𝟓𝟏. "𝑨𝒄𝒆𝒊𝒕𝒐", 𝒑𝒂𝒓𝒕𝒆 𝟐.

18 9 0
                                    

                                Samir

 

  Vi que Sâmia estava falando com o pulha do Daniel, e pela cara feliz dele, ela tinha dito que aceitava ser sua esposa. Minha mão coçou com a vontade de atirar nele, porém respirei fundo e caminhei até a mesa, vendo que Layla estava sozinha, bebericando o champagne. Ela estava com o cabelo castanho solto, com um broche em forma de borboleta prendendo um mecha no lado direito da cabeça.
  Colocou um vestido vermelho claro, bem elegante, que caiu bem na sua pele mais bronzeada. Com certeza, alguém disse para ela a minha cor favorita e a boba tratou de vesti-la hoje.
  Só que eu não gostava de qualquer vermelho, apenas o cor de sangue. Tinha as alças mais finas, deixando a maior parte dos ombros à mostra. Uma pena, não eram tão arredondados quanto os de Sâmia. Na verdade, Layla era um pouquinho magra demais.

— Está gostando da festa? — perguntei, ao sentar do seu lado.
— Está uma maravilha! Todos são muito simpáticos! — afirmou, colocando um docinho na boca.
— Sabe, tenho que confessar uma coisa: fiquei com medo de você ser uma esposa arranjada pelos meus pais. — soltei, sentando um pouco mais perto dela.
— Não, jamais! — jurou, rindo — Sua tia me convidou para vir ao Rio, já que os meus pais viriam em alguns dias. Não participei de nenhum plano. Se bem que acho que ser sua esposa seria bom.
— Acha mesmo? — perguntei, rindo — A verdade é que te achei uma pessoa ótima. — confessei, e ela começou a rir, constrangida — É sério, eu te achei muito prestativa. Queria me desculpar mais uma vez pelo meu comportamento. A verdade é que você cozinha muito bem, é muito educada e gentil. Seria a esposa perfeita. Sei que qualquer um teria sorte em estar contigo. — falei, e o seu olhar suavizou — Olha, Layla, cansei de ficar tentando e tentando buscar uma parceira. — prossegui, inclinando um pouco na sua direção, e o seu foco desceu para a minha boca — O fato que acho que poderia...
— Poderia o que?
— Ser feliz com você. — continuei, olhando-a fundo, e ela paralisou — Não quero mais me decepcionar. Para mim, já deu. Preciso de alguém em que possa confiar e criar uma vida junto comigo. Sei que só te conheço há pouco tempo, Layla, e reagi muito mal com a sua presença, porém eu estava num momento muito ruim. — expliquei, segurando na sua mão, e senti que ela estremeceu — Passei por uma decepção terrível. Ainda sim, vi que você é uma pessoa incrível e entendi que nenhum coração fica partido para sempre. Mas queria saber se... — parei, fingindo nervosismo.
— Se, o que? — indagou, tomada pela expectativa, evidente na respiração acelerada.
— Aceitaria ser a minha namorada? —perguntei, e os seus olhos brilharam, emocionados.
— Mas é claro que aceito! — soltou, radiante, envolvendo o meu rosto com as mãos, e eu sorri, contente, por ela ter caído na rede — Eu te achei um amor desde o primeiro instante, Samir, mesmo com a sua indisposição em me conhecer. Não precisa ficar se desculpando, te entendo.

Não, não entende, pensei, sorrindo. Só a Sâmia me entendia plenamente. Acho que por isso sentia tanto desejo por ela, que nunca se saciava. Nós dois poderíamos fazer tanto e ter tudo o que quiséssemos! Ela era a minha amiga, a minha cúmplice e mulher que eu amava. Era insubstituível.
   Convidei-a para dançar, e logo estávamos girando no centro do saguão, ao som de uma valsa, e ela já estava totalmente envolvida, se deixando conduzir facilmente, olhando no meus olhos, com ternura.
  Corri a mão pelo seu rosto, fazendo-a fechar os olhos por alguns segundos. Vem comigo, sussurrei, saindo discretamente dali, puxando-a pela mão, até chegarmos numa sala que dona Madi usava para tomar chá. A biblioteca era o lugar mais perto, porém aquele lugar pertencia a mim e Sâmia.
  Entramos e fechei a porta. Layla correu para olhar os quadros e algumas esculturas, tocando algumas feitas de mármore com as pontas dos dedos. O lugar estava fresco, graças a porta que passou o dia aberta.
  Cheirou algumas das flores nos vasos delicados, caminhando pelo ambiente. Se estava nervosa por ficar sozinha comigo, disfarçava bem. Somente eu não estava animado com aquilo; era um sacrifício necessário. Adorava ficar a sós com Sâmia. O calor me tomava só de pensar nos lábios dela e no cheiro da sua pele.

