133

1.4K 134 7
                                    

KATRINA

-Sua avó não tem outros filhos? –Questionei. Pedro balançou a cabeça negativamente.

-Não. Minha mãe era filha única. –Pedro falou enquanto abria sua lata.

-E seu pai? –Pedro deu os ombros.

-Não o conheci. –Ele falou com naturalidade. –Sumiu enquanto minha mãe ainda estava grávida.

-Poxa, Pedro... –Falei enquanto cruzava meus dedos sobre a mesa.

-Minha mãe não iria se orgulhar disso, com certeza sentiria vergonha de mim... Mas eu faço o que for preciso pra deixar minha avó confortável. –Ela me encarou e sorriu tristemente. –Ela sempre gostou de árvores, e esse lugar é cheio... É um bom lugar. E olha, eu até contratei uma enfermeira unicamente pra ela, sendo assim, ela nunca vai estar sozinha. Eu nunca permitiria que ela fosse levada para um lugar como aqueles que passam na TV, aqueles lugares deploráveis... Aquilo não é humano. Ela não merece isso.

-Você não acha que... –Ao ver o que eu iria perguntar, Pedro se adiantou.

-A doença é degenerativa, Katrina... Só vai piorar. Se eu levá-la pra casa, provavelmente vou assustá-la. Você viu, ela nem me reconhece. –Ele falou. –Ela está bem aqui. Olha só pra ela... Parece estar em paz. –Assenti. Virei a cadeira e coloquei minha mão sobre a dele, Pedro me encarou enquanto fazia uma careta, apertei sua mão e o olhei.

-Você é meu herói... Sabia? –Falei e Pedro sorriu de canto.

-De herói eu não tenho nada, Katrina... Já