𝟔𝟒. 𝑫𝒆𝒔𝒈𝒐𝒔𝒕𝒐.

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                               Layla

  A claridade me despertou, fazendo a minha cabeça girar. Aquela champanhe maravilhosa me fez pegar no sono mais rápido do que gostaria. Corri a mão pelo lençol, ao lado, e não achei o Samir.
  Me sentei, com o estômago embrulhado, triste por estar sozinha. Minha pele arrepiou com a brisa que entrou na janela, então notei que estava completamente nua e puxei o lençol, constrangida, mesmo não tendo ninguém ali.
  Sorri, para o nada, sentindo o cheiro amadeirado que ficou na cama e o gosto do beijo dele. Samir tinha um toque suave, até tímido, principalmente pelo fato de não querer acender a luz.
  Seus lábios se encaixaram com suavidade nos meus, em meio à escuridão, e eu ainda era capaz de senti-los. Finalmente, éramos um do outro, e estava certa que teria uma vida ao seu lado. Levantei e me arrumei, rápido, ainda perdida na sensação do ato. Em instantes, a dona Jamile bateu na porta, entrando, animada.

— Dormiu bem, querida? — me perguntou, sentando na cama, ao meu lado, enquanto eu penteava o cabelo — O café já está pronto. Inclusive, o Samir já tomou, mas foi deitar um pouco. Chegou cedo e mal dormiu nessa noite.
— Parte disso é culpa minha. — falei, me sentindo vitoriosa, e ela me encarou confusa — Eu dormi com ele.
— NÃO ACREDITO! — exclamou, em árabe, caindo no riso.
— Shh, fale baixo! Ah, dona Jamile, tudo fluiu tão bem! — confessei, segurando nas suas mãos — Da outra vez, foi tão rápido!
— Que outra? Você não me disse nada!
— Foi naquele casamento que fomos. Me perdoe, fiquei sem jeito de dizer. Mas dessa vez...
— Como foi?
— Ele é um pouco tímido, mas tão cheio de desejo! Estava me evitando por medo de fazer algo que me ofendesse. Se entregou tão facilmente para mim! Ah, nem acredito! — soltei, escondendo o rosto entre as mãos, e a minha amiga me encarava interessada, com um leve sorriso.
— Que bom que você está feliz! Eu pensava que esse jeito fechado dele era por pura esquisitice, mas me enganei. Tenho absoluta certeza que Samir te ama. Me falou ainda pouco que está louco por você. Vocês dois farão uma linda família! E se continuarem nesse ritmo, vão casar rápido! Eu sugeri que ele passasse a noite aqui, alegando um mal estar, para ficar contigo.
— Só tenho a te agradecer, senhora! — agradeci, abraçando-a, feliz da vida.
— Não há de quê! Ah, eu consegui uma boa casa para nós ficarmos, até os seus pais chegarem. Fica pertinho daqui, apenas uns 5 minutos. Nos mudamos amanhã.
— Vou arrumar as minhas coisas, mais tarde. Mas agora eu preciso ir tomar café. Estou morta de fome!
— Imagino! Meu Deus, Layla, você está radiante! — afirmou, acariciando o meu rosto, e eu sorri — O Samir tem muita sorte em te ter.
— Obrigada, de coração, por me trazer para o Rio. Eu tenho que descer. — finalizei, com um beijo no seu rosto.

   Andei animada pelo corredor, e parei na porta fechada do meu amado, mas as vozes alteradas ecoando de dentro do cômodo me preocuparam. Porque está com a Layla se ama outra pessoa?, Zaina perguntou, brava, e o irmão tentou negar.
   Senti a alegria morrer no meu peito assim que ela falou sobre ter visto ele e a Sâmia juntos. Você rasgou o vestido de noiva, e ainda por cima se deitaram, logo depois dela ter se casado com outro, ela disse, e notei o nojo em suas palavras. Não pode ser verdade, pensei, desesperada, sem conseguir me mover dali.
Fiquei esperando o momento em que o meu habib negaria tudo, mas ele confessou, alegando que o marido dela não tinha qualquer direito de ser o primeiro. Meu coração se partiu ao ouvi-lo afirmar que ela tornou o mundo menos solitário, e que eu era apenas uma fachada. Não, ele só falou da boca para fora, convenci-me. Como podia fazer aquilo comigo, depois de tudo que fiz para conquistá-lo? Não tenho a menor importância?
  Respirei fundo, com as lágrimas caindo. Não, ele me ama, tenho certeza, repeti mentalmente. Será que estavam juntos no dia em que sumiu, por isso, nos deixou esperando?, raciocinei, arrasada. Zaina o obrigou a deixar a mim e Sâmia, e apavorei-me.
  Ele não pode fazer isso, murmurei, afastando-me da porta. Casar com o Samir era essencial para a minha reputação. Já tínhamos passado a noite juntos, e com toda certeza, eu engravidaria logo.
  Então essa era a causa deles estarem discutindo no banheiro, na festa da Sâmia. Sâmia, sua prostituta gananciosa, pensei, sentindo o ódio crescer no meu peito. Conseguiu um dos homens mais ricos do estado e agora queria tomar o meu! Sequei as lágrimas, decidida a não deixar aquilo acontecer. Nosso casamento aconteceria, de qualquer jeito!
  Zaina logo saiu e me viu, e menti sobre o que ouvi da briga dos dois. Afirmei uma besteira qualquer e ela desviou, indo embora bem rápido. Eu amava o Samir e faria de tudo para perceber que aquela mimada era inadequada para ele. Tentei me acalmar e fui comer algo; quem aquela riquinha pensava que era?, refleti, ao tomar um gole de suco.
  Eu conhecia a cultura, o idioma e tudo mais para ser a esposa ideal, sem contar que era bonita e, sem sombra de dúvidas, deixei o meu habib satisfeito na cama. Esse amor vai acabar logo, é só uma aventura, concluí. Sorri, satisfeita, por alguns segundos, ao morder uma torrada com queijo. Eu serei a sua esposa, e não ela, refleti.
  De repente, minha possível sogra atendeu a porta, deixando duas mulheres entrarem, segurando as mãos de três crianças, seguidas de dois homens, que carregavam travessas cobertas.
  Todos se abraçaram carinhosamente, cumprimentando-se em árabe, de forma muito animada. Essa é a Layla, a namorada do meu filho, dona Soraya falou, e também fui envolvida num abraço amistoso.

Hasan    Where stories live. Discover now