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KATRINA

Matheus não precisou dizer mais nada, abaixei e peguei minha mochila.

-Pode levar as coisas que eu comprei pra você. –Matheus pronunciou antes que eu pedisse ou perguntasse qualquer coisa.

-Não quero. –Falei.

-E eu não quero nada seu aqui. –Ele finalmente me encarou, seu olhar era vazio assim como sua expressão. –Nada! –Ele falou antes de sair do quarto. Meu coração estava acelerado, minha cabeça estava tão cheia que eu nem conseguia pensar em nada, meus gestos ali eram mecânicos.

Eu não tinha espaço pra levar tudo o que ele havia comprado. Matheus voltou ao quarto com os braços carregados de coisas. Minhas coisas. Ele continuou em silêncio, apenas jogou tudo sobre a cama e saiu, fechando a porta e deixando-me ali sozinha.

Olhei para as roupas e depois para a mochila, só em sonho que aquelas coisas todas caberiam ali. Comecei a revirar as roupas, peguei as mais simples, as que menos faziam volume e guardei tudo na mochila. Restaram muitas roupas sobre a cama, e eu definitivamente não conseguiria levá-las. A vontade dele não seria feita, pois eu iria deixar o que restou no mesmo lugar que ele havia colocado.

Olhei para o relógio, marcava 23:52hr. Eu já tinha um plano formulado em minha mente, sabia parcialmente o que fazer, então eu não me desesperaria, pelo menos não naquele momento, não na frente do Matheus. Troquei de roupa, e deixei a que acabará de tirar também sobre a cama. Peguei minha mochila e a coloquei, quando sai corredor a fora, vi a porta do Matheus fechada... Ele estava lá. Eu quis sair e ele também me expulsou. Não era um bom momento pra despedidas.

Então eu apenas desci, desci sem olhar pra trás, parte de mim queria pedir desculpas pelas palavras ditas a minutos atrás, outra parte, estava orgulhosa de pelo uma vez na vida ter deixado o Matheus sem defesas, assim como ele fazia comigo.

Assim que cheguei na sala, peguei o telefone e disquei os nove dígitos. Prendi a respiração e fechei os olhos enquanto os toques do telefone ecoavam pela minha cabeça. Primeiro toque, segundo toque, terceiro toque, quarto toque... E de repente ouvi a voz dele, meio abafada por conta do barulho do outro lado do telefone, troquei poucas palavras e logo desliguei.

Enquanto caminhava pela rua do Matheus, sentia um incrível frio em minha barriga, a mesma sensação de quando eu sai de casa... Eu não sabia o que me aguardava. Novamente eu estava sozinha. Mas dessa vez por escolha minha.

-Para com isso, Katrina... –Murmurei censurando á mim mesma enquanto caminhava. Eu não podia me deixar abalar naquele momento.

As ruas não estavam tão desertas assim, afinal, era final de semana e o centro da cidade ficava cheio: bares, lanchonetes, clubes, baladas... Qualquer centro comercial animado estava aberto e lotado. Os lugares cheios deixaram a minha “caminhada” mais segura, eu conseguia andar mais aliviada quando via que as ruas não estavam vazias e perigosas, quer dizer, hora ou outra algum engraçadinho bêbado mexia comigo, nada que um empurrão e um “saí”, não resolvessem.

Depois de uns vinte minutos de caminhada cheguei ao meu destino. Parei em frente a lanchonete 24 horas, a mesma lanchonete onde conheci Henric, Kenedy e Pedro. Diferente da primeira vez, o lugar estava cheio, talvez a musica ao vivo fosse a responsável por tamanha aglomeração. Depois de desviar de algumas pessoas, levar três trombadas, consegui chegar no fundo da lanchonete. Logo o encontrei, parado no fundo da lanchonete com sua jaqueta aberta, boné e seu sorriso sem malícia, ele estava jogando conversa com uma morena que apenas sorria, provavelmente das bobagens que ele contava ao seu ouvido. Balancei a cabeça e caminhei em sua direção.

-Katrina! –Não consegui ouvir claramente sua voz me chamando, apenas “li” em seu lábios e conclui pela sua expressão. A música era incrivelmente alta, eu não conseguia nem pensar. Caso soubesse que aquele lugar estaria assim, na certa eu escolheria outro local.

-VAMOS LÁ FORA! –Falei enquanto gesticulava com as mãos, tentando indicar a o lado de fora. Ele então concordou, balançando a cabeça de forma positiva e deixando sua garrafa de cerveja sobre a mesa. O espertinho ainda trocou algumas palavras e beijos com a morena antes de enfim vir ao meu encontro.

–Fiquei surpreso com sua ligação. –Ele falou próximo ao meu ouvido assim que chegou ao meu lado, apenas o olhei e dei os ombros.

Caminhamos em silêncio até chegar ao lado de fora da lanchonete, o barulho ainda era alto, mas não era tão ensurdecedor.

-Preciso de um favor, Pedro. –Falei enquanto me apoiava em seu carro. Ele fez o mesmo que eu.

-Pode falar. –Ele cruzou os braços enquanto me encarava.

-Acho que você já deduziu do que se trata, não é? –Apontei para a minha mochila e fiz uma careta.

-Prefiro que me explique toda a situação. –Pedro falou enquanto sorria de maneira leve. Eu sabia perfeitamente que Pedro não era um santo, tão pouco tinha uma índole impecável, mas ele sempre se mostrou o melhor daquele lugar. Eu não tinha muita vivência com ele, afinal, ele sabia o que eu era, e vice-versa.

-Olha eu não sei bem o que fazer, e nem que favor pedir... –Passei a mão pela minha face e suspirei frustrada. –Eu só quero... Eu só quero uma saída. Sabe? –Encarei ele, o mesmo apenas me devolvia o olhar atento. –Eu não sei bem se estraguei a chance que eu tive, quer dizer, nem sei se posso chamar esses dias de chance. –Passei a mão pelo meu braço descoberto e encarei o chão. –Eu acho que foi apenas um bônus da vida, acho que ela pensou: “você só se ferra, aproveita esses dias e sinta o sabor de ter uma vida”. –Falei incomodada e Pedro riu de meu comentário. –Não é engraçado, Pedro! –O repreendi.

EVAWhere stories live. Discover now