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KATRINA

-Terminar? –Ele balançou a cabeça e acabou sorrindo, sorrindo como se eu tivesse contado uma piada sem graça.

-Eu sei que não temos um relacionamento comum, ou se temos um relacionamento... –Comecei a atropelar as palavras. –Acho que você me entendeu... –Falei e Matheus balançou a cabeça.

-Entendi. –Ele falou e novamente ficamos em silêncio por longos minutos. Tínhamos muito a falar, só que a coragem faltava de ambas as partes. –É complicado, sabe? –Ele falou e virou a cabeça para me encarar, fiz o mesmo que ele, o encarei.

-Como assim? –Falei mesmo entendo o contexto.

-Essa situação é muito complicada. –Ele falou. –Eu sinto que não consigo ficar sem você, em outro momento, sinto que não consigo ficar perto de você... Você me sufoca, cobra muito de mim. Pede coisas que eu não sou capaz de conseguir suprir. –Ele falou de forma exausta. –É tudo muito frustrante. –As palavras de Matheus deixaram-me sem chão.

De certa forma, aquilo era um fim. Meu coração estava acelerado, parecia que ia saltar pela minha boca, escondi minhas mãos abaixo das minhas pernas, pois elas tremiam muito. Matheus continuava a me encarar, parecendo esperar uma resposta de minha parte, resposta essa que eu não conseguia dar, não conseguia ao menos falar um “tudo bem”, pois tenho certeza que na primeira sílaba... Eu me perderia em lágrimas, e a última coisa que eu queria naquele momento era chorar.

–Eu te amo, Katrina... Eu já falei isso, já tentei demonstrar. –Ele passou a mão pelo rosto. –Você quer um Matheus diferente, quer um Matheus que eu não sou, que eu nunca vou poder ser. –Cada palavra dele era como um tapa, abaixei a cabeça e encarei minhas pernas.

-Eu sempre vou esperar mais das pessoas, Matheus. –Falei. –Talvez esse seja meu pior defeito. –Ergui a cabeça para encará-lo, o mesmo estava com o olhar fixo em mim, sorri de forma fraca e continuei. –Eu sempre assisti a vida passar por mim, e eu inocente achei que agora daria certo, quer dizer... Achei que você fosse o cara certo. Mas você espera uma Katrina que eu também não posso ser. –Suspirei pesadamente. –Eu não vou insistir nisso, você já tem sua opinião formada, Matheus, e de certo ponto, eu também tenho a minha... E nesse momento, eu não pretendo mudá-la. –Inclinei a cabeça para o lado e continuei a olhá-lo. –Eu me agarrei em você como se fosse uma tábua de salvação... E isso foi errado desde o princípio.

-Katrina... –Ergui a mão e pedi para que ele se calasse.

-Está tudo bem. Eu vou ficar bem. –Tentei sorrir.

-O que quer dizer? –Ele perguntou meio atormentado.

-Você já disse por nos, Matheus. –Falei enquanto me levantava da cama.

-O que eu disse? Que era complicado? –Ele levantou, circulou a cama e veio ao meu encontro.

-Matheus, não... –Dei alguns passos pra trás. –Vai ser melhor assim. –Caminhei até o armário e me apoiei na porta para pegar minha mochila. Matheus veio até mim e tomou ela de minhas mãos. –Matheus! –Falei tentando pegá-la de volta.

-O que pensa que vai fazer, Katrina? –Ele perguntou alterado. –Vai ir embora?

-Devolve minha mochila, por favor. –Pedi, mas meu pedido não foi atendido.

-E vai pra onde se sair daqui? Vai voltar para aquele lugar que te custou tanto a sair? –Ele perguntou aumentando o tom de voz.

-Eu consegui me virar a vida inteira, Matheus... Essa não vai ser nem a primeira, e com certeza não será a última. –Falei e ele balançou a cabeça negando.

-Você não vai ir embora. –Ele se afastou com a mochila e continuou me encarando. –Eu não vou deixar você fazer essa grande bobagem.

-Eu não vou voltar pra lá! –Falei.

-Então pra onde você vai? –Ele perguntou com certa irônia. Ergui a cabeça e tentei respondê-lo com desdém.

-Eu não sei, só sei que não vou pra lá.

-Como se eu fosse acreditar. –Ele ironizou da mesma maneira.

-EU NÃO VOU! –Falei aumentando meu tom de voz. –E mesmo que eu fosse, não seria da sua conta. –Respondi de maneira desaforada.

-Você não sabe se cuidar, Katrina. –Matheus falou como se fosse óbvio.

-E você? –Perguntei. –Sabe cuidar de mim? –Falei petulante. –Quando precisei de você essa noite, você estava ocupado demais com sua ex namorada. Namorada essa que te trocou pelo seu irmão! –Eu estava passando dos limites, eu sei... Mas era tarde demais para recuar.

-Cala a boca, Katrina... –Ele falou num tom de alerta.

-Não sabe lidar com a verdade? –Falei sorrindo. –Só você pode ser o dono da razão? –Me aproximei dele. –Você deveria estar acostumado a ser trocado pelo Henrique... –Seu olhar passou de irritado, para furioso... Conseguia sentir sua fúria, mas não me contive. –Primeiro por sua mãe, e depois pela sua namorada... É triste não é? Nem sempre você pode controlar as coisas com esse seu jeito tosco de ser e... –Matheus afastou-se de mim, como se eu tivesse queimado ele, afastou-se tão rápido que eu mal tive tempo de me calar. Caminhou até a janela aberta do meu quarto, eu conseguia ver seus punhos cerrados. Ele com certeza havia se afastado para não cometer alguma besteira, quer dizer, eu o irritei. Toquei em sua ferida mais dolorosa.

-Quer ir embora? Então vai! –Ele falou sem me olhar. Permaneci parada, atônita aos últimos segundos, do que aquela simples conversa havia se transformado. –VAI! –Ele gritou fazendo com que me assustasse.

EVAOù les histoires vivent. Découvrez maintenant