não trabalhava, treinava as suas habilidades em Administração em casa, ajudando a madrasta nas finanças, o que também era ótimo. O fato dela saber organizar um lar, numa idade aonde as moças não estavam mais se importando com isso, me fascinava.
  Sempre tentei me aproximar, pedindo permissão para Alfredo me deixar escrever-lhe, mas sem sucesso. Não sei o que ele temia. Já trabalhávamos juntos há anos; com certeza, me conhecia e sabia que eu não era nenhum maníaco.
   Talvez as minha habilidades de negociação fossem um pouco mais agressivas e isso o incomodasse. Uma vez, em um evento, puxei assunto com Sâmia, mas ela era muito tímida e não rendeu muita conversa. Relevei, pobrezinha, não devia estar acostumada a conversar com homens mais maduros.
  Porém, ainda sim foi educada, além de ser uma moça muito elegante, ensinada com perfeição a se vestir adequadamente como alguém de posição social superior, como eu. Era dona de uma humildade única, que notei no modo como tratava os empregados. Vi nela, com o passar do tempo, uma candidata ideal para construir uma vida comigo. Não me olhava como se eu fosse um banco. E na festa que Alfredo deu, em casa, só me deu mais certeza, ao vê-la desfilando vestida como uma belíssima mulher.
  Perdi o fôlego quando ela apareceu de vermelho. Tentei me aproximar, só que Sâmia desapareceu. Achei Alfredo e Maria Domênica, num canto, e perguntei pela filha. Muito tempo depois, o guarda-costas surgiu e avisou que tinha machucado o pé e foi deitar. Lamentei muito, já que queria conversar com ela.

— A Sâmia se tornou uma mulher deslumbrante, Alfredo. — falei, assim que sua esposa se afastou.
— Já tem a minha opinião sobre esse assunto, Daniel.
— Você me ofende, desse jeito! Não sou um sem eira nem beira, muito menos um tarado! Posso dar uma vida segura para ela. Claro que, se Sâmia não quiser conversar comigo, não vou forçar. Fora o fato de que ela é adulta, e não precisa da sua permissão. Estou falando com você por pura gentileza, porque não quero ninguém falando por aí que persigo a filha dos outros! Sou um homem honrado, Alfredo.
— Daniel, a resposta é não. A diferença de idade entre vocês é grande demais. Ela pode se sentir cobrada em excesso.
— Eu quero me casar, Alfredo. Preciso de uma boa esposa, e Sâmia se encaixa com perfeição na função. Você a instruiu bem! Ela é incrível! Não paro de pensar nela um instante.
— Daniel, eu sei que as suas intenções são as melhores, mas vamos aproveitar a festa. — falou, dando um tapinha leve no meu ombro — Deixemos esse assunto para depois. Com licença. — disse, se afastando.

  Fui embora, queimando de raiva. Como não permitiu que ao menos eu tentasse conquistá-la? Porque negar a possibilidade de uma vida confortável à própria filha?, refleti, enquanto o motorista me levava para casa. Alfredo não tinha o direito de me tratar assim, principalmente com a dívida que tem comigo. Faria de tudo para Sâmia ser feliz, e estar com ela me deixaria do mesmo jeito. Porém, eu não desistiria tão facilmente. Olhei pelo vidro da janela, sorrindo levemente, porque a luz se acendeu na minha cabeça e tinha achado a solução para ter o que queria.
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Hasan    Where stories live. Discover now