𝟑𝟖. 𝑭𝒂𝒕𝒐𝒔.

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Samir

Tinha alguma coisa muito errada acontecendo. Vi o doutor Alfredo levar a esposa e Sâmia para o escritório. Os três pareciam nervosos, então montei guarda na porta. Ainda para piorar, passei pela Érica, minutos antes, na companhia de uma qualquer. Ela ficou me encarando, mas a ignorei. Uns 10 minutos depois, Sâmia saiu da sala chorando, e ela se escondeu no corredor secundário, o único lugar vazio naquele momento.

- Sâmia, qual o problema? - perguntei, depois seguí-la - Me fala o que houve.
- O meu pai deve... uma fortuna... ao Daniel, aquele sócio, e é tanto dinheiro que ultrapassa o valor da nossa casa! E ele disse que casar comigo quitaria a dívida.
- O que? - perguntei, indignado, sentindo o sangue quente.
- Samir, eu não sei o que fazer! - soltou, gesticulando, desesperada - Se eu não aceitar, ele vai cobrar na justiça e todos os nossos bens serão confiscados. Meus irmãos mais novos vão morar na rua! - falou, com as lágrimas caindo.
- Calma, meu bem, calma! - disse, segurando o seu rosto.
- Vão me tirar de perto de você! - sussurrou, nervosa, com os olhos brilhando.
- Ninguém vai fazer isso, entendeu? - garanti, encarando-a, e ela balançou a cabeça, concordando - Vamos pensar em algo, mas não agora. Vamos esfriar a cabeça primeiro, tudo bem? - sugeri, e ela respirou fundo - Ninguém vai te tirar de perto de mim.
- Eu sei, e não vou deixar fazerem isso. - disse, determinada, e senti o ódio nos seus olhos castanhos.
- Vou fazer qualquer coisa por você, não se esqueça. - reafirmei, envolvendo-na num abraço apertado, e senti que ela estremeceu, respirando fundo.
- Nunca vou. E não quero perder o pedido, então preciso ir no quarto consertar o meu rosto. - avisou, me soltando - Esperei muito para esse dia chegar.
- Entendo. Também quero ver. Te espero lá com todo mundo.
- Certo. Não demoro, prometo. - garantiu, acariciando o meu rosto, me dando um beijo suave.

Ela subiu as escadas dali mesmo, para evitar os olhares curiosos. Eu saí e voltei para a festa, parando na entrada do saguão. Respirei fundo e olhei na direção de Daniel, que ria e comia animado numa mesa, do outro lado do ambiente. Senti uma onda de raiva e desejei com todas as minhas forças cortar a garganta dele e observar com calma o sangue jorrar, manchando o chão.
Não pode tirá-la de mim, murmurei comigo e me afastei do espaço, caminhando atordoado até o corredor que levava para a piscina, totalmente vazio. Esfreguei os olhos, tentando secar as lágrimas de ódio que caíram.
Agora que finalmente encontrei alguém que me entendia e sentia algo por mim, iriam me tirá-la? Não, não, não, não vou deixar! Precisava pensar em algo e logo, para impedir esse casamento! Corri os dedos pelo cabelo; eu não posso perdê-la para esse desgraçado!

- Samir? - uma mulher me chamou, e vi que era Érica, ao me virar - O que houve com você?
- Nada, porque?
- Estava chorando? - perguntou, se aproximando de mim - O que aconteceu? Sabe que pode falar comigo, mesmo não sendo mais nada meu.
- Estou bem, obrigada por perguntar. - respondi, seco.
- Sabe que me preocupo contigo, apesar de tudo. Porque não aproveitamos o clima nupcial e damos mais uma chance para nós? - perguntou, com uma voz doce, me fazendo franzir a testa.
- Não existe nós, Érica! - falei, irritado - Já chega disso! Não quero reatar.
- Samir, eu ainda amo você. Porque não tentamos de novo? Por favor! - implorou, tentando segurar as minhas mãos, mas desviei - Porque está me evitando? Te dou nojo, por acaso?
- Não, eu só não quero mais nada com você! - me exaltei - Me esquece, de uma vez por todas, por favor! - pedi, nervoso, e os olhos dela se encheram de lágrimas - Desculpa, eu preciso voltar para a festa. Estou de guarda, hoje.
- Sim, de guarda para aquela mimada que me ameaçou com um martelo! Você perde tempo demais protegendo essa pirralha inútil!
- CALA A BOCA! - berrei, com a cabeça quente, agarrando-a com força pelos braços, e ela arregalou os olhos - Nunca mais fale dela, ouviu bem?
- Logo, ela vai casar e nunca mais vai olhar na sua cara!
- Eu duvido! Não vou deixar casamento nenhum acontecer! - chacoalhei-a - A Sâmia é mais do que você imagina! É o que você nunca vai ser! - disse, e ela manteve os olhos arregalados, com medo, tremendo - Não abra a sua boca, ouviu, Érica? Nunca mais fale qualquer coisa sobre ela!
- Está me machucando, me solta!
- Ninguém vai tirá-la de mim!
- Você está apaixonado por ela? - perguntou, com uma careta - Não acredito! É tão ridículo!
- Não é você que tem que acreditar, uai, apenas eu e ela. - afirmei, soltando-a.
- Eu vi o modo como você olhou para ela no jogo de Polo. Era o jeito como me olhava, quando ainda me amava. - explicou, com a voz embargada.
- Fica longe de mim. - falei, me afastando.


Voltei para a festa e cruzei com Sâmia na entrada do saguão. Aproveitei que ninguém estava vendo e rocei os dedos nas suas costas nuas, e ela me encarou, com desejo, se esforçando para manter uma expressão tranquila, apesar de tudo. Se afastou e seguiu até Leonora, parada ao lado de uma mesa de doces. Abriu-lhe um enorme sorriso, segurando nas suas mãos, e logo os noivos se posicionaram no centro do espaço.

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Hasan    Where stories live. Discover now