𝟕𝟑. 𝑱𝒖𝒔𝒕𝒊𝒇𝒊𝒄𝒂𝒕𝒊𝒗𝒂.

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                                Sâmia

— Eu posso explicar, Lea. — comecei depois de respirar fundo, assim como o Samir — Olha, você só se enganou e...
 — Não me enganei, nada! Eu vi que você estava com uma florzinha esquisita desenhada no pulso, pouco antes do café. Então fui ajudar a Matilde a trocar a roupa de cama do quarto dos empregados e entramos aonde o Samir dormiu. Lá estava a mesma florzinha manchando o lençol! Era idêntica a sua! Até o seu perfume apimentado estava no travesseiro!
— Leonora, acho que...
— Cale a boca, Samir! Aqui, a prova!

  Ela jogou o lençol contra mim, e vi com os meus próprios olhos a flor de Cicuta que rabisquei na minha pele, logo depois de acabar com a minha tia e pouco antes do meu amado me tomar de novo.
 

— Não quero ouvir nenhuma mentira sua, seu aproveitador! — prosseguiu, com o dedo apontado contra o meu guarda-costas — Eu sabia que tinha alguma coisa acontecendo entre vocês. Sei desde o dia do noivado.
— O que? — indaguei, preocupada.
— Você tinha brigado com os seu pais, Sâmia, e sumido. O Miguel veio até mim, preocupado, e pediu para te procurar. Eu rodei a casa toda, até resolver pegar aquele túnel horrível que a tia Pia nos ensinou a usar e cheguei no estábulo. Então vi vocês. Todos aflitos, por ter desaparecido no meio da tempestade, enquanto os dois estavam transando como animais no chão! Como teve coragem de fazer uma coisa dessas?
— Prima, nunca foi a nossa intenção nos envolver. Aconteceu na inocência.
— Se ainda estivessem solteiros, eu não faria caso, mas você é casada e ele tem namorada! Não é mais inocente! Pensei que tinham parado, mas... Foi por isso que você rasgou o seu vestido de noiva?
— Aquilo foi um acidente. — menti.
— Mentira! Nunca quis esse casamento! O que acha que o Daniel vai fazer, se pegar vocês dois? Eu não vou deixar isso se estender! Vão acabar com essa safadeza agora!
— Não precisa fazer nada, Leonora. — Samir se manifestou — Eu não tenho mais namorada e pedi demissão.
— O que? — perguntei, fingindo espanto, conforme combinamos, ontem à noite.
— Pedi, hoje cedo. — reforçou, e a expressão da outra suavizou — Entreguei uma carta para o seu pai e o Daniel, Sâmia.
— Espera, você não pode ir embora!
— Não, ele deve ir, sim, antes que cause mais problemas! Já está mais do que na hora!
— Mas, Samir... — insisti, fingindo o choro.
— Meu bem... — ele começou, acariciando o meu rosto — você mesma disse que não poderia te ter pela metade. Me desculpa por não te avisar antes, mas não posso mais ficar assim. Só vou ajudar na sua festa e depois disso, não nos veremos mais. Eu ficaria, se pudesse, mas a sua prima já sabe. Mais alguém pode ter notado.
— Ele está certo. É melhor ir o quanto antes. — concordou, em tom duro, cruzando os braços.
— Sinto muito pelo transtorno que causei, Leonora. Eu não sou uma pessoa que aprova esse tipo de coisa, porém agora vou corrigir tudo, antes que seja tarde. Deixarei as duas à sós, pra conversarem melhor.

  Sustentei um olhar triste, assim como ele, que rapidamente saiu e fechou a porta. Encarei a minha prima, que retribuiu um pouco menos tensa, descruzando os braços.

— Eu falei com o Miguel que não era boa ideia você ficar andando sozinha com o Samir.
— Acha que ele me seduziu? — perguntei, irônica.
— Sâmia, eu vi vocês dois e como te tratou. — afirmou, falando baixo, se aproximando de mim — Ele te prendeu no chão frio e áspero. — soltou, num ar chocado — Pelo amor de Deus, me fala: o Samir te atacou?
— Ele nunca me faria mal, Lea!
— Sâmia, responde! Você era virgem e ele não foi nenhum pouco delicado! Te machucou e agora te convenceu que te ama, só para não denunciá-lo? Não tem como você ter gostado de se entregar naquelas condições! Me diga, por favor!
— Quer uma prova de que ele não me machucou? Naquele dia, depois que todos foram dormir, voltei ao quarto dele, e sabe porque?
— Eu sei que ele te atacou!
— Porque queria sentir o corpo dele de novo. — respondi, quase sussurrando, olhando-a fundo, e notei o seu desconforto — Queria que me tocasse, arrancasse a minha roupa e fizesse o que quisesse comigo, do mesmo jeito no estábulo.
— Chega, Sâmia!
— Sabia que pedi para ele me possuir no chão, outra vez? Eu não liguei se parecíamos dois animais, só queria ser dele!
— Para com isso!
— Porque? Não é o que queria ouvir? Eu sei, e você não faz ideia do quão bom foi! Sabe quando fomos na praia e você viu aqueles arranhões nas costas dele? Fui eu quem os fez. — confessei, e me olhou surpresa — Todo o prazer que tive, nesse tempo todo, foi graças à ele. Com certeza, não entende o que me atraiu no Samir.
— Olha, eu sei que ele é bonito e simpático, mas nunca vai poder te dar uma vida igual a que já tem! O que vocês dois têm é só físico! O Samir não podia ter feito o que fez! Ele é um homem feito, com 29 anos, enquanto você só tem 20 anos e... — argumentou, dando voltas ao redor de si — Tudo bem, tudo bem... — parou, arrumando a roupa e respirando fundo — Isso acontece, eu entendo!
— Não entende nada e não fale como se eu fosse uma garotinha indefesa!
— Acorda desse conto de fadas, por favor! — implorou, agarrando os meus braços.
— Ele pode me dar algo melhor. Nós nos amamos, Leonora. — disse, com as lágrimas caindo — O Samir é como eu: quebrado por dentro. A metade partida dele foi forjada para se encaixar apenas na minha. Nós somos almas gêmeas. — constatei, e minha prima me observou com pena — Ninguém no mundo me entendeu tão bem quanto ele. O meu guarda-costas enxergou-me como realmente sou.
— Pelo amor de Deus, Sâmia! — soltou, se afastando de mim, ainda impactada — Ele não serve para você! Isso não é amor, é só uma fraqueza! Só foi carência! — afirmou, segurando as minhas mãos.
— Não, Leonora, não é um tipo de amor que você ou qualquer outro vá compreender! — discordei, desvencilhando-me com raiva, assustando-a — Mas pode ficar tranquila, agora. Tudo vai fluir perfeitamente. Vou me ocupar com os preparativos da minha festa de aniversário, no domingo, o Samir vai embora e eu vou ficar sozinha, mais uma vez. — completei, secando o rosto.
— Isso passou dos limites, é melhor ficar sozinha mesmo!
— Só te peço para não falar com o Daniel. Ele anda implicando com o Miguel e não quero piorar tudo.
— Implicando com ele? Mas porque?
— Porque sou mais próxima dele do que com o homem que divide a cama comigo. Ele sente muito ciúme.
— Que absurdo, o Miguel é seu irmão!

Hasan    Where stories live. Discover now