139 - Vamos Brincar?

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- Alícia. - Escutei uma voz masculina chamar por meu nome, estava distante, mas eu consegui escuta-la, e consegui acordar no susto, abri os olhos e minhas mãos automaticamente foram pra minha barriga me desesperando enquanto tateava corte ou sangue, mas não havia nada ali, quando chamaram meu nome de novo, arquejei e peguei a arma assim que escutei a porta sendo aberta, destravei a arma e foi quando vi a silhueta masculina na porta do escritório. Me observando.
- Quem é você??! - Bradei levantando da cadeira ofegante e ele acendeu a luz, me dando a visão de BamBam, assustado com a minha reação.
- Calma Alícia, sou apenas eu. - Disse meu irmão levantando as mãos para me acalmar e eu olhei pra arma nas minhas mãos, meus dedos tremiam tanto que eu tive que entrar numa luta pra conseguir abaixar a arma e destrava-la. Meu coração batia tanto que dava pra sentir ele querendo pular da minha garganta e fugir, pro mais longe possível. E meus olhos estavam carregados de lágrimas, e lá no fundo do meu peito, eu senti falta da minha mãe, porque toda vez que eu tinha um pesadelo era ela quem me consolava, como se sempre soubesse quando eu precisava dela, mas a realidade foi cruel em me lembrar que eu jamais teria o consolo de minha mãe, pois ela estava morta.
- Foi outro pesadelo? - Perguntou BamBam preocupado comigo e eu assenti me sentando na cadeira, me segurando ao máximo pra não perder a cabeça e começar a chorar que nem uma criança assustada.
- Eu estava investigando, e acho que acabei caindo no sono. - Comentei quando o silêncio ameaçou se instalar no local, notando que estava suada e BamBam, agora mais relaxado, me fitou por alguns instantes antes de dizer mais alguma coisa.
- O papai não vem pra casa hoje, - Contou escorando-se na porta - Ele vai ficar na delegacia pra trabalhar, ainda está muito abalado com a morte da... - BamBam parou de falar, e eu mantive meu olhar baixo, não precisava olhar nos seus olhos pra saber que estava a ponto de chorar também. Limpando a garganta, BamBam acrescentou - São onze horas, quer jantar ou dormir? - Perguntou e eu levantei a cabeça para olhar pra ele.
- Vamos comer alguma coisa então. - Falei, dormir era uma das últimas coisas no mundo que eu queria fazer no momento. Me espreguiçei, sentindo as dores nos meus ombros e costas por ter dormido na mesa do escritório começarem a surgir e então me encaminhei junto de BamBam pra fora do local. Eu estava com fome.
Depois de comer, tomar outro banho por ter suado tanto por causa do pesadelo, eu fui pra minha cama, BamBam já estava na dele, de pijama e dormindo, de acordados só havia eu e o gatinho, que estava se aninhando no meu travesseiro pra dormir. Aliás a cama estava forrada de travesseiros, BamBam havia preparado pra mim, ele sabia que eu acabaria tendo pesadelos porque o Mark não está aqui, e por isso forrou a cama de travesseiros pra que eu me sentisse protegida quando acordasse asustada. Chegava a ser cruel ter que voltar a dormir, por isso peguei o fichário dos depoimentos da quarta vítima, minha mãe, para lê-los enquanto ainda estava acordada. Fui pra cama, me cobri, o gatinho se aninhou perto da minha barriga, então eu apaguei a luz do quarto e mantive a lanterna do celular ligada para poder ler os depoimentos. Mal se passaram dez minutos e acabei cedendo ao cansasso, mesmo relutando.

Senti alguém segurar minha mão com força e então puxar, como se estivesse me chamando, e quando abri os olhos acordando, dei de cara com olhos negros que me olhavam predatoriamente, arquejei e me sentei abruptamente, assustada com a imagem da boneca que estava diante de mim, ela estava de costas, usando um vestido branco todo sujo, e com a cabeça virada pra trás, me lembrou o chucky instantameamente, porém numa versão demoníaca bem assustadora. Após o susto, tentei me recompor colocando a mão no peito para acalmar meu coração acelerado, enquanto olhava o local a minha volta, eu estava num armário, sentada numa prateleira aberta, rodeada de bonecas como a que ainda estava olhando pra mim, mas ela não tinha vida, apenas me encarava.
Eu estava num quarto, parecia o quarto de uma menina pequena, porém abandonado e muito sujo. Dava pra escutar risadas de crianças vindo de algum lugar fora do local. Haviam bonecas de porcelana e ursos de pelúcia pra todo lado, uma cama do lado direito do quarto com cobertores rosa e sangue manchando os lençois e escorrendo pelo colchão para pingar no piso branco.
Mesmo com a pouca iluminação que havia no quarto eu consegui ver as tonalidades rosa e bege nas paredes do quarto e o guarda roupas que estava do lado direito, com uma de suas portas entreabertas e tudo escuro lá dentro a ponto de me fazer estremecer. Empurrei a boneca macabra que estava na minha frente e ela caiu da prateleira, indo pro chão e se quebrando, fazendo um barulho tão alto invadir o silêncio que eu me encolhi com medo de alguém escutar, mas ninguém apareceu, e as risadas das crianças continuaram a ressoar. Sai da prateleira, não sei porque havia me posto ali, só me lembrava de estar brincando de alguma coisa com alguém, e de repente vim parar aqui...

PRISON IWhere stories live. Discover now