𝟑𝟕. 𝑫𝒊́𝒗𝒊𝒅𝒂.

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                              Alfredo

Daniel confirmou presença no evento de hoje à noite, assim que me viu no escritório e entrou na minha sala, para conversar, todo animado.

— É sobre aquele assunto. Miguel me falou que o casamento foi antecipado. Será no dia 8 de maio.
— Sim, ele falou.
— Sabe que isso encurta o prazo do pagamento. — falou, cruzando o dedos sobre o colo, com um ar tranquilo.
— Daniel, por favor, me dê um prazo maior.
— Você teve anos para pagar! Eu não quero ter que ir a juízo contra um parceiro comercial. 
— Porque está fazendo isso?
— Quero o que é meu por direito!
— Eu vou te dar, mas preciso de tempo! Não pensou nas prestações?
— Não quero nada pela metade.
— Eu não acredito! — reclamei, esfregando o rosto.
— Mas posso ter a solução dos nossos problemas. Vai resolver a sua dívida e me ajudar a obter uma boa esposa.
— Você não está falando de...
— Me dê Sâmia como esposa e dou a dívida como paga.
— MINHA FILHA NÃO É UM OBJETO! — berrei — Eu o quero longe dela! — falei, apontando-lhe o dedo.
— Eu poderia fazer o pedido pessoalmente. — disse, se levantando — Só tem 3 opções, Alfredo: pagamento integral, ir à justiça e ter os seus bens confiscados, o que para mim seria fácil arranjar graças aos meus contatos, ou me deixar casar com a sua filha.
— Não vou forçá-la a nada!
— Não precisa disso, basta falar da minha proposta. Que jovem não resistiria a um homem rico que quer casar com ela? Com a Sâmia não será diferente, creio. Fale com a sua esposa, quem sabe não ajuda a convencê-la? Eu preciso ir, tenho assuntos a resolver. Te vejo mais tarde. — se despediu, com um sorriso cínico.

  Peguei uma dose de whisky no aparador, sem forças. Daniel estava fazendo isso por pura maldade, só podia. Eu não podia deixá-lo levar a minha filha como se fosse uma mercadoria! Precisava falar com a Madi, porém temia a sua reação.
  Quando a noite veio, todos os convidados estavam animados, incluindo o Miguel e Beatriz, que irradiavam felicidade. Todos estavam dançando, comendo e bebendo, quando ele veio até mim e minha esposa, num canto.

— Boa noite, dona Maria Domênica e Alfredo. Espero que tenha pensado na minha proposta.
— Daniel, já disse que não!
— Querido, do que ele está falando?
— Dona Maria, eu fiz uma proposta de casamento a Sâmia, e em troca considero quitada a dívida.
— Dívida? — perguntou, me encarando, e abaixei os olhos, envergonhado — Dívida de que?
— Não contou para ela? Bem, eu explico: emprestei dinheiro para o seu marido gastar nas mesas de poker, durante anos, e agora preciso que ele me pague integralmente. Mas como eu sei que essa dívida é maior do que o valor da casa de vocês, propus casar com a Sâmia, já que eu sempre me interessei por ela.
— Como você pode deixar uma coisa dessas acontecer, Alfredo?
— A senhora sabe que tenho condições de dar uma vida segura para sua enteada. As minhas intenções são as melhores. Espero uma resposta, em breve. Oi, Sâmia. — falou para minha filha, que parou ao seu lado e estranhou o clima ruim — Você está linda. Vai ser um prazer conversarmos mais. Seu pai vai explicar tudo. — disse, ao se afastar.
— Pai, o que está acontecendo?
— Como você deixou isso acontecer, Alfredo? — Madi perguntou, num tom baixo — Como pode nos colocar nessa situação? E a Sâmia? Como ela fica?
— Gente, qual o problema? — perguntou.

  Levei as duas até o meu escritório, no meio da festa, e contei toda a verdade, sobre o meu vício em jogos e a dívida que adquiri. Me doeu ver o olhar decepcionado da minha esposa, e mais ainda ao ver as lágrimas correndo pelo rosto delicado da Sâmia.

— Porque o senhor deixou chegar nesse ponto, pai? — questionou, com a voz embargada — Por isso, estava tão obcecado em reduzir as despesas e me pediu para rever as finanças? Para ter como pagá-lo?
— Eu tentei de todo jeito, filha, negociar, mas Daniel não aceitou. Chegou e me cobrou tudo, num dia. Vivia tentando se aproximar de você, mas nunca deixei! Não confiava nele! Por isso, adiei a sua faculdade, o trabalho na empresa  e contratei um guarda-costas. Temia que ele falasse com você.
— Ele fez de propósito! Te encurralou só para ficar comigo! O senhor atrasou a minha vida de propósito, só para se proteger! Não posso ficar com ele!
— Não tem que fazer nada, Sâmia! — falei, segurando suas mãos pequenas — Não vou te obrigar a nada!
— E onde é que a Theodora e o Antônio vão crescer? — rebateu, se afastando, e minha esposa sentou no sofá, chorando.
— Nós temos outras casas!
— Pai, o senhor se esqueceu dos juros! O risco de confiscaram todas as nossas propriedades para quitar toda a dívida é altíssimo! Podemos perder tudo! Com certeza, ele deu um jeito de saber da nossa situação financeira, para ter feito essa proposta! Não acredito, não acredito! — reclamou, dando voltas ao redor de si.
— Vamos achar uma alternativa, filha, não se preocupe.
— Não, pai, não acho que tenha uma alternativa. — concluiu, batendo a porta, nos deixando sozinhos, e foi a primeira vez que me odiei por decepcioná-la tanto.
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Hasan    Where stories live. Discover now