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KATRINA

Aquilo era muito confuso. Diversas notícias pra absorver naquele momento... Coisa demais pra mim.

-Pedro... –Balancei a cabeça como se tentava esquecer essas revelações. –Vou tentar congelar essas notícias e perguntar outra coisa pra você. –Suspirei. –Tudo bem, entendo que Kenedy deve ter ficado louco com isso, mas mesmo assim não entendo o porquê dele não ter ido atrás de mim, afinal, nada o impediria de fazer tal coisa e... –Pedro me interrompeu.

-Esse tal de Matheus. –Pedro falou me encarando. –Pagou uma quantia alta para o Hector pra te manter com ele. Em segurança. –Aquilo caiu como uma bomba. Como assim? Pagou por mim?

-Lembra daquelas fotos que o Henric tirou de você? –Pedro perguntou e eu assenti. –Pois então, Hector quando chegou, fez meio que um “balanço” da herança que o irmão havia deixado pra ele. –Pedro novamente usou sua ironia em um momento errado, só que suas revelações eram tão  bombásticas, que eu deixei passar. –Ele viu sua foto e viu também quanto você gerava de lucro... Óbvio que ele queria você de volta para os negócios dele. Pois se Henric ganhou muito com você, de algum jeito ele ganharia ainda mais. Conversei com ele, e Kenedy também, a contra gosto Kenedy deu o endereço do Matheus para ele, Hector de algum modo conseguiu o telefone dele e entrou em contato pra reaver sua “preciosidade”, mas Matheus não estava disposto a ceder tão rápido, insistiu e fez diversas ofertas, Hector viu vantagem e fechou o acordo. Matheus o pagou e em troca, Hector te deixaria em paz. –Ele deu os ombros. –E com isso segurar o Kenedy para ele não fosse atrás de você.

-Eu não posso acreditar. –Falei incrédula. Agora tudo se encaixava, por isso Matheus sempre estava grudado com seu celular, por isso o comportamento estranho nos meus primeiros dias em sua casa, e o mais importante, ele nunca permitia que eu saísse sem ele, e sempre checava a sua rua antes de sair. Ele tinha receio do que Kenedy poderia fazer contra mim. Matheus havia pago pela minha segurança, pela minha vida... –Droga... –Murmurei enquanto cobria meu rosto com minhas mãos.

-Por isso estranhei da sua saída da casa dele. –Pedro revelou. –O cara parece ter estima por você, caso contrário, ele não faria isso. Fiquei sabendo que foi um dinheiro alto, Katrina. –Ele balançou a cabeça. –Não é qualquer um que faz isso. –Pedro finalizou.

Minha cabeça pulsava com as palavras que Pedro havia acabado de falar. Sim, não era qualquer pessoa que faria isso, ainda mais por uma garota como eu. Ele estava cuidando de mim, do jeito dele, mas estava.
E eu estraguei isso.

-Eu preciso ir... –Pedro falou, fazendo com que eu o encarasse. –Olha, eu tenho uma opção pra você, caso não queira voltar para casa do Matheus. –Ele inclinou a cabeça para o lado. –Quer um conselho? –O encarei e assenti. –Eu acho melhor você voltar pra casa dele. A vida aqui fora vai ser difícil pra você, Katrina. Sempre foi eu imagino, mas talvez piore, Kenedy logo vai ficar sabendo que você saiu de casa e vai te procurar... Você mais do ninguém sabe do que o Kenedy é capaz, então... Engole esse orgulho idiota e mesmo sem estar errada, peça desculpas e se entenda com o cara lá. –Pedro me encarou de maneira fixa, como se esperasse uma resposta. Resposta essa que eu não estava em condições de dar naquele momento.

-Eu errei com ele essa noite, errei feio... –Sorri tristemente. –E sabendo do que sei agora, vejo que errei ainda mais... Errei de uma maneira que talvez não tenha perdão, Pedro.

-Pra tudo tem um jeito... –Pedro falou mexendo no bolso de sua jaqueta. –Só que quem escolhe se quer consertar, se quer algo é você, Katrina. Eu dei minha opinião sobre tudo isso.

-Eu sei, e agradeço. –Falei enquanto passava a mão em meus cabelos tentando absorver tudo isso. Matheus fez de tudo para me salvar, e o que eu fiz em troca? Ofendê-lo por conta de frustrações minhas. –Esquece isso. Já foi, já era. –Pisquei algumas vezes e voltei a encará-lo. –Você disse que tinha uma solução pra mim, não é? –Perguntei, Pedro levantou e fez sinal para que eu fizesse o mesmo.

-Vem, vamos conversando no caminho. Caso eu não esteja lá em minutos, já sabe, não é? –Ele fez uma careta e mexeu em sua carteira, jogando o dinheiro sobre a mesa. Eu tinha certa expectativa para saber que “solução” era aquela, eu olhava de cinco a cinco segundos para ele enquanto caminhávamos até seu carro, Pedro parecia calmo enquanto murmurava coisas que eu não conseguia entender, ele parecia estar irritado em ter que voltar para a boate agora.

-Pedro, você quer me matar de curiosidade? É isso mesmo? –Falei. Pedro riu e deu os ombros enquanto apertava o alarme de seu carro.

-Paciência é uma virtude, Katrina. –Embarcamos no carro, coloquei o cinto e virei para olhá-lo. –Então, antes que você morra de curiosidade, vou te contar... –Ele me olhou brevemente e voltou a sua atenção para o trânsito. –Pois então, tem umas garotas que saíram da boate. -Ele ficou em silêncio.

-E? –Gesticulei com as mãos o encorajando.

-São garotas boas, que se cansaram da boate e foram viver a vida delas fora de lá. Alugaram um apartamento e vivem suas vidas normalmente. –Ele deu os ombros. –São três. –Ele disse.

-Não fazem... Você sabe... –Perguntei.

-Programa? –Ele falou e sorriu. Assenti. –Não. Não fazem. Desistiram disso e tem empregos comuns. São garotas como você, Katrina... Entraram nisso involuntariamente e se perderam nesse meio, ficavam naquilo por necessidade e por fim cansaram. –Ele me olhou ao parar em um farol. –E você? Cansou? –Ele me encarou fixamente.

-Definitivamente. Cansei disso, e você sabe. –Falei. –Quero ter uma vida, eu tenho dezoito anos, Pedro... Quero viver como tal. –Falei e Pedro assentiu.

-Exato, você mesmo passando por isso, nunca desistiu e se acomodou por conta do dinheiro alto. –Pedro falou. –Não é pra qualquer uma que eu faço isso, e não é pra qualquer uma que elas abrem as portas.

-Você acha que elas vão me aceitar lá? –Perguntei com certo receio.

-Vão. Claro que vão. –Pedro falou sorridente. –Ainda mais se eu te levar lá. –Ele falou e eu dei um leve tapa em seu ombro.

-Seu metido! –Brinquei e Pedro sorriu.

-Preciso passar na boate, daqui há algumas horas o Kenedy aparece lá e eu vol... –Pedro ao ver meio receio ao escutar o nome do Kenedy, parou de falar e me encarou. –Relaxa, Katrina. Eu não vou falar nada. Não tem como ele saber. –Ele piscou pra mim e voltou sua atenção para o trânsito.

Pedro começou a falar desenfreadamente sobre esse apartamento, eu estava animada, aquilo cheirava a nova chance.

Uma nova vida. Era definifivamnte um recomeço.

EVAWhere stories live. Discover now