88 - Festa em Família

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  Olhei pela última vez meu reflexo no espelho e engoli em seco, meu vestido preto parecia muito mais alegre do que eu. Aliás eu não me sentia nem um pouco animada com a noite. Eu sei que meu inferno só está começando.
  - Que cara é essa? - Indagou Jaebum vindo pelo corredor na minha direção e eu suspirei tentando abrir o melhor sorriso que eu podia, mesmo que não fosse tão verdadeiro assim.
  - Eu só estou tomando coragem. - Esclareci e então olhei novamente para o espelho. Jaebum se aproximou de mim, olhei para o seu reflexo no espelho, ele estava elegante, vestindo um terno preto que o deixava mais velho e com um ar maduro, mas seu rosto continha um olhar sereno e um sorriso tranquilo, havia uma taça de vinho na mão direita, e ele parecia levemente animado.
  - É o seu aniversário mana. - Me relembrou e me deu a taça de vinho - Vamos aproveitar. - Disse e então me pegou pela mão, me levando gentilmente pra fora.
  Assim que meus pés pisaram na área, eu tomei todo o vinho num único gole, o líquido desceu suave pela minha garganta e eu abri um sorriso, desta vez um pouco mais verdadeiro. Eu vou sobreviver!
  Jaebum foi falar com os primos e eu me envolvi na multidão, passeando e sorrindo, várias pessoas começaram a me cumprimentar, comecei a conversar com algumas primas e então fomos todos pra mesa. Tinha um monte de doces e um bolo enorme no centro da mesa, mas nada me chamou muito a atenção, a não ser pelo sorvete que estava praticamente me chamando perto do vinho. Mesmo conversando eu fui atrás do sorvete.
  A noite foi transcorrendo calmamente, tirando pelo meu pai, ele não estava nada bem, não eram nem nove horas ainda e volta e meia Jaebum ia até ele tentar pedir que ele parasse de beber. Os esforços do meu irmão eram praticamente inúteis. Meu pai estava ficando irritado, e cambaleava levemente enquanto conversava com meus tios de Nova York, minha tia me viu, mesmo que eu estivesse perdida dentro da multidão, e não escondeu seu olhar de desagrado, como se eu fosse algo errado. Como se aqui não fosse o meu lugar. É, estava demorando pra começarem a soltar as garrinhas!
  Me misturei entre a multidão de parentes, tinha muita gente aqui, e quando consegui chegar até a mesa, escutei algumas pessoas citando o meu nome.
  - Ela devia estar na mata e não aqui! - Protestou uma num sussurro e escutei a outra gargalhar.
  - E você acha que o pai dela não pensa assim? - Rebateu a outra, tinha um sotaque francês bem evidente carregado no tom de voz. Eu acho que ainda não perceberam que eu estava logo atrás delas, escutando tudo enquanto pegava mais vinho - Ele está bebendo que nem um alcoólatra por que sabe que a filhinha dele é a culpada pela morte da Lívia. - Um nó se formou na minha garganta, só de ouvir o nome da minha mãe meu corpo travou, e eu soltei a garrafa de vinho e a taça abruptamente, o que acabou chamando a atenção das duas pra mim.
  Eu me virei pra elas, com um olhar carregado de ódio e as olhei de cima abaixo, meu coração estava disparado, a vontade de chorar veio, mas eu segurei, não vou chorar na frente delas. Eram minhas tias, irmãs da minha mãe, e quando perceberam que eu estava ali, e ouvindo tudo, seus rostos mudaram subitamente.
  - Querida, você estava ai? - Perguntou tia Amélia docemente, em um vestido vermelho elegante que ia até os pés, era ela que tinha o sotaque francês, e eu a analisei calmamente, sentindo uma vontade enorme de gritar que ela não devia ter pronunciado o nome da minha mãe com essa boca imunda. Tia Clarisse quem estava a seu lado, me observava branca como papel.
  - É. - Retruquei ríspida e elas se entreolharam, mas ao invés de deixa-las falar, eu completei - Eu escutei os que vocês estavam falando. Mas não se preocupem, veneno de cobra pra mim é refresco. - Rebati e então sai andando, mas tia Clarisse me pegou pelo braço me segurando.
  - Seu pai vai saber que anda sendo tão rebelde. - Ameaçou ela e eu suspirei entediada.
- Titia, fala com o vácuo, ele tem mais interesse de te ouvir do que eu. - Falei e me soltei do aperto dela com um ataque de alto defesa, quase torcendo o braço dela, e então entrei na multidão, me afastando delas enquanto escutava tia Clarisse reclamar que eu quase quebrei seu braço de porcelana. Vaca, eu preciso de uma AK47 igual o Yoongi pra matar muita gente.
  Mesmo bufando eu parei em um canto, perto da piscina, observando as coisas ao redor, meu pai estava bebendo sem parar, agora não era mais na taça, era direto na garrafa. E Jaebum estava lá, tentando fazê-lo parar. É melhor eu tentar ajudar o Jaebum, antes que meu pai comece a andar pela casa gritando o nome da minha mãe como se fosse louco.
  Fui até eles, e quando estava chegando perto do meu pai ele tacou a garrafa de vinho que tinha nas mãos, acertou o chão, se quebrando e sujando meus pés. Quase tinha me acertado. A movimentação assustou as pessoas, algumas gritaram, e logo depois tudo ficou em silêncio, esperando pela minha reação.

PRISON IWhere stories live. Discover now