𝟓𝟑. 𝑭𝒊𝒎 𝒅𝒆 𝒇𝒆𝒔𝒕𝒂.

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                                  Sâmia

  O restante do dia correu sem incidentes. Me certifiquei de que tudo ocorresse dentro do combinado. Os convidados beberam e comeram bastante, e acompanhei a família do meu amado até a porta, por volta das nove da noite.
  Abracei as mulheres, com todo o carinho que eu poderia demonstrar, afinal logo seria a minha família também. Dona Soraya estava espirrando, e creio que um resfriado estava chegando.
   Os noivos passariam a noite aqui e partiram para Roma, no dia seguinte. Me apressei para colocar Theodora e Antônio na cama, e depois me refugiei no meu quarto, com uma camisola rosa bem macia, um sopro do meu perfume de sempre e uma fatia generosa do bolo que pouco comi, mais cedo.
  Mal sentei no colchão e duas batidas leves soaram da porta que sai no corredor secundário. Ao abrir, dei de cara com ele, usando um pijama escuro, segurando um prato também com duas fatias de bolo.

— Ainda bem que já anoiteceu. — falei, baixo, como sempre, depois que entrou.
— Eu não consegui ir até o final. — contou, irritado, ao colocar o prato na minha mesa de cabeceira.
— Como assim?
— Nós fomos para aquela sala aonde a Madi toma chá. Sâmia, ela não resistiu em nada. Começamos a nos beijar e simplesmente disse que queria ser minha. Nem me conhece direito e já aceitou ser minha namorada. O problema é que a Layla estava ali, contra a parede, totalmente entregue. Uai, eu comecei mas não consegui ir até o fim. Era a coisa mais fácil do mundo e simplesmente travei!
— O Daniel me beijou e eu recuei. Me deu nervoso o cheiro dele.
— Pensei na gente, no porão, e em todas as outras vezes. — falou, me puxando para si — O cheiro dela não era igual ao seu, nem a textura da pele. — acrescentou, cheirando o meu pescoço, o que deixou minhas pernas bambas — Eu não consegui fazer nada porque não era você. — confessou, acariciando o meu rosto.
— Eu não podia beijar outro que não fosse você, Samir. Só tinha vontade de sair correndo de perto dele. Odiei te ver com a Layla. Você é só meu. — sussurrei, segurando na gola da sua roupa.
— Eu sei, somos um do outro. — completou, com o sorriso que eu amava, e nos prendemos num abraço, que nos trouxe um alívio imenso de toda aquela farsa que mantivemos por tantas horas. — Aquele anel ali na cabeceira é o que o pulha te deu?
— É sim. Amanhã, o coloco de novo. Bem, tem algo que você precisa saber. A sua tia Jamile falou que não é sua parente de sangue. — comecei, depois que nos acomodamos sobre o colchão.
— Não é não, graças a Deus! É só o que me faltava, ser ligado àquela mulher pelo sangue.
— Alguma vez, ela te fez um elogio estranho?
— Bem, quando veio nos visitar, ficou dizendo que eu fiquei bonito e sei lá o que. Porque? — perguntou, dando uma garfada no bolo.
— Creio que está interessada em você.
— Ai, que nojo! Ela é praticamente minha mãe! — soltou, e eu segurei o riso — Então, é por isso que ela ficou falando que eu estava charmoso! Pensei que fosse para encantar a Layla. Eca, uai!
— Ela ficou dizendo que a Layla não seria para você, e sim uma mulher mais velha. Daí ficou aprumando o corpo, como se estivesse falando dela mesma. Isso é abominável! — afirmei, me inclinando um pouco na sua direção — Na praia, fez a mesma coisa, te elogiando de um jeito esquisito.
— Mas que nojenta! — exclamou, baixo — Ela me viu nascer, ajudou minha mãe a criar a mim e Zaina. Porque me enxerga dessa forma? Nunca elogiou a minha aparência desse jeito, só implicava para eu arranjar uma namorada. Talvez ela quisesse ter certeza de que eu gostava de mulheres porque estava interessada. Era só o que me faltava, !
— Pode ser que ela implique com a sua nova namorada. — afirmei, deitando sobre a colcha xadrez, seguida dele.
— Fique tranquila, vou dar um jeito nela.
— Amanhã, terei que tomar café na sala de jantar, graças à minha tia Esmeralda, a insuportável. Mas daremos uma escapada. — garanti, cutucando-lhe com o pé.
— Estou doido para te ver, amanhã, elegante como sempre, com esse tracinho preto nos olhos. Aproveitando que estamos aqui, queria te perguntar uma coisa. — disse, deitando ao meu lado, correndo o dedo pelo meu nariz — Do que você tem medo?
— Que? — perguntei, confusa — Medo? Bem, acho que tinha medo de não ser compreendida, de talvez passar a vida toda mentindo, escondendo o meu passado porque seria facilmente condenada. Mas graças à você, não preciso mais temer. — confessei, e os seus olhos brilharam com o largo sorriso que deu.
— Sou grato pelo fato do outro candidato ter sido um imbecil. Do contrário, não teria te conhecido. Eu também me sentia sozinho, e isso só piorava a cada término. Obrigada por ter permitido ficar e ver o quanto você é especial. — sussurrou, e eu sorri, com o coração transbordando de alegria — Não me vejo com mais ninguém. Acha que vamos conseguir ficar juntos? — indagou, e vi uma preocupação verdadeira nos seus olhos.
— É claro que vamos! — garanti, acariciando o seu rosto liso — Não tem erro! Só precisamos ser pacientes e muito cuidadosos. Nada vai nos impedir de ficar juntos. Vamos conseguir fazer o que for necessário para ter tudo o que queremos. Eu te amo demais, Samir. Nunca vou deixar te afastarem de mim. Meu coração é seu. — jurei, sentindo as lágrimas vindo.
— Vamos ficar juntos para sempre, Sâmia. Eu te amo e estarei sempre ao seu lado.
— Vou cumprir a minha parte do plano, não se preocupe. — afirmei, deitando no seu peito.
— Tem certeza que quer fazer isso? Eu posso me livrar do Daniel. Odeio pensar nele tendo prazer com você.
— Preciso me casar para herdar a dívida. Se ele morrer antes disso, pode aparecer alguém e tomar os nossos bens. Quero evitar justamente isso.
— Entendi. Vou cuidar da Layla, pode deixar. Logo, logo, eu e você estaremos juntos. Nos casaremos, teremos lindos filhos e moraremos perto das nossas famílias. — disse e eu sorri, com o seu carinho na minha cabeça.
— Já pensou num nome para o nosso primeiro filho?
— Pensei em Jordana. Se fosse um menino, pensei em dar o nome do meu pai.
— Que lindo, meu bem. — soltei, apertando-o — Eu pensei em dar o nome da minha mãe, Helena, e dar o seu, se fosse menino. — afirmei, mudando de posição, olhando nos seus olhos — Construiremos o nosso próprio mundo. Nossa família será linda e enorme. Eles terão tudo e conquistaremos o mundo inteiro. Um parente em cada lugar com o nosso nome. Qualquer um que ouvir o sobrenome Hasan desejará ser um de nós. Será que os nossos filhos serão como nós? — perguntei, assim que voltei para o seu lado.
— Espero que não. — respondeu, reflexivo, enroscando os dedos no meu cabelo; tínhamos toda uma vida para viver, e fechei os olhos, arrepiada com a proximidade do nosso tão sonhado futuro.
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Hasan    Where stories live. Discover now