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KATRINA

Não sei por quanto tempo ficamos assim, Matheus de costas para mim e eu agarrada nele como se estivesse presa. E de certa forma, eu estava.

Notei que alguém passou ao nosso lado, inclinei minha cabeça para o lado e vi que era o Eduardo, que provavelmente havia se irritado pelo fato de ser ignorado por mim e de quebra ter ganho o “bônus” de presenciar esse meu momento com Matheus. E lá estávamos, sozinhos, com tanto a falar e com tanto receio de começar.

-Vamos subir. –Matheus disse segurando em minha mão e andando um pouco a minha frente. Eu o segui, obviamente. Eu o seguiria para onde ele quisesse me levar. Simples assim!

Subimos os lances de degraus sem trocarmos palavras ou olhares, Matheus apenas segurava minha mão de maneira firme. Assim que chegamos ao segundo piso, caminhamos até a pequena sacada que ali existia, só então ele soltou minha mão.

–E então? –Ele falou depois de um longo silêncio. –O que queria conversar comigo? –Matheus apoiou seus braços na mureta e olhou para frente. Eu olhei para ele, depois para minhas mãos que tremiam. Eu havia ensaiado tanto para esse momento... E agora todas as palavras haviam sumido de minha mente em uma fração de segundos. Eu abria a boca constantemente, mas nada saia dela. Droga! E de repente, um clima tenso e insuportável tomou conta do ambiente, o silencio que nos afastava chegava a sufocar-me.

-Foi aqui que nos conhecemos... –As palavras escaparam de minha boca, Matheus então, virou a cabeça para me encarar, seus olhos azuis demonstravam surpresa, e posso jurar que um sorriso espontâneo nasceu em seus lábios, mas o Matheus ogro que ali existia, tratou de escondê-lo, tornando a me encarar com uma postura indiferente. –Quer dizer, nesse prédio. –Falei e tentei sorrir, meus lábios tremiam, e não era de frio.

-Essa era a conversa tão importante? –Matheus se pronunciou depois de uma longa pausa. Suas palavras, seu tom, sua postura... Me atingiram como um tapa. Mas eu não estava disposta a desistir, já agüentei comportamento muito pior vindo dele.

-Eu sei o que você fez por mim. –Falei. –E eu quero que você saiba que sou muito agradecida. –Matheus não demonstrava reação alguma.

-Eu não sei do que está falando. –Ele falou enquanto dava os ombros.

-Pedro me contou tudo... –Insisti. –Agora entendo o seu comportamento comigo naqueles dias, entendo sua preocupação... Entendo tudo. –Falei e suspirei.

-E? –Matheus sorriu torto, como se ainda não entendesse minha presença ali.

-E eu queria te agradecer. Agradecer por tudo o que fez por mim, por ter me proporcionado tantas coisas, tantos sentimentos e... –Matheus me interrompeu.

-Ok. Já agradeceu. –Ele falou com uma incrível frieza.

-Por que está me tratando dessa maneira? –O encarei. Meu peito arfava de tanto que eu respirava fundo, eu tentava a todo custo me manter firme.

-Por que? –Ele perguntou com ironia. –Você disparou centenas de palavras onde você nem ao menos sabia do que se tratavam metade delas... –Ele me encarou fixamente. –E depois disso foi embora. Foi embora mesmo sabendo da minha posição diante disso, mesmo sabendo o que eu sentia por você... Você simplesmente foi embora. Você me abandonou. –Matheus cuspiu as palavras completamente transtornado e cheio de ressentimento. Pela primeira vez, vi que a guarda dele havia sumido, dando espaço a um Matheus que eu jamais pensei que iria ver. Havia dor em seu olhar, ele respirava fundo, provavelmente tentando se conter.

-Eu já pedi desculpas! –Falei.

-Desculpas? –Matheus repetiu irônico enquanto passava as mãos em sua nuca. –Eu estava disposto a abrir mão de tudo por você se assim fosse preciso, Katrina! E o que você tem a me falar é que “já pediu desculpas”?

-Eu agüentei muita humilhação desnecessária, Matheus... Fiquei firme ao seu lado pois te amava! Amava não... Amo! –Ergui minha cabeça para encará-lo. –Aguentei coisas que muitas mulheres por aí não aceitariam. E se alguém me perguntar... Me perguntar se eu me arrependo de algo, falo de imediato que não! Passamos por muitas coisas juntos e nenhum lado abriu mãos diante dessas dificuldades, pois acredito que o sentimento era mutuo. Mas acho que algo mudou em sua mente, não é? Pois suas palavras indicam que você já me expulsou de sua vida, assim como fez quando me expulsou de sua casa.

-Você quis sair. –Ele falou.

-Eu sou mulher, Matheus! Eu queria que você me abraçasse e me impedisse de sair dali, mas você não fez isso...

EVAWhere stories live. Discover now