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KATRINA

[...]

Dois dias se passaram e eu já estava desistindo, mas ao mesmo tempo algo em mim pedia pra que eu não voltasse.

Durante o dia eu caminhava pela cidade, ao escurecer eu dormia eu um desses quartos de pensão meia boca, aquele lugar era nojento, tinha baratas e eu jurava ter visto um rato no banheiro!

Eu precisava desesperadamente de um banho, era minha última muda de roupas limpas e eu já havia me arrependido de ter deixado o meu perfume em casa.

Emprego era fora de cogitação, pois eu não tinha residência e nem ao menos referências, e não daria pra viver com um salário mínimo, os custos de vida estão pra lá de altos!

Só de pensar nisso eu já me desesperava.

Já era madrugada, eu caminhava em passos largos e rápidos pelas ruas desertas, toda vez que via um carro ou moto já entrava em estado de alerta, só o que faltava agora ser estuprada por outro monstro. Senti um pingo gelado cair sobre minha face, olhei para cima e vi que começava a chover.

-Ótimo! -Murmurei raivosa enquanto colocava minha toca e apressada o passo.

O que eu iria fazer agora?

Estava frio e agora chovia, e pra piorar eu tinha apenas uns quinze reais no bolso.

A chuva piorou ainda mais, então optei por parar e esperá-la passar, seria o mais sábio a fazer, corri ate a marquise de uma loja de roupas e me abriguei ali enquanto observava a chuva cair sem dó.

Meu estômago roncou, fechei os olhos e respirei fundo, eu não iria esperar até o dia seguinte para poder comer, então lembrei-me de uma lanchonete 24 horas que ficava a poucas ruas dali, voltei a colocar minha touca e fui até essa lanchonete.

Cheguei lá completamente encharcada, meus cabelos estavam pingando.

-Boa noite. -Uma atendente sorriu simpática. -Que chuva, hein? -Assenti e dei um breve sorriso. -O que vai ser?

-Um lanche natural e um suco. -Ela assentiu.

Sentei naqueles bancos que ficam acoplados no balcão, observei que tinha um bêbado mal encarado ali, peguei minha mochila e caminhei até o fundo da lanchonete, sentei em uma das mesas e coloquei a mochila em meu colo.

Apoiei minhas mãos na mesa e olhei para frente, só então percebi a presença de três homens, elas pareciam estar animados, conversavam, jogavam batata frita um no outro e davam altas gargalhadas.

A lanchonete estava freqüentada por eles, o bêbado nojento e eu.

Olhei para o relógio que ficava próximo ao caixa e vi o motivo do local estar tão vazio, já era 2:33hrs da madrugada.

Voltei há fitar os três homens, foi então que o mais velho deles me pegou no fraga e deu uma risadinha falando algo para os outros dois que também olharam para trás, senti meu rosto corar e tentei disfarçar olhando para as minhas mãos.

-Oi. -Levantei o olhar e dei de cara com o motivo da minha vergonha. -Posso me sentar? -Dei os ombros ele puxou a cadeira, sentando na mesma. -Sou Henric, e você é? -O encarei e nada respondi, eu não confiava nele, eu o acabei de conhecer. -É muda? -Ele perguntou com sarcasmo.

Nesse momento a garçonete chegou com meu pedido, me remexi para pegar o dinheiro no bolso da calça quando uma nota de cinqüenta vôo na mesa.

-Não precisa, eu tenho dinheiro! -Falei aborrecida enquanto mostrava o dinheiro amassado em minha mão.

-Eu insisto. -Ele piscou, depois encarou a garçonete e fez um gesto com a cabeça para ela sair, e assim ela fez, apanhou a nota de cinqüenta e murmurou um obrigada silencioso.

-Eu não preciso de caridade. -Arrastei minha mão na mesa e segurei a sua, abrindo a mesma e colocando uma nota de dez reais. -Fui um gesto muito gentil, mas realmente não preciso.

Ele sorriu torto e segurou meu pulso, abrindo minha mão e voltando a colocar a nota.

-Relaxa, loira... -Bufei e peguei meu lanche, peguei um guardanapo e comecei a devorá-lo rapidamente, ignorando a presença do estranho que me assistia atentamente.

EVAWhere stories live. Discover now