𝟏𝟎. 𝑨 𝒇𝒆𝒔𝒕𝒂 𝒆 𝒐 𝒊𝒎𝒃𝒆𝒄𝒊𝒍

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                                  Samir

   
  A casa já estava cheia, uma hora depois. Todos tiraram fotos, assim que chegaram, incluindo a Sâmia, numa pose de lado, olhando fixo na direção do fotógrafo. Aquilo que usava não era um vestido, era uma obra de arte. Lindo demais. Me posicionei num canto discreto, no ângulo que pudesse ver aonde ela estava.
  Por sorte, meu trabalho praticamente se resumia a isso, o que me tranquilizou, pois me pouparia de justificativas sobre o tempo que passava olhando-a. Estava alegre, com um sorriso radiante, principalmente quando um rapaz se aproximou dela e beijou a sua mão. Será que esse era o tal abestado que Miguel mencionou?, pensei. Tem que chegar tão perto?
  Sâmia estava visivelmente interessada nele, pois seus olhos brilhavam. Cada gesto dela era para demonstrar todo o afeto possível, até mesmo as inúmeras vezes em que passava a mão no cabelo perfeitamente ondulado e brilhante, deixando o pescoço à mostra. Ele percebeu, claro, não era burro e nem cego.
   Se aproximou mais, olhando-a fundo nos olhos, brincando com uma mecha do seu cabelo, parecendo que ia beijá-la, o que chamou a atenção de algumas pessoas e me incomodou. Pervertido, refleti, irritado.
   Ainda bem que Sâmia desviou o rosto, com um sorriso constrangido, dizendo algo, fazendo o Eduardo olhar na minha direção com o desdém que vi a vida toda. O sujeitinho era o tipo clássico: cabelinho da moda, imitando alguma estrela do rock, sorriso torto e um ar de superioridade, vestindo um smoking claro bem caro. Provavelmente, um riquinho qualquer que conquistaria fácil uma jovem inofensiva de 19 anos, como a Sâmia. Mas ela envenenou alguém na minha frente, então não é tão inofensiva, pensei. 
  A conversa já durava um certo tempo e, por fim, perguntou algo que Sâmia prontamente respondeu. O assunto parecia interessante, já que ela explicava o seu ponto de vista com bastante convicção. Porém, vi que o sujeito começou a fazer uma cara estranha, à medida que sua companheira falava.
   Logo disse algo, que aparentemente ela não entendeu, pela franzida de testa. Continuou falando, e o sorriso de Sâmia se desfez, rapidamente, dando lugar a um olhar triste. O que será que esse desgraçado disse?, pensei, bravo. O imbecil lhe deu as costas e a coitada respirou fundo, se apressando até uma porta, a uns passos de si, e entrou, desaparecendo.
  Maldição! A peste saiu com um ar tranquilo e encontrou outra jovem para se entreter. Dei a volta no local, desviando dos convidados, e entrei pela mesma porta, saindo num corredor esquisito e vazio. Acho que aquela era uma passagem antiga usada pelos empregados. Dava acesso a três outras portas, mas só uma estava destrancada. Girei a maçaneta da última e saí na biblioteca, aonde entrei devagar e segui o som do choro.
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Hasan    Where stories live. Discover now