37 - Revivendo o passado

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  - Não quero vocês aqui... - Disse a voz e eu abri os olhos alerta, Mallya deu mais um passo pra trás e ficou do meu lado, tinha visto o mesmo que eu, uma sombra perto da janela quebrada, escondida na sombra, num canto onde o sol não atingia, era uma menina, com os cabelos sujos e com uma camisola branca de dormir aparentemente velha. Mas o fato dela ter a estrutura do corpo duvidosa não era o fato mais amedrontador, o que mais dava medo era o rosto dela, estava todo machucado, pingando sangue e com marcas de queimaduras que deformaram do queixo até a testa da garota, ela era mais nova do que eu e a Mallya, mas dava muito mais medo. Principalmente por ter olhos negros e sem pupila.
  - Me diz que você tem sal? - Pediu Mallya e eu neguei com a cabeça tirando meu canivete do bolso da calça jeans.
  -  Pior que não. - Respondi pegando na mão da Mallya pra garantir que a fantasma não tentaria nos afastar pra ter mais facilidade em nos atacar. A única coisa que poderia parar um fantasma a gente não tinha, meu canivete vai ser praticamente inútil pra essa situação, mesmo assim eu o segurei com firmeza na mão direita, apontando a lâmina na direção da garota esbranquiçada perto da janela.
  - Vocês vão aprender a não mecher com o que não deve. - Disse a menina, a camisola balançava conforme a brisa gelada da manhã entrava pela janela quebrada, com o semblante impassível, a menina olhava fixamente pra nós duas. Parecia ter ficado brava, e isso não é nada bom.
  - Não solta a minha mão por nada. - Avisei a Mallya e nos entreolhamos, ela entendeu meu recado, eu só diria aquilo quando pretendia sair correndo, mas arranjando um ganha tempo primeiro, é claro. E o meu ganha tempo está nas minhas mãos.
  - Você tem certeza que isso vai dar certo? - Indagou Mallya e eu neguei com a cabeça. Em seguida lançei o canivete em direção a testa da fantasma, a lâmina atravessou a cabeça dela como se fosse um holograma e nesse tempo aproveitamos pra correr. Mas não fomos muito longe, ainda de mãos firmemente dadas, quando chegamos na sala de estar, quase perto da saída, a porta se fechou abruptamente e caímos no chão de joelhos, tomadas por uma força que nossos olhos não podiam enxergar, mas que era forte o suficiente pra nos derrubar e embaçar nossas visões a ponto de não enxergarmos um palmo a nossa frente.
  O que se seguiu depois foi ainda mais confuso, tudo ao redor começou a girar numa intensidade assustadora que revirou meu estômago. O chão sujo de madeira se tornou limpo e tudo na sala de estar que antes estava rasgado e empoeirado sumiu de repente. Dissolvendo as coisas no ar até aparecer outra coisa em nossa frente, como se fosse uma imagem refletida num telão, coberto por nevoeiro pra todo lado. Fumaça branca que cercava nossos corpos e subia até cobrir nossos pescoços.
  Adiante o chão tornou-se de pedra e as paredes ficaram mais frias e sem janelas. Espalhados pela extensa grandeza daquele cômodo onde nos encontrávamos agora, haviam várias flores brancas, um jardim que se seguia até uma mesa de jantar no final damo salão, mas que ao invés de ter pratos sobre ela, haviam várias armas antigas, cruzes de prata e facas de prata. Muitas balas também de prata e diversos outros tipos de armamentos, um mais prateado que o outro. Deu uma ardência agonizante na pele só de pensar em tocar acidentalmente em qualquer uma delas.
  Antes de ter tempo pra fazer ou pensar em qualquer coisa, um homem robusto entrou naquele cômodo acompanhado de uma mulher armada, os dois descendo uma escadaria de pedra, as luzes que antes estavam semi acezas, todas foram ligadas e um casal que estava entre as rosas brancas do jardim se levantou do chão abruptamente, muito assustados. A menina era a fantasma, já o rapaz bem novo dos cabelos loiros quase brancos, a gente não conhecia. Só de ver os adultos chegando, o casal ficou apavorado.
  Foi então que quando o homem robusto esbravejou o nome da menina, que eu entendi o que era aquilo, a fantasma é a Thália, e o menino é o namorado dela, o que foi morto pelo pai dela. A fantasma nos colocou pra reviver a noite do incêndio em que o namorado dela foi assassinado e ela botou fogo na casa, ela deve ter feito isso pra nos intimidar ou algo do tipo. E agora eu a Mallya temos ainda mais informações sobre o ocorrido nesta casa, se eu estiver certa, pela minha intuição estamos no lugar onde a porta do Dragão nos levaria, e parando pra pensar nos acontecimentos até agora. Temos provas o suficiente pra confirmar que os pais da Thália eram caçadores de lobisomens, e talvez devem ter matado o namorado dela, o tal Daniel, porque ele era um lobisomem, ou talvez filho de um lobisomem.
  - Você não devia ter feito isso conosco Thália! - A mãe da menina fantasma gritou para o casal, o rosto dela estava vermelho de raiva.
  - Mãe. Pai. Por favor não machuquem ele. - Implorou Thália começando a chorar enquanto empurrava o namorado pra trás de si tentando usar seu corpo pra protegê-lo. Isso não comoveu a mãe, a mulher de semblante rígido apontou a arma na direção deles.

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