𝟓𝟐. 𝑫𝒆𝒔𝒄𝒐𝒃𝒆𝒓𝒕𝒂.

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                                Sâmia

  

  Daniel me inclinou para trás, ao som do tango. Me girou pelo espaço, num passo mais rápido, me conduzindo com confiança, e notei que meu pai me olhava preocupado, da outra ponta do salão, enquanto outros olhares curiosos pairavam sobre nós. Ele me puxou de volta, colando com seu corpo, e o calor me incomodou.
  Seu olhar estava fixo demais, deixando o seu interesse ainda mais evidente. Não é possível que esteja apaixonado, pensei, porém a sua mão subindo devagar nas minhas costas dizia o contrário. Se for verdade, é melhor ainda.
  A música parou, e ele finalizou me segurando contra si, com o rosto a centímetros do meu e pude sentir a sua respiração, ao acariciar o meu queixo. Por mais que o seu olhar fosse belo, não tinha a mesma intensidade do de Samir.

— Sâmia, infelizmente, vou ter que ir embora. Preciso fazer uma viagem logo cedo. — falou, assim que o som parou.
— Ah, mas que pena! — falei, fingindo decepção — Mas vai ficar muito tempo?
— Uma semana, no máximo, mas prometo que te escrevo. Vou só a São Paulo resolver alguns negócios e volto logo. — garantiu, acariciando o meu queixo, e eu sorri.
— Que bom, assim vou te ver logo.
— Prometo que te mando uma carta, logo no primeiro dia.
— Sim, me mande! Temos que planejar o nosso casamento.
— Claro, e não vejo a hora de você ser minha esposa. — confessou, sorrindo belamente — É melhor eu ir.
— Te levo até a porta.

  Passamos pela minha tia Esmeralda, que nos olhou espantada, e por Samir, com uma expressão estranha, acompanhado de Layla, igualmente esquisita. Chegamos do lado de fora, e o tempo estava agradável. Nem me dei conta de que já estava entardecendo. A brisa morna tocou a minha pele, o que foi reconfortante e espantou o cheiro do perfume do Daniel do meu nariz. Ele sinalizou para o motorista, que logo parou o carro próximo de nós.

— Queria te agradecer por não ter cobrado a sua dívida através da justiça. Foi muita generosidade da sua parte.
— Sâmia, não te pedi em casamento por maldade. Nunca tive a intenção de te arrancar de casa. Gosto muito de você. Foi a oportunidade que tive para me aproximar. Sei que você me conhece muito pouco, mas te garanto: eu não sou uma má pessoa. Obviamente que você não sente nada por mim ainda, porém vou fazer o que estiver ao meu alcance para te conquistar. — garantiu, segurando nas minhas mãos, me encarando fundo.
— Você não colocou os meus irmãos na rua, Daniel. Isso já significou muito para mim. — falei, com uma carícia no seu rosto com a barba escura perfeitamente desenhada no rosto — Não duvido que seja um bom homem e tenho fé que seremos felizes. Acho que meu pai te estranha por causa dos seus métodos de negociação, mas não podemos ser fracos nesse ponto. Fique tranquilo, isso não me amedronta. — garanti, rindo com ele.
— Tudo bem. Eu vou te fazer a mulher mais feliz do mundo. — prometeu, envolvendo o meu rosto com as mãos com toda a delicadeza possível.
— Meus irmãos terão aonde viver. Já está me fazendo.
— Que bom, porque já me sinto o homem mais feliz do mundo.

  As suas palavras repletas de tanta doçura estavam me enjoando, porém forcei um sorriso amável e notei que ele queria me beijar. Assumi um ar inocente diante o seu olhar profundo e o deixei agir. Encostou os lábios nos meus com cuidado, mas o cheiro do seu perfume me irritou, e acabei me afastando.

— Ah, meu Deus, Daniel, me desculpa! — pedi, fingindo nervosismo — Eu fui pega de surpresa!
— Calma, tudo bem!
— Por favor, não pense que estou te enxotando! É que não estou acostumada com você ainda. — ri, com um falso constrangimento.
— Tudo bem, tudo bem. Fique tranquila. Eu sei que vai se acostumar e que vai me amar do mesmo jeito que te amo, Sâmia. — falou, com intensidade.
— Tenho certeza que sim.
— Antes de ir, tem algo que quero te dar. Tinha esperanças de te pedir hoje. — explicou, ao tirar a caixinha de veludo rosa do bolso do paletó — Não pode se considerar uma noiva sem uma joia adequada. — disse, ao abri-la e revelar o anel com a esmeralda arredondada.
— É lindo, Daniel. — elogiei, e realmente era bonita.
— Pois, então... — continuou, pondo-a no meu dedo anelar direito, e eu sorri — Agora sim, estamos comprometidos. — falou, me envolvendo num abraço carinhoso, que fiz questão de retribuir — Infelizmente, preciso ir.
— Tudo bem. Tchau, Daniel. — me despedi, meiga.
— Tchau, Sâmia.

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