198 - A Porta

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  O sol queria se pôr e ir embora para a noite se iniciar, não estava tão tarde, mas o dia já parecia estar acabando e aquele doce gosto de fim tarde combinava perfeitamente com o vinho que eu levava à borda da taça aos meus lábios. Eu gostava desse sabor, mesmo que me deixasse inquieta pela falta de tempo, toda vez que o dia ia terminar eu tinha medo que a noite viesse, mas estava feliz porque a noite não seria fria, seria salgada pelas ondas do mar, e acolhedora pelos braços de Mark. Eu esperava que essa noite fosse diferente, não sabia se a nossa conexão poderia comprometer muitas coisas no nosso relacionamento, se bem que... Estamos num relacionamento mesmo? O que ta acontecendo? Mal começei a refletir sobre minhas dúvidas e me toquei de que Mark estava demorando muito pra voltar do quarto. Se eu que sou mulher levei dez minutos pra fazer a mala por que ele está demorando vinte? Se bem que quando eu arrumei a mala fui rápida demais...
  Me voltei para a sala do apartamento de Mark analisando os móveis e as coisas ao redor, estava normal, mas a falta de claridade do sol estava começando a fazer com que os móveis e objetos progetassem sombras e silhuetas sinistras pelo chão e as paredes.
  Estava calmo demais, e eu estava incomodada.
  - Mark. - Gritei chamando por seu nome, mas não obtive resposta, todo aquele silêncio que parecia atravessar as paredes estava me deixando agitada. Me desencostei da janela e segurei a taça com mais pressão enquanto meu polegar deslizava pela borda freneticamente.
  - Mark! - Gritei mais alto, e as sombras me responderam com o silêncio. Eu já não gosto de ficar em casa quando anoitece, agora ficar aqui na casa dos outros... Isso vai me deixar com a cabeça perturbada, se bem que não vai acontecer nada demais, eu so estou na casa do Mark, e ele só não me ouviu por que deve estar em algum cômodo afastado da sala.
  Enquanto tentava me convencer pra me acalmar eu fui até a porta e apertei o interruptor, acendendo a luz da sala, as sombras sumiram com a claridade e eu quase me tranquilizei, quando estava começando a me acalmar a janela bateu com força e se fechou. Eu tomei um susto que estremeceu todo meu corpo, mas não me movi. Cerrei os olhos com força e suspirei para me acalmar.
  - Isso é só coisa da sua cabeça Alícia, se acalme. - Falei pra mim mesma e fui até a mesinha de centro, coloquei a taça sobre ela, ao lado da garrafa de vinho, e então assim que me voltei para o corredor onde Mark havia entrado respirei fundo - Calma, respira fundo Alícia. - Disse pra mim mesma - Você vai atrás dele e ficará tudo bem. - Falei me tranquilizando, mas meu corpo e meus instintos me obrigavam a colocar a mão na arma. Eu tinha trazido ela sem o consentimento do meu pai, não era a primeira vez que eu fazia isso, mas eu não ia ficar sem a minha fiel arma se saísse de casa, éramos uma dupla, da mesma forma que eu e a Mallya somos, eu precisava da minha arma, e não ficaria sem ela.
  Me libertei do transe que meu medo queria me prender e me encaminhei para o corredor, entrando sem amarras, e me espantei com o tamanho dele. As paredes se extendiam por longos metros, e a cada dois havia uma porta, acho que ao todo eram sete só naquele corredor. Agora eu entendia porque o Mark não ouviu quando eu chamei, esse apartamento tem vários cômodos, e levando em consideração que eu chamei duas vezes e não obtive resposta ele deve estar numa das últimas portas, bem afastado da sala. Percebendo que não ia adiantar ficar parada esperando dei início a caminhada.
  No caminho, enquanto eu passava e batia nas portas esperando pra ver se Mark apareceria, eu fui começando a sentir frio, como se a temperatura estivesse caindo, aquele calor aterrador que ficou me atacando o dia inteiro estava sumindo, e aos poucos minha o pele se arrepiava com frio. Meu corpo ficando gelado.
  Conforme eu estava chegando na metade do corredor meu coração começou a acelerar, não sei a causa, mas tinha alguma coisa acontecendo ao meu redor, e minha mente ainda não tinha identificado o que era. Começando a temer, eu olhei pro início do corredor, a mente já estava em estado de alerta, tinha alguma coisa errada. A luz do corredor estava apagada, e minha mente estava martelando que eu devia tê-la acendido quando entrei aqui, mas agora era tarde demais, eu havia esquecido desse detalhe.
  Não havia janelas naquele corredor, só portas, quando mais eu adeentrava no corredor, mais a escuridão me engolia. Tinha alguma coisa no escuro, estava querendo me devorar, eu estava quase pensando em tirar a arma da cintura quando parei na frente da próxima porta pra bater. Senti medo. E ao invés de simplesmente bater e fazer soar algum som no silêncio, eu levei minha mão trêmula até a maçaneta, meus instintos estavam me queimando pra abrir, mas meu medo não queria deixar, e incapaz de me conter meus dedos se chocaram com o material frio e giraram-na, abrindo a porta.
  Ela rangeu, e abriu uma pequena fresta de luz, meu corpo inteiro tremeu com a inquietação, era agora...

PRISON ITahanan ng mga kuwento. Tumuklas ngayon