138 - Gato Endiabrado

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  Abri a porta do banheiro, e assim que coloquei os pés pra fora do local uma rajada de vento gelado soprou meu corpo coberto pela toalha, me arrepiando instantâneamente. A janela no final do corredor estava aberta, e em cima do parapeito estava o meu gato, parado e atento a rua, compenetrado com alguma coisa.
  - Psiu. - Chamei ele e o gato virou a cabeça graciosamente para me olhar, atento aos meus movimentos. E eu tomei um susto quando percebi a cor que se manifestava em seus olhos. Estavam amarelados como os olhos de uma cobra, será que esse gato está normal? Me indaguei engolindo em seco já que a questão de minutos atrás quando me olhei no espelho eu percebi que meus olhos estavam numa cor estranha, o castanho estava um pouco mais claro, porém nada assustador e sinistro que nem os olhos do gato estavam agora. A associação me deixou intrigada. Isso era muito estranho já que eu sempre estive acostumada a ver os olhos do gato levemente azuis, claros.
  - Você tá possuído? - Perguntei olhando pra ele e o gato desceu da janela num salto para dentro da casa, não parecia estar possuído, me olhando curiosamente enquanto se aproximava pedindo carinho, parecia apenas ser o meu gato normal, porém com os olhos diferentes.
  - Pelo visto você também está com problemas né. - Comentei pegando ele no colo, e então fui para o meu quarto, ignorando a janela aberta no final do corredor onde ficava ao lado do quarto dos meus pais.
  Vesti roupas confortáveis, e depois de passar alguns minutos brincando com o gatinho, me encaminhei para a cozinha, onde fiz lanches para mim e para o gato, e enfim eu fui pro escritório do meu pai trabalhar no caso. Me dedicando horas seguidas em ler e reler os depoimentos e informações que haviam sobre o caso, desde o primeiro assassinato até o quarto, todas as mortes, e os significados das flores, até o cansaço começar a guerrear comigo.
  Esfreguei os olhos irritada, o sono realmente estava vencendo, mas eu não queria dormir, precisava investigar, mas ao voltar meus olhos para os montes de papéis sobre a mesa as luzes se apagaram, me impedindo de continuar a ler. Suspirei pra não ter um ataque, já estava escuro e eu precisava de luz pra conseguir ler, e sem luz não dava pra fazer nada!
  Encostei as costas na cadeira e olhei a sala ao redor, apenas contemplando o breu que se sustentava por todo o local, meu coração começou a bater, preenchendo aquele silêncio matador, e eu passeei as mãos pela mesa, procurando meu celular, eu tinha uma noção de onde ele estava, porém estava mais difícil do que o esperado para encontra-lo. Com mais alguns segundos de insistência eu finalmente toquei nele, mas quando fui pegá-lo senti alguém agarrar meus dedos, os dedos da pessoa estavam molhados com um líquido morno, meu coração disparou e eu arquejei, puxando o celular junto da minha mão para perto do meu peito assustada. Pensei em dizer alguma coisa, eu sabia que não estava sozinha no escuro, mas ao invés disso acendi a luz do celular, e em seguida a lantarna, mas não vi nada, mirei a luz da lanterna para os meus lados, e a minha frente, me levantei da cadeira e continuei buscando sinal de vida com a lanterna, mas eu não enxergava nada além de mim naqule escritório, então se eu estava sozinha, quem tocou minha mão? Eu estava ficando ofegante, sentindo aquela sensação familiar começar a invadir minha mente e corroer minha sanidade mental, tão desesperadamente que poderia me afogar, era medo.
  Olhei pra minha mão onde tinham me tocado, e notei que meus dedos estavam cobertos com sangue, sangue ainda quente. Meu coração disparou de uma vez, e eu começei a ofegar, com os ombros tensionados de medo.
  Eu precisava sair dalí, se tinha alguém ali eu precisava sair, antes que algo surgisse pra me pegar. Com calma, e tentando não cair ou sair correndo de uma vez, eu respirei fundo e andei até a porta, sentindo um peso sobre mim, como se estivesse sendo observada, e quando abri a porta do escritório, apenas uma fresta para ver o que havia do lado de fora, eu vi a janela aberta no final do corredor, de alguma maneira que eu não entendia eu não estava mais no escritório do meu pai, mas sim no banheiro, e tudo estava escuro ao meu redor. Havia apenas a claridade mínima do meu celular.
  Olhei novamente pra janela, parecia haver algo ali no final do corredor, e depois de procurar bem, consegui enxergar uma moça de costas pra mim, as mãos dela estavam cobertas com um líquido escuro, que pingava no chão, parecia sangue. E ela usava um vestido branco, sujo e rasgado que ia até seus pés.
  De repente escutei um barulho atrás de mim, e tirei os olhos dela por um instante por causa do susto, e quando olhei na direção dela novamente ela não estava mais lá.
  Meu coração acelerou mais, pra onde ela foi?
  - Você tem medo do escuro? - Escutei uma respiração alterada atrás do meu pescoço, e sua voz tomar meus ouvidos, e quando me virei assustada, uma criatura esquelética rasgou a minha barriga com uma foiçe.
  Me engasguei com o susto, e coloquei as mãos no ferimento, sentindo o sangue quente vazar entre meus dedos.

PRISON IWhere stories live. Discover now