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KATRINA

Pedro voltou cerca de meia hora depois, trouxe com ele lanches e refrigerantes.

Entrei praticamente em modo automático enquanto Pedro conversava comigo, apenas concordava e hora ou outra sorria, se me perguntasse o que ele havia dito, não saberia dizer.

Apenas não conseguia tirar as palavras do Kenedy de minha mente, se algo acontecesse com o Matheus por um capricho meu...

Eu não saberia o que iria fazer, talvez a culpa me consumisse e eu tivesse coragem enfim de fazer o que deveria ter feito desde o inicio, me jogar de alguma passarela ou coisa assim, sempre fui fraca, mas se Kenedy machucasse alguém por minha culpa...

Eu tiraria coragem pra fazer tal loucura. Pedro foi dormir, provavelmente Camila estaria no quarto e dormiria com ele, deixei a louça na pia e subi rapidamente as escadas.

Tomei outro banho, mas diferente do outro banho, aquele na casa do Matheus, demorei meio século pra sair, com certeza Greenpeace me odiaria por gastar tanta água, mas eu precisava tirar aquele fardo de cima de mim, ou pelo menos tentar.

Na manhã seguinte, já amanheci exercendo meu plano: reclamei de dores o dia inteiro, fingi inúmeros sintomas.

Eu sabia que o Matheus iria telefonar para o Henric e pediria a minha presença, eu teria que me virar.

Passei o dia na cama, aquilo era tedioso, mas minha única opção de se livrar do Matheus... Valentina até fez um chá que tinha um gosto terrível, eu não estava enjoada, mas foi só beber aquilo e quase minha alma vôo pra fora, talvez fosse um castigo por fingir tal coisa.

-Logo vai passar... –Valentina falou recolhendo o copo enquanto me olhava desconfiada.

-O que foi, Valentina? –Perguntei impaciente.

-Nada... –Ela falou ainda me olhando.

-Fala logo! –Falei.

-Esse seu enjôo... Será que não é a... –Levantei abruptamente, enquanto segurava o riso e olhava para os lados.

-Ficou maluca? –Perguntei rindo. –Isso é só fingimento... –Cochichei. –Tenho um cliente hoje, e eu não quero vê-lo. –Ela suspirou e acabou rindo.

-Caramba... –Ela tocou o peito. –Que susto! –Ela sentou-se na beirada da cama. –As meninas estão pensando a mesma coisa que eu... –Ela falou, eu apenas dei os ombros.

-Deixa elas pensarem o que quiserem, não me importo. –Falei indiferente. –Henric não vai me liberar, então... –Revirei os olhos. –Preciso recorrer a mentira.

-Entendo... –Valentina sorriu tristemente. –Está tudo bem entre a gente? –Ela respirou fundo. –Eu não queria que ficasse irritada comigo por conta da Joice, eu não apoio o que ela fez... Mas o que eu poderia fazer?

-Sei lá, Valentina... –Passei a mão em meu cabelo. –Tentasse fazer qualquer coisa, mas você não fez.

-Eu sei, não estou certa, mas também não sou a culpada. –Ela falou.

-Você fez todo aquele discurso sobre amizade, irmandade e fizeram isso comigo logo na primeira oportunidade! Como eu ia adivinhar que aquela perturbada era afim do Kenedy? –Dei os ombros. –Eu não dou a mínima... Se ela quiser, pode ficar com ele, namorar ou até casar, isso não interfere em nada na minha vida! Eu só vou juntar algum dinheiro pra que eu comece a trilhar a minha vida, depois eu me mando daqui. –Me endireitei na cama e a encarei. –Eu não quero isso pra minha vida. –Falei.

-Qual seu sonho, Katrina? –Valentina perguntou curiosa.

-Ter a minha casa, um emprego... Uma vida normal, sabe? –Falei enquanto olhava as minhas mãos. –Quem sabe casar, ou até mesmo ter filhos, ser a figura materna que tanto me fez ou faz falta. –Fechei os olhos e deixei que algumas lagrimas caíssem.

Valentina se aproximou e me abraçou-me fortemente, exitei um pouco, mas logo acabei cedendo e a abraçando também, eu precisava disso, precisava de uma abraço, de uma pessoa que tivesse no mínimo algum afeto por mim.

Acho que ficamos uns cinco minutos assim, praticamente encharquei a sua blusa de seda com as minha lágrimas.

Quando finalmente nos separamos, ela sorriu de forma sincera, e eu fiz o mesmo.

–Obrigada... –Murmurei enquanto limpava meu rosto com a manga de minha blusa.

-Eu tenho que ir me arrumar, logo eu tenho um cliente... –Ela falou naturalmente, aquilo talvez já nem abalasse a Valentina. –Você vai ficar bem? –Assenti e tentei sorrir.

-Vai lá. –Ela assentiu e levantou, pegando uma toalha e indo até o banheiro. Deitei novamente e encarei a parede, fechei meus olhos e tentei dormir.

-Katrina? –Pedro adentrou no quarto e veio até minha cama, virei e o encarei.

-Oi? –Cocei os olhos, fingindo que havia acabado de acordar.

-Se arruma... –Ele não estava a vontade fazendo isso, talvez pensasse que eu realmente estava mal.

-Eu não estou bem... –Falei fingindo estar com dores.

-Eu já falei com o Henric, até o Kenedy falou... E não teve jeito. –Ele passou a mão na nuca.

-Pedro... –Pedi.

-Sinto muito, Katrina... Se arruma no seu tempo, depois eu te levo lá, pode ser? –Ao ver que não tinha saída, suspirei e assenti, sentando na cama e o olhando.

-Só não vale passar mal no meu carro, beleza? –Ele falou, arrancando-me um sorriso.

-Sai daqui. –Joguei um travesseiro em sua direção, ele desviou e saiu do quarto rindo.

É, eu não tinha escolha, teria que ir encontrá-lo, mas eu faria do meu jeito, se ele não queria me libertar por bem, faria ele me liberar por mal.

EVAWhere stories live. Discover now