091

1.7K 170 7
                                    

KATRINA

-Além quanto? –Matheus perguntou impaciente, seu pé já se mexia de maneira inquieta.

No fundo ele parecia saber, ou desconfiar do que viria, o andar da minha historia, mas ele ficou em silêncio para que eu continuasse.

-Muito além. –Falei. –Certa noite, minha mãe e meu padrasto saíram, e deixaram o Pietro no comando, e ele usou esse “poder”, pra muita coisa. A ordem do pai dele era cuidar da casa e de mim, e foi o que ele fez, cuidou de mim... De uma maneira errada, doentia. –Lágrimas já desciam pelo meu rosto, minha visão estava turva por conta dos meus olhos embargados, e eu já tinha desistido de secar as lagrimas com as costas da mão, e deixei com que elas rolassem conforme eu contava minha historia. –Eu tinha apenas doze anos, quase treze, e ele me destruiu de todas as formas que alguém poderia destruir outra pessoa, tanto fisicamente quanto psicologicamente, eu vivia assombrada por suas ameaças diárias... E quando eu ameaçava de contar, era uma represaria incrivelmente terrivel e dolorosa! Eu ainda tinha ursos no quarto, até mesmo bonecas... Eu era uma criança! –Falei amargurada. –E ele tirou toda a minha inocência. Minha mãe estava tão ocupada com sua nova vida perfeita que acabou esquecendo do passado, do passado que era a única coisa que a ligada com meu pai... Eu. Eu nunca fui grande coisa pra ela, mesmo quando meu pai estava vivo, ela nunca foi uma mãe amorosa, mas devo confessar, depois que ela casou, o seu descaso só aumentou. Eu significava pra ela apenas uma bagagem velha que era teria que levar.

A expressão do Matheus não revelava nada, mas sua postura estava mais tensa, e seus punhos estavam fechados, como se tivesse tentando controlar a fúria.

–E o resto você já sabe... A velha história clichê de sempre, não tinha ninguém com que contar, então... –Dei os ombros e sorri tristemente, sentindo o sabor salgado das lágrimas.

–Sai de casa apenas com uma mochila e pouco dinheiro, e claro, o dinheiro acabou, e por alguma desventura bem terrível, conheci Henric em uma noite fria. Já não tinha mais dinheiro pra nada, e voltar pra casa não era uma opção, Pietro acabaria comigo, com certeza... Então acabei indo, e me aventurando nessa vida nada digna, eu sei, mas as circunstancias me levaram até aquela casa. E passei o que passei. Com morte do Henric, pensei que o pesadelo teria fim, mas novamente me enganei, o pesadelo teve inicio aquele dia, e o inferno que eu já conhecia, se tornou quase uma piada, Kenedy consegue ser pior, consegue me aterrorizar ainda mais.

-E sua mãe? –Matheus perguntou parecendo desconsiderar o que eu havia acabado de falar. –Não foi atrás de você? –Balancei a cabeça.

-Acho que era adorou o fato de eu ter abandonado tudo... –Falei com melancolia.

Matheus não disse nada, sua postura continuava inabalável, agora mais tensa talvez.

Parecia estar mais distante agora, regressamos, e agora tudo era como no inicio!

Um Matheus frio e distante.

Após alguns segundos que me pareciam uma eternidade, Matheus levantou e com um olhar vazio, se inclinou em minha frente, para ficar a minha altura, segura meus braços com força e me faz olhar para ele.

-Eu vou resolver isso. –Ele murmurou perto da minha boca. –Eu prometo. –Ele falou de maneira decidida e segura. –Ninguém vai tocar em você outra vez sem o seu consentimento. –Ele me encarava, eu o encarava. –Tudo bem? –Assenti.

Eu não sabia se isso seria verdade, mas algo em mim queria acreditar nele.

Ele cravou seu olhar gélido em mim, e com uma expressão vazia, ele tornou a afirmar.

–Eu prometo. –Balancei a cabeça lentamente. Ele faz o mesmo, beijando o topo da minha cabeça em seguida.

-O que você vai fazer? –Perguntei receosa.

-Não se preocupa com isso. –Ele disse de uma maneira grossa, querendo dar esse assunto por encerrado. Mas claro, a minha preocupação havia acabado de começar, e com razão.

Kenedy não tinha escrúpulos, e com certeza, não deixaria sentir-se ameaçado pelo Matheus... Pois é, a guerra teria início.

Matheus sem trocar palavra alguma comigo, deixou-me sozinha na cozinha, com a cabeça a mil, e com o coração apertado.

EVAWhere stories live. Discover now