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KATRINA

-Desculpa, Henric... –Pedi.

-Você é minha boneca de porcelana, Katrina... É valiosa pra um colecionador como eu, não tem preço, é inestimável, mas não insubstituível, entendeu? –Fiquei calada. –Você é muito rara pra mim. –Ele inclinou meu rosto ainda me encarando. –Mas é frágil também, se cair pode quebrar-se por completo, e eu não quero que esse rostinho perfeito... –Ele tocou meu queixo. –Se quebre. –Entendi perfeitamente o seu recado, ele havia acabado de me ameaçar de um jeito bem medonho e claro. –Estamos entendidos, Katrina? –Assenti freneticamente e ele sorriu cinicamente. –Ótimo... –Ele tirou a mão do meu rosto e virou-se, caminhando pela sala. –Eu deveria te mandar por pelo menos dois para a boate.

-Não, Henric, por favor... –Pedi assustada. –Faço o que você quiser. –Ele virou e me encarou com um sorriso nos lábios.

-Só não mando você pra lá porque posso perder muito dinheiro, e eu já tenho vários acompanhantes pra você, sua lista é ampla. –Respirei aliviada. –Contudo, você não vai ganhar absolutamente nada pelo seu programa hoje. –Meu sangue ferveu, eu pisquei algumas vezes.

-O quê? –Perguntei abismada.

Foi o programa mais difícil que eu já fiz e o infeliz ainda teria a coragem de não me pagar? Isso era injusto!

–Isso não é justo... –Murmurei enquanto o encarava.

As meninas me olhavam alarmadas, como se estivessem dizendo “Cala a boca”, “Não reclame”. –Eu fiz o que deveria, você tem que me pagar. –Falei e ele sorriu.

-Eu não tenho nada! –Ele falou sadicamente. –Eu não tenho obrigação nenhuma com você, eu sou o seu dono, e faço o que bem entender com você... –Ele passou a mão pelo cabelo. –E é melhor você ficar quietinha, pois já me estressou demais por uma noite, não me aborreça ainda mais. –Ele falou entediado.

Eu olhei para o chão e tentei engolir as lagrimas que queriam vir a tona, engoli o orgulho inexistente e ergui minha cabeça.

-Acabou então? –Perguntei e ele balançou a cabeça.

-Katrina... –Repreendeu-me.

O encarei por alguns minutos, e depois cruzei os braços, seguindo em silencio até o quarto.

Tirei o salto e joguei em um canto qualquer, eu não guardaria nada naquela noite, não mesmo!

Joguei-me na cama de bruços e enfiei o rosto no travesseiro, gritei de frustração e depois ergui a cabeça recuperando o fôlego... Eu odiava a vida que levava, odiava com todas as forças.

Em apenas uma noite eu fui humilhada de todas as formas possíveis, e eu tinha que aturar tudo, pois não tinha pra onde ir, nem com quem contar... Passei a mão pelo rosto, fechei os olhos e suspirei pesadamente tentando pensar em algo bom ou em alguma saída.

-Quem eu estou querendo enganar... Essa é a minha vida. –Sussurrei frustrada e virei para o lado, encarando a escuridão do quarto, até pegar no sono.

Acordei na manhã seguinte com o som de gargalhadas, pisquei algumas vezes tentando me acostumar com a luminosidade que invadia o quarto.

Não tinha dormido nada aquela noite, tive pesadelos confusos e complexos, me remexi a noite inteira e a roupa que eu havia dormido não me dava um conforto adequado, fora a dor de cabeça... Definitivamente hoje não seria meu dia.

Sentei-me na cama e encarei meus pés, as gargalhadas vinham da sala e eu não tinha a mínima curiosidade de saber o motivo de tamanha alegria.

Levantei-me com uma preguiça incontrolável, praticamente tive de me arrastar até o banheiro, fechei a porta e liguei o chuveiro, tirei a roupa da noite passada e joguei em um canto qualquer, entrei debaixo d’água e respirei fundo ao sentir o frescor que consumia o meu corpo.

Depois de um banho bem tomado, fui até o meu baú e peguei uma roupa qualquer, me vesti e penteei meus cabelos sem pressa alguma.

-Bom dia, flor do dia! –Valentina falou sorridente assim que desci o ultimo degrau e entrei na sala. –Quer dizer... –Ela virou e encarou o relógio, voltando a atenção a mim. –Boa tarde!

-Boa tarde. –Falei sem emoção e sentei na bancada, observando sem muita atenção o que ela fazia.

-Já estou terminando o almoço... –Ela falou e virou para a pia.

-Quer ajuda? –Perguntei torcendo para ela negar, mas como hoje os astros se justaram para ferrar comigo, ela aceitou minha ajuda.

-Seria ótimo! –Ela respondeu sorridente.

EVAМесто, где живут истории. Откройте их для себя