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KATRINA

Ficamos conversando sobre coisas aleatórias durante todo caminho, adorava isso no Pedro, a forma como ele me tratava... Era a coisa mais próxima do que eu poderia chamar de amigo.

Ele não me julgava ou perguntava sobre coisas indiscretas, apenas falávamos sobre o tempo, sobre política ou até mesmo da nossa cor favorita... Menos da minha “profissão”, e isso de certa forma, me confortava, era como se naquele momento, eu fosse uma garota que pediu carona pra um amigo.

Assim que desci do carro, agradeci o Pedro balançando a cabeça e o molhando com a água dos meus cabelos, ele me xingou de todos os nomes possíveis, mas acabou rindo no final.

Ao entrar em casa, o breu tomou conta da minha visão, nenhuma luz acessa, Pedro entrou logo atrás e foi acendendo tudo.

-Estou com fome. –Falei passando a mão na barriga.

-Agora que você fala? Poderíamos ter passado em algum lugar e ter comprado algo... Mas serio, falando nisso, agora bateu uma fome também... –Sorri e olhei a hora no relógio redondo que ficava no corredor, marcava 3:45 da madrugada, nenhuma pizzaria estaria aberta essa hora.

Pedro garantiu que conhecia uma lanchonete que fazia lanches ótimos, e essa hora deveriam estar funcionando, não o questionei.

Sentei no sofá e tirei o salto, passando as mãos pelos meus pés doloridos.

Que noite... Eu estava com sono, mas a fome falava mais alto, então iria esperar pelo Pedro.

Ouvi algo cair no chão, levantei e ouvi que o barulho veio do quarto onde Kenedy dormia, ele deveria estar acordado... Uma ótima oportunidade para conversar com ele.

Bati na porta algumas vezes, ouvi uma conversa e segundos depois, Kenedy abriu uma fresta, encarando-me por ela.

-O que é? –Ele falou grosseiramente.

-Posso falar com você? –Ele ficou em silêncio. Suspirei. –Preciso de pedir um favor, Kenedy... –Ao ver sua cara nada amigável, continuei. –É importante... Por favor! –Ele não disse nada outra vez, apenas me encarava, como se estivesse pensando em algo.

Vi uma movimentação no quarto, e olhei através de seu ombro, vi que Morgana estava na cama, enrolada no lençol... Que momento memorável pra se humilhar perante ao tirano vulgo Kenedy e de quebra, assistir tal terror em 3D.

–Kenedy? –Falei e pra minha surpresa, ele fechou a porta na minha cara, encarei a mesma ainda sem entender... –O que? –Murmurei sem entender.

Dando-me por vencida, virei as costas e quando estava saindo completamente arrasada, ouvi a maçaneta da porta virar, fiz o mesmo dando de cara com o Kenedy, ele estava ajeitando a calça que havia acabado de vestir...

–Serio isso? –Perguntei frustrada. –Já estreou a cama com a Morgana? –Fiz uma careta. –Vestiu a cueca pelo menos? –Ele balançou a cabeça rindo, mas logo sua postura dura tomou conta.

-O que você queria pedir? –Ele falou, fingindo não estar interessado.

-Que você me livre do Matheus... –Pra minha surpresa, Kenedy sorriu, sorriu como se eu tivesse lhe entregado um grande prêmio.

-Sério? –Ele ainda sorria.

-Sim... –Passei a mão no rosto, talvez de cansaço ou até mesmo em sinal de impaciência, nem eu mesma sabia.

-Porque disso agora? –Ele perguntou desconfiado.

-Sei lá... –Dei os ombros. –Já não vejo graça nele quanto antes, se tornou meio que exaustivo. –Falei tentando soar indiferente, mas Kenedy não era burro, desse jogo ele era um venho jogador, e não seria eu, uma mera iniciante que iria enganá-lo.

-O que aconteceu, Katrina? –Olhei pra baixo e fechei os olhos, lembrando de tudo o que “aconteceu” até agora, tentando achar uma resposta para eu estar pedindo aquilo, meu cérebro me alertava, pra que eu tomasse cuidado, ficasse distante do Matheus...

E já meu coração... Ah, meu coração! Pedia, esperneava, gritava, para que eu ficasse o mais perto possível do Matheus.

E bem, eu tentei fazer o que o meu coração pediu, e só levei bomba em troca, e se eu continuasse insistindo nisso, me machucaria ainda mais, e isso eu já não poderia suportar, minha vida sempre foi uma grande tristeza, cercada de melancolia e injustiça, eu não ficaria submissa a ele, que ele se dane!

Em primeiro lugar eu me escolheria.

–Responde, Katrina! –Kenedy me balançou, arrancando-me dos meu devaneio.

-Nada... Eu só não quero que ele ache que manda em mim, que é meu dono... Pois a única dona de mim, sou eu mesma! –Falei. –E eu não estou mais suportando conviver com ele. –Kenedy escutou-me com atenção enquanto me olhava de forma bem intensa, talvez procurando um rastro de culpa, mas mantive a minha postura, fria e indiferente. Por fim ele respirou fundo e passou a mão na nuca.

-Tudo bem... –Ele olhou para os lados. –O que eu ganho em troca? –Ele perguntou com um sorriso malicioso.

Que asqueroso! Mas novamente, tive que agir como uma sobrevivente, então sorri e me aproximei dele, envolvendo minhas mãos em sua nuca e sorrindo de maneira convidativa, me apoiei em seus ombros e tentei alcançar sua orelha, cochichando algo.

-O que você quiser. –Sussurrei e afastei-me um pouco, ganhando seu olhar fixo em mim.

-O que eu quiser? –Ele repetiu e eu assenti. –Pois bem... Farei o que você está me pedindo, juntarei o útil ao agradável e irei me livrar do Henric e de quebra desse cara. –Meu sorriso se desfez rapidamente.

-Se livrar? Como assim? –Perguntei desesperada. Kenedy sorriu e voltou a me puxar pra perto dele, segurando meu queixo e aproximando sua face da sua.

-Se livrando... –Ele sorriu ironicamente. –Te prometo que em no máximo um mês, tanto os seus problemas quanto os meus estarão resolvidos, Katrina. –Ele acariciou meu rosto, eu não conseguia nem piscar de tão alarmada que eu havia ficado. –E então, irei cobrar o que você acabou de me prometer. –Ele deu-me um beijo rápido, no qual nem tive o tempo nem vontade de corresponder. –Boa noite. –Ele disse e enfim me soltou, atravessando o corredor e voltando ao quarto, deixando-me sozinha e cheia de duvidas... “se livrar”, “desse cara”, “farei o que está me pedindo”.

Eu não quero isso! Não quero o mal de ninguem, não há esse ponto, talvez do Pietro.

No entanto, jamais pediria que ele cometesse algum mal ao Matheus.

EVAWhere stories live. Discover now