— Essa sala é linda! A casa toda é maravilhosa. Eles são muito ricos mesmo?
— São, sim, uai. E o noivo da Sâmia chega a ser mais rico ainda. — disse, tentando disfarçar a minha frustração.
— Eu nem acredito que nós estamos juntos. — falou, meio boba, segurando nas minhas mãos.
— Nem eu acredito. Sei que foi repentino mas... se quiser pensar, não tem problema.
— Não, Samir, estou decidida. Quero sim ser a sua namorada e construir um futuro ao seu lado. Tenho certeza de que os meus pais vão te amar.
— Assim espero. — desejei, sabendo que seria fácil, já que eu conseguia fazer as pessoas gostarem de mim.

  Layla parou de falar, me olhando fixo. Eu sabia o que ela queria, então respirei fundo e a beijei, com todo o desejo que consegui forçar. Prendi-a contra a parede, surpreso com a sua entrega rápida, evidente no modo como agarrava a minha roupa e me puxava para si.
   Agarrei o seu cabelo e ouvi-a gemer baixo. Quero ser toda sua, Samir, murmurou; encarei-a brevemente e estava escancarada no seu rosto a vontade de se entregar, graças à respiração recortada e expressão de quem olhava para a última fatia de bolo da confeitaria.
  Claro que continuei o teatro e voltei a beijá-la, com ela puxando o meu cabelo. A segurei no alto, sentindo o quanto estava quente e parecia ter prática em enroscar as pernas num homem.
  Corri a mão pela sua coxa esquerda, até encontrar o elástico da meia, apertando-a, sentindo a sua respiração se intensificar, principalmente quando ela  tirou a própria calcinha, abriu a minha calça e me senti dentro dela.
   O rosto de Sâmia veio na minha mente, e o seu cheiro inundou a minha memória. Eu faria qualquer coisa por você, sua voz ecoou na lembrança, junto com olhar ardente e o sorriso alegre que só ela tinha. Não há nada que eu não faça por você também, respondi, dominado pelo amor que sentia.
   Eu a amava, sem nenhuma sombra de dúvida. Aquela fachada era essencial para tudo dar certo. Estava acostumado a fazer o que precisava para conseguir o que queria, fosse para mim ou outra pessoa. Não pensava duas vezes em mentir, roubar ou até mesmo matar para resolver algum problema.
  Não era a primeira vez que seduzia alguém; fiz isso para obter informações sobre um alvo, com sucesso, é claro. Só que o perfume suave de Layla começou a me enjoar, e a textura da sua pele não me agradava, apesar de ser bem macia.
  Não estava conseguindo me concentrar, com a cabeça presa no que aconteceu mais cedo, no porão, com a Sâmia. Um incômodo terrível me dominou, revirando o meu estômago e nem notei que tinha soltado minha nova namorada.

— Eu não posso. — falei, desviando o olhar dela, arfando, fechando a calça.
— O que? Mas porque? Samir? — perguntou, vestindo a calcinha de volta, e eu me afastei um passo, esfregando o rosto — Foi algo que eu fiz?
— Não, não foi. A verdade é que eu... não posso fazer isso, não ainda. Não quero manchar a sua reputação. Fora que começamos a namorar faz alguns minutos e nem nos conhecemos direito. Não é certo. Temos que esperar até nós casarmos.
— Eu não ligo, só quero você. — falou, segurando no meu rosto, ainda sedenta.
— Melhor não. Só quero o seu bem, Layla. Precisamos voltar para a festa. Meu patrão pode notar que desapareci. — disse, concordando com a cabeça, e saímos, ela com um ar frustrado e eu aborrecido por não ter conseguido ir até o fim. 
°

Hasan    Where stories live. Discover now