74 - Verdade Oculta

590 83 4
                                    

  Com o coração disparando, eu apertei a campainha, e em poucos instantes uma mulher de meia idade, com os cabelos lisos e olhos claros levemente ameaçadores, abriu a porta, me olhando com impaciencia. Ela era a mãe da vítima, reconheci por causa de seus longos cabelos loiros. Senhora Luíza Amatis, da família dos Amatis.
  - Pois não? - Indagou ela e eu respirei fundo me acalmando antes de falar alguma coisa, a falta da Mallya já se fazia presente, ela sempre começa a falar toda vez que vamos até a casa dos parentes da vítima. E agora só tinha eu e o Mark, que estava logo atrás de mim.
  - Bom dia, eu sou a Alícia e este aqui é Mark. - Comecei, nos apresentando, e a mulher não mudou sua expressão, ainda me analisando meticulosamente - Viemos pra coletar mais informações sobre o que aconteceu a sua filha. - Assim que terminei de falar a mulher mudou seu semblante, a dureza ameaçadora se quebrou e ela pareceu ter ficado triste. Ela alisou o vestido preto de seu luto com as mãos, suspirando angustiada e então me deu passagem.
  - Entre por favor, eu já me lembrei quem é você. - Disse ela e eu assenti, meu estômago embrulhou, eu sei que as pessoas conhecem eu e a Mallya por que já ajudamos meu pai a resolver dois casos importantes na cidade, mas encarar isso de frente, de que as pessoas confiavam na gente a ponto de nos deixar entrar em suas casas era novo pra mim.
  - Meus pêsames. - Falei contendo minha ansiedade, assim que passei pela porta Mark veio junto.
  Ao colocar os pés no hall de entrada a mulher já se prontificou em fazer perguntas.
  - Seu pai te mandou aqui? - Indagou e eu neguei com a cabeça.
  - Não senhora, eu vim por causa dos depoimentos, tenho alguns questionamentos quanto a eles. - Contei e ela ficou pensativa, mas logo se recompôs a fazer outra pergunta.
  - Não eram duas meninas que ficam investigando? Cade a outra? - Perguntou enquanto nos guiava por um corredor mal iluminado, as paredes em seu ar vitoriano estavam repletas de quadros da família e de pessoas com roupas bem antigas, já deu pra deduzir que essa casa tem muita história.
  - Sim. - Afirmei e então adeentramos na sala de estar, com mais paredes repletas de quadros, com suas fotos antigas em molduras de madeira escura - A minha parceira não pode vir porque está resolvendo um assunto importante. - Contei e a mulher  nos levou até os sofás, estes não eram velhos como o resto da casa, porém eram tão elegantes quanto.
  Eu me sentei e senti que não estávamos sozinhos, tinha mais alguém na sala.
  Mark ocupou o lugar ao meu lado e a mulher dona dos olhos ameaçadores, se sentou bem na minha frente em outro sofá marrom.
  - E então com quem pretende falar? - Perguntou ela e foi então que eu avistei uma menina na janela, era uma jovem moça, quase imperceptível em seus trajes enlutados perto da cortina grossa e escura que ficava na janela.
  - Com a Senhora primeiro. - Respondi e então a vi assentir, enquanto me fitava.
  - Pode começar. - Disse e eu tirei o celular do bolso como se fosse um habito, e então o coloquei no meu colo. Na verdade o gravador estava ligado, desde que toquei a campainha estou gravando tudo, porém ninguém sabe além de mim e Mark.
  - Pois bem, - Falei e então busquei mentalmente a minha pergunta - Nos depoimentos, todos os Amatis não se queixaram de ter nenhuma inimizade ou suspeita, então me diga, como era a sua filha, ela teve namorados além do último antes de sua morte? - Perguntei e percebi que a Senhora Amatis ficou pensativa.
  - Não, apenas um namorico que não deu em nada, e também não acho que ele tenha motivos pra fazer muita coisa já que ele não tinha nem mesmo onde cair morto. - Disse ela ríspida e com rancor me pegando de surpresa e então seus olhos ficaram nublados, como se o assunto evidentemente a incomodasse, bingo! Então tem algo por baixo dos panos, bem que eu suspeitei que os depoimentos estavam perfeitos demais pra serem verdade, então o namorado nerd citado não foi o único.
  - Não diga isso mãe. - Repentinamente a menina na janela se voltou para nós com fúria, olhando a mãe com os olhos azuis marejados. Pela semelhança entre ela e a Senhora Amatis estava óbvio que eram mãe e filha, principalmente pelo jeito que a menina falou com a mãe.
  - Comporte-se Eliza! - Ordenou a mãe e a menina limpou as lágrimas no rosto abatido.
  - Você não pode mais mandar em mim, foi por causa dessa sua hierarquia que a minha irmã morreu! - Retrucou ela e o rosto da Senhora Amatis ficou vermelho de raiva. Essa não. Péssima hora pra brigas, eu preciso conversar com a tal da Eliza, ela me parece ter ótimos assuntos para tratarmos.
  - Senhora Amatis - Eu intervi tentando transparecer gentileza, e a mulher me cercou com seus olhos claros.
  - Acho que o seu tempo acabou minha querida, volte amanhã. - Disse ela se levantando e eu e Mark nos levantamos ao mesmo tempo, meu coração acelerou de ansiedade.
  - Por favor Senhora Amatis - Mark se pronunciou, pela primeira vez desde que chegamos, tentando remediar a situação e ela ergueu uma sobrancelha inquisidora na direção dele. Agora ferrou!

PRISON IWhere stories live. Discover now