Hasan

𝟓𝟔. 𝑼𝒎𝒂 𝒗𝒊𝒔𝒊𝒕𝒂 𝒊𝒏𝒆𝒔𝒑𝒆𝒓𝒂𝒅𝒂.

                               Sâmia

— Senhora, desculpe pelo incômodo, mas precisamos fazer algumas perguntas sobre o desaparecimento de uma jovem que esteve aqui na sua casa pela última vez. Sou o detetive Tércio Nogueira e esse é o meu parceiro, o detetive Samuel Torquato. — informou, mostrando o distintivo.
— É claro, por favor, me acompanhem. Matilde, pode nos trazer um chá, por favor? — pedi, e ela assentiu, com a cabeça.

  Os levei até a sala de estar, que a Madi usava para tomar chá. Nos acomodamos nas poltronas, ao redor da mesa de centro, e os homens tiraram canetas e bloquinhos de anotações do bolso do paletó. Samir ficou em pé, ao meu lado, e me olhou, tenso.

— Senhora, qual mesmo o seu nome?
— É Sâmia. — respondi, e ele anotou.
— E o nome do seu marido é qual? — perguntou, apontando para o Samir.
— Não, não, eu sou apenas o guarda-costas dela. — ele explicou, e o homem encarou-o desconfiado — Mas meu nome é Samir.
— Certo. Conhecem essa jovem? — indagou, mostrando a foto em preto e branco dela, sorrindo, com o vestido claro e o cabelo loiro perfeito num rabo de cavalo.
— Ah, sim! Ela veio no noivado do meu irmão. Passamos uma pela outra. Estava se entupindo de canapés. — menti.
— Não acredito que eles fizeram isso, uai! — o meu amado soltou, indignado.
— Eles quem, senhor Samir?
— Os pais dela foram na minha casa achando que eu sabia da filha deles e fizeram um escândalo, me acusando de ter sumido com ela!
— De onde a conhece, rapaz?
— Terminamos há uns meses.
— Os pais, o senhor Deodalto e dona Yolanda, disseram que você provavelmente tinha culpa. — afirmou, lendo os nomes deles numa das páginas do bloco, enquanto Matilde entrou e serviu o chá.
— Mas é claro, sô! A verdade é que eles nunca gostaram muito de mim. Me tratavam bem pela frente, porém cansei de ouvi-los falando mal de mim, porque não queriam a filhinha branca e loira com um estrangeiro.
— De onde você é?
— Meus pais vieram do Egito. Sou nascido e criado em Minas. Eles nunca foram com a minha cara. Terminei com ela por causa das brigas constantes. — contou, cansado, sentando na poltrona ao meu lado.
— Pode nos contar o motivo das brigas? — o segundo policial perguntou.
— O meu chefe, na época, exigia que eu trabalhasse muito. Por várias vezes, tive que acompanhá-lo em viagens de negócios. Claro, eu ganhava o equivalente, mas me ausentava demais. Obviamente, a Érica não aceitava isso e exigia mais e mais atenção. Eu não podia reduzir as horas e nem me demitir. Por fim, preferi terminar. Já estava cansado daquilo. Os pais dela ficaram com raiva porque fui eu quem terminou.
— Obrigada por nos esclarecer, rapaz. Bem, senhora Sâmia, não se importaria de nos fornecer a lista de convidados, não é?
— Claro que não! Mas a maioria eu não conhecia. Eram amigos da empresa. Talvez o meu noivo conheça. Ele se chama Daniel Magalhães.
— O da empresa de mineração?
— Sim, ele mesmo. — falei, sorridente.
— Foi o homem que te presenteou com essa esmeralda linda? — perguntou, apontando para o anel no meu dedo.
— O próprio! Ele é um amorzinho! Só me dêem um momento. Deve estar por aqui. — falei, me levantando e pegando uma pasta escura na gaveta da mesinha perto da porta — Encontrei! — anunciei, ao retornar para o assento e dei-lhe a folha com os nomes datilografados — Fiquem à vontade para levarem.
— Muito obrigada. Tem certeza de que não tiveram nenhum outro contato com ela na festa?
— Não, eu não tive. Foi só naquele momento mesmo.
— Eu nem falei com ela. Tinha de manter o foco, já que estava de serviço. — Samir se manifestou.
— Entendi. Bem, creio que já vamos indo. — o segundo falou, se pondo de pé com o primeiro — Agradecemos por dispor do seu tempo. Nós desculpe por qualquer incômodo.
— Não há de que. Se precisarem de algo, basta falar conosco. — disse, me levantando — Eu os acompanho até a porta.
— Obrigada. Se importaria se déssemos uma olhada na propriedade?
— Claro que não. Posso guiá-los? Aqui é um pouco grande. — perguntei, com um ar inocente.
— Ah, por favor!