114 - Avisos

429 65 10
                                    

  Fiquei parada, olhando com atenção para as três figuras que se mantinham em pé no fim do corredor. Elas pareciam apenas três mulheres, cobertas com lençóis que cobriam da cabeça até os pés, porém havia sangue nas pontas dos lençóis, e elas, as três loucas não estavam exatamente na frente da janela paradas, elas estavam dentro da janela, como se fossem reflexos refletidos, mas que podiam ter uma influência muito grande por fora do vidro. Elas não faziam nada, não se mexiam, e muito menos pareciam respirar, mas a presença delas já era suficiente para deixar o corredor dos armários mais frio, com um peso maior.
  As janelas estavam fechadas, e mesmo assim uma rajada de vento entrou no corredor sabe se lá por onde, e assolou o chão, varrendo os meus pés e o da Mallya, quando a rajada passou por nós, atravessando os tecidos de nossas roupas um arrepio desceu pela minha espinha, e eu senti minhas mãos começarem a suar de nervoso, me dando a vontade instintiva de recuar um passo pra trás. Eu não sabia o que fazer. Sabia na verdade, mas eu estava com receio, hesitante demais pra pegar a arma na cintura.
  É o horário errado, elas não deveriam desobedecer as leis da lenda, e além do mais, está durante o dia, então como elas podem ser tão perigosas assim?
  Por um momento o sol parecia ter sido coberto por nuvens, e o corredor que antes estava sem luz, ficou ainda mais escuro e sombrio.
  - O que a gente faz? - Perguntei num surrurro rompendo momentaneamente o silêncio e uma das loucas urrou palavras desconexas. Eu não entendi, mas só por ouvir a voz esganiçada da criatura calafrios tomaram meu corpo e minha pele arrepiou completamente. As luzes pisaram e de repente, um corvo bateu no vidro da janela com violência, para depois escorregar no próprio sangue e cair janela abaixo.
  - O horário, elas não podem fazer nada por causa do horário, por isso estão presas dentro dos vidros. - Raciocinou Mallya e então segurou na minha mão.
  - E isso quer dizer que podemos sair que elas não vão ter poder sobre nós? - Perguntei com expectativa sentindo meu coração disparar mais, e Mallya assentiu.
  - Só não solta a minha mão, a lenda reza que você tem que estar no mínimo entre dez pessoas quando vem aqui no horário delas, porque se elas hipnotizarem um, os outros o impedem de se matar, somos duas, e se dermos as mãos elas não podem influenciar as duas ao mesmo tempo. - Esclareceu Mallya e eu senti um pouco de alívio e um desconforto avassalador logo em seguida quando a criatura refletida na janala rugiu palavras em sua voz esganiçada. Aos poucos parecia que eu podia entender o que ela queria dizer, não parecia estar me chamando como rezava nas lendas, parecia estar me alertando de algo, mas era confuso demais para compreender.
  - Então vamos dar o fora daqui. - Finalmente disse a Mallya.

  Conforme saiamos da escola e cruzavamos corredores, principalmente das salas de aula, as portas se abriam sozinhas, rangendo por sua velhice, e logo em seguida se fechando com força, e eu me mantive alerta, estava me sentindo perturbada desde que tinha visto as três loucas, como se pudesse vê-las a qualquer momento, em qualquer lugar que houvesse reflexos, ou em qualquer local mais escuro. Eu não parava de olhar para os lados, a Mallya ficava me chamando toda hora, mas eu podia ouvir elas me chamando, sussurrando calmemente meu nome pelos corredores, e eu não estava conseguindo discernir se era só impressão, ou se realmente elas estavam me chamando. E o pior é que quanto mais baixo elas falavam enquanto tentavamos sair o mais rápido possível da escola, mais eu parecia entender. Elas diziam: ...Alícia cuidado...
  Começei a sentir falta de ar, estávamos a poucos metros dos portões quando eu cai de joelhos sentindo uma dor forte no peito, meu ar, parecia que meu ar havia fugido dos meus pulmões.
  - Alícia vamos! - Mallya tentou me encorajar enquanto me incentivava a levantar e eu coloquei as mãos no pescoço, eu estava sem ar nenhum, quando me sentei no chão tentando puxar ar de volta pros meus pulmões, senti frio.
  As luzes voltaram a piscar, como se fossem um pisca alerta, e ao olhar para o final do corredor eu avistei elas, bem no fundo de várias portas abertas a ponto de serem consideradas escancaradas. E elas ainda sussurravam, cada vez mais baixo, mas o som de suas vozes esganiçadas pareciam penetrar minha audição e atrevessar meu crânio.
  Tentei puxar ar mais uma vez, mas eu não estava conseguindo, estava ficando desesperada, e a Mallya do meu lado tentava me ajudar, mas eu fazia ideia do que fazer, meu ar parecia preso, roubado de mim e preso em um ligar bem longe, meu coração martelou no peito, e quando pensei que não aguentaria mais a Mallya tirou a arma da minha cintura, e apontou pro final do corredor, só deu pra ouvir o disparo e então meus olhos se fecharam e eu cai deitada no piso gelado.

PRISON IOnde histórias criam vida. Descubra agora