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KATRINA

-Katrina, espera... –Ele tentou me segurar, foi em vão, pois eu estava com uma angustia sem fim. Em uma única noite fui: maltratada por Ester, trocada por Melinda, ganhado o título de imprudente perante a Sophia e ainda o encontro desastroso com o Pietro. Noite pior não existia.

Uma vontade de sair dali correndo sem rumo tomou conta de mim, mas sejamos práticos Katrina... Para onde eu iria depois que esse “surto” acabasse? Eu não poderia voltar pra casa, pois o problema morava lá, não poderia voltar pra minha “segunda casa”, pois o Diabo na terra tomava conta do pedaço... Eu não tinha pra onde ir, e nem com quem contar. Eu estava sozinha! Essa era a verdade.

-Droga, Matheus! –Falei frustrada. –Você estragou tudo! –Virei para encará-lo, seu olhar estava sem expressão, não conseguia presumir o que ele estava pensando.

-Estraguei o que, Katrina? –Matheus falou impaciente. –Eu já disse inúmeras vezes que só conversei com ela. Eu não posso te fazer acreditar, isso vai de você. –Ele falou de uma maneira indiferente, como se não ligasse para o que eu pensava. Talvez fosse essa a verdade, talvez ele não se importasse.

-Você não se importa! –Falei com a voz embargada. –Acha que só por que me tirou daquele inferno, é o herói... Você está muito longe de ser um herói! –Falei.

Matheus cruzou os braços e se apoiou em um balcão de madeira que ficava na cozinha, e logo sorriu com desdém. Eu odiava quando ele fazia isso, me olhava como se fosse superior, como se eu não fosse ninguém.

-Eu nunca me achei um herói por te tirar de lá. –Ele falou. –Eu te fiz um favor. Apenas isso.

-Apenas isso? –Minha voz saiu baixa, como um sussurro. –Você age como se eu não fosse nada, Matheus! Sua indiferença acaba comigo... –Eu lutava para não chorar em sua frente, olhava pra cima constantemente para cima tentando evitar as lagrimas.

-Eu faço o que? –Ele levantou a voz e saiu de onde estava, aproximando-se mais de mim. –Eu já confessei o que sinto por você, já fui atrás de você lutando contra o meu orgulho e indo contra tudo o que eu zelei durante esses anos, contra as opiniões de pessoas importantes pra mim... E depois de tudo isso ainda acha que eu não me importo com você?! –Ele parecia estar indignado com minhas palavras, mas eu não ligava, ele estava errado.

-E você? –Falei. –Você é preconceituoso consigo mesmo, Matheus. Não suporta o fato de aparentemente ter se apaixonado por uma... Por uma... –Abaixei a cabeça “engolindo” um soluço do meu choro eminente.

-Fala, Katrina! Tem receio de falar? –Matheus aproximou-se ainda mais de mim. –Você também tem vergonha de si mesma, não aceita o fato de ser o que é. E tenta descontar em todos a sua volta... Todos. Menos em você. –Sua voz estava alterada, seu rosto vermelho e seu maxilar travado. –A escolha disso foi feita por você! –Balancei a cabeça incrédula por suas palavras. Tentei conter o sorriso irônico em meus lábios e a vontade de chorar presa em minha garganta. Ele realmente acha que sou a grande culpada pelo fato de ter me transformado naquilo?

-Você não sabe de nada, Matheus! –Falei e virei, saindo da cozinha. Ouvi ele chamar meu nome. Não voltei, pois aquela briga não tinha sentido e nem haveria um vencedor pois a opinião dele estava formada.

Antes de voltar pra sala, parei e olhei pra cima tentando conter meu nervosismo. Logo ouvi os passos do Matheus atrás de mim, evitei olhá-lo.

-Katrina! –Ele falou baixo, mas em sua voz era possível notar um certo nervosismo.

-Vamos embora logo. –Falei sem olhá-lo. Matheus e eu íamos passar direto, pelo menos essa foi minha intenção, mas Ester correu para segurar o filho.

-Matheus, espe... –Matheus nem esperou sua mãe finalizar a frase, nossos passos apressados nos salvou de tamanha chatice.

Matheus bateu a porta da casa com força e saiu bufando. Caminhamos até o carro com certa distancia, Matheus xingava baixo, provavelmente estava xingando á mim.

O caminho pra casa foi no mínimo estranho, não trocamos palavra alguma, muito menos olhares. O silêncio dele me deixava angustiada, mas algo em mim dizia que se ele falasse alguma coisa, eu voaria em cima dele e esbofetearia aquele rosto. Foi o percurso mais longo da minha vida! Cada semáforo que parávamos, parecia durar mais de dez minutos.

Eu odiava quando ele ficava distante de mim, no entanto, naquele momento... Bom, a distância dele era tudo o que eu mais precisava.

Quando chegamos em casa, desci do carro sem ao menos esperá-lo. Assim que cheguei na sala, tirei o elástico que prendia meu cabelo sem me preocupar se ele estaria marcado ou não. Antes de subir os degraus, me apoiei na parede e comecei a tirar o salto.

-Precisamos conversar. –Ele falou cortando o silêncio. Me atrevi a olhá-lo por cima do meu ombro, ele estava sentado no sofá e encarava o teto, parecia tão exausto quanto eu.

-Acho que já conversamos demais para uma única noite. –Retruquei enquanto me abaixava para pegar meu sapato. –Boa noite, Matheus. –Falei subindo os degraus rapidamente. Fui até o quarto dele, o que dividíamos há algumas noites, olhei em volta e sorri tristemente ao pensar em como tudo o que era bom, durava pouco em minha vida. Peguei um camisa e um short e sai do quarto, hoje eu não estava disposta a dormir ao seu lado, e algo em mim dizia que ele dividia esse mesmo pensamento... Queria distância de mim, pelo menos por aquela noite.

Voltei ao “meu” quarto, e tomei um banho rápido, Pietro havia tocado em mim, e a sensação de aversão voltou a me atormentar, meus braços estavam vermelhos por conta da minha força imposta com a esponja. Quando voltei para o quarto, Matheus estava sentado na beirada da minha cama, sua fisionomia cansada transparecia de uma maneira maçante. Quando notou minha presença, ergueu a cabeça e eu pude ver seu semblante cansado e meio furioso.

-Será que podemos conversar como adultos agora? –Ele perguntou inquieto. Não respondi, apenas caminhei até a cama e sentei próxima a cabeceira, estávamos meio distantes, era até irônico pensar nisso, pois de certa forma... Sempre ficávamos distantes.

-Você vai terminar comigo? –Perguntei sem poder me conter. Era estranho perguntar aquilo, pois não tínhamos um “relacionamento” convencional, ou tínhamos? Aquilo era confuso demais.

-O quê? –Matheus pareceu ficar surpreso com a minha pergunta.

-Terminar. Terminar, Matheus! –Falei impaciente. –Você quer terminar comigo? É isso?

EVAWhere stories live. Discover now