𝟔𝟑. 𝑫𝒆𝒔𝒄𝒂𝒓𝒂𝒎𝒆𝒏𝒕𝒐.

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                                 Zaina

— Precisamos conversar, Samir. — falei, trancando a porta.
— Não dá para ser depois, não? Eu mal dormi, nessa noite. — informou, e notei as olheiras.
— A sua soneca vai ter que esperar. Me diga: porque você está fazendo isso, ? O que deu na sua cabeça? E se alguém viu?
— Pode ser mais específica, uai? — pediu, entediado.
— Eu sei sobre você e a Sâmia. — contei, baixo, e ele se levantou da cama, vindo até mim — PORQUE ESTÁ COM A LAYLA SE AMA OUTRA PESSOA? — falei, alto, cansada daquilo.
— Zaina, não tem nada entre mim e ela. — afirmou, segurando nas minhas mãos.
— Porque ainda mente para mim? — perguntei, irritada — Eu vi vocês dois juntos, ontem, no quarto dela. — confessei, olhando-o fundo, e notei o medo em seus olhos.
— O que? — perguntou, se afastando de mim — Como? Você me seguiu?
— Sim, segui, pelo corredor secundário. Você rasgou o vestido de noiva, e ainda por cima se deitaram, logo depois dela ter se casado com outro! — disse, e seu olhar escureceu — O que se passou pela sua cabeça para fazer uma coisa tão horrível assim? Me responde! — exigi, e ele ficou mudo — A sua namorada ria, feliz da vida, enquanto estava traindo-a bem na cara dela! — expus, sentindo as lágrimas vindo — Ela é uma boa pessoa, assim como o Daniel. Você tirou o direito dele ser o primeiro com a própria esposa!
— Direito? — ele rebateu, com o olhar cheio de ódio — O Daniel não merecia nada! — sussurrou, com a voz carregada de raiva.
— Como você se tornou tão egoísta?
— Tudo bem, Zaina, uma hora, temos que dizer a verdade, não é? — começou, soltando os braços, nervoso — Sim, amo a Sâmia desde o primeiro instante que a vi. Ela é fascinante! Tem coisas nela que só eu consegui enxergar, e ninguém mais, nem mesmo as pessoas da família dela, que ainda a olham como se fosse uma menina, quando claramente já tem idade para fazer muita coisa!
— Inclusive, dormir com você, não é?
— Não me aproveitei dela, uai! — se defendeu, sério.
— Desde Minas, você se fechou e parou de me contar as coisas, ! Eu vivia te perguntando o que estava acontecendo, mas colocou na cabeça que ninguém te entendia e não dizia nada!
— Eu sinto muito por isso, certo? Olha, eu tentei tirar isso da cabeça, mas descobri que ela sentia o mesmo e não pude resistir. Nem tivemos tempo de contar para os pais dela porque o Daniel entrou no caminho. Ela é tudo para mim, Zaina! — contou, com os olhos cheios — A única que realmente me entende e não me julga.
— Pelo amor de Deus! — murmurei, ainda em choque.
— E agora está lá com aquele desgraçado e não faço ideia se está bem! Sim, fiz amor com ela antes do maridinho imbecil, nessa vez e em todas as outras! — confessou, se aproximando de mim, com uma nota de orgulho na fala — Ele tentou roubar de mim algo valioso, e mereceu tudo o que fizemos. Sou eu quem a completou! Aquele pulha nunca vai fazê-la feliz!
— A Sâmia pode muito bem se apaixonar pelo Daniel.
— Não pode! Eles não tem nada em comum! É a mim que ela ama!
— Desde quando vocês estão juntos?
— A primeira vez foi antes daquele dia que eu sumi. Falei para ela que era um erro me escolher, mesmo depois de tudo. Brigamos e nos afastamos, por isso fiquei daquele jeito.
— E pelo visto, reataram logo, uai!
— Quer saber? Eu não vou deixá-la! — falou, teimoso — Espero o marido otário sair e faço amor com ela outra vez na cama dele! É O QUE ELE MERECE!
— BASTA! — bradei, horrorizada, dando-lhe um tapa bem forte, que o silenciou — Nunca ouvi tantos absurdos, Samir! — comecei, recuperando o ar, enquanto ele acariciava a face dolorida — Eu não te reconheço mais! Precisa se afastar dela já! Peça demissão! Se o marido descobrir, pode matar vocês dois! A Sâmia vale a sua vida?
— Claro que sim! — respondeu, com o rosto vermelho — Um dia, me disse que eu encontraria a mulher que me faria querer incendiar o bairro todo. Eu sangraria o mundo todo por ela, se me pedisse. — garantiu, com uma suavidade que me assustou — Mataria qualquer pessoa só para vê-la sorrir.
— Ela mexeu com a sua cabeça!
— Não, eu só achei uma coisa mais importante do que um contrato de trabalho.
— Por favor, Samir!
— Ela tornou o meu mundo menos solitário. — continuou, deixando algumas lágrimas caírem — Você não sabe como é sempre se sentir sozinho e incompreendido. Todo o tempo tive essa sensação, mas agora não tenho mais, graças à ela. Queremos uma vida juntos, mas agora vai demorar para isso acontecer.
— Você precisa sair daquela casa!
— Não posso abandoná-la! Fica despreocupada, vou manter distância dela.
— E realmente acredita nisso? — perguntei, abismada — Você está apaixonado, nunca vai conseguir fazer! Basta ficarem sozinhos que o desejo vai aflorar! Me poupe de ladainhas, Samir!
— Não me acha capaz, não é? — indagou, com incômodo na voz.
— Não, não acho. O desejo vai falar mais alto. Melhor dizendo, vai gritar, no seu caso. Só de imaginar em vocês dois sozinhos naquela casa que... E se a Sâmia aparecer grávida? Já pensou nisso? O Daniel não deve ser tão idiota assim para pensar que é o pai!
— Vou adorar vê-lo ninar o meu filho! — respondeu, irônico.
— MAS O QUE VOCÊ TEM NA CABEÇA? — questionei, aborrecida, e ele soltou uma risada baixa, em resposta — E aquele colar que ela usa? Eu vi o recibo no seu bolso! — afirmei, e ele esfregou o rosto, irritado — Um presente bem caro, não é?
— Foi merecido!
— É tão caro quanto as joias que ganhei, como parte do meu dote. Por acaso, aquele colar é isso? A pediu em casamento?
— É só um presente!
— Não mente para mim! Dá para ver no seu olhar que a pediu. Vocês mal se conhecem! Aquele arranhão no seu braço foi uma lembrancinha do encontro furtivo, daquele dia em que você sumiu?
— Encontrei-a por acidente.
— Até parece que acredito nisso! E a Layla, como fica? Vai enganá-la até quando? Está usando-a como fachada! COMO PODE FAZER UMA COISA DESSAS? — esbravejei, agarrando na sua camisa, e a sua expressão não mudou — Você vai terminar com ela! Conta a verdade ou eu conto! — alertei, com o dedo indicador em riste.
— Vou fazer isso, só não pode ser agora!
— Te dou 7 dias pra resolver, senão eu vou resolver! Você não merece a Layla, que está fazendo de tudo para te conquistar! Nossos pais nos criaram com fortes valores, que simplesmente você jogou no lixo!
— Não joguei nada, Zaina! Eu e a Sâmia somos leais um ao outro e isso não mudou só porque ela se casou.
— Meu Deus, vocês dois estão traindo os seus parceiros! Isso é grave! — soltei, gesticulando, nervosa — Você está brincando com a Layla, então trate de resolver tudo logo! 7 dias é o prazo! — finalizei, enquanto ele me encarava, irritado.
— Você vai me entregar? — indagou, e notei um brilho ameaçador no olhar — Não faça nada, por favor!
— Se não falar nada, eu vou!

  Destranquei a porta e saí, brava. O Samir estava metido numa grande encrenca, e para piorar, cruzei com a Layla, que me abordou no corredor, chateada.

— Zaina, porque quer me separar do Samir?
— O que?
— Eu te ouvi falando com ele, ontem, dizendo que não gostava de mim. O que eu te fiz?
— Escutou exatamente o que?
— Só isso, que ele não gostava de mim, e passei em frente ao quarto dele, ainda pouco, e te ouvi dizer o mesmo! Nem quis saber do restante! Olha, eu não vou roubar o seu irmão, só quero fazê-lo feliz! Para de tentar convencê-lo de que não ama! Porque me odeia?
— Não sou contra você, Layla, mas talvez as coisas não sejam o que você pensa. — falei, e ela me encarou, confusa — Preciso ir. Até mais.

Minha cabeça estava explodindo! Quis sair dali o mais rápido possível! Nem falei com os meus pais. Eu não queria denunciar o meu irmão, mas aquela situação estava crítica. Ele e a Sâmia estavam se comportando da pior forma, e se não dessem fim nisso, eu iria.
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Hasan    Where stories live. Discover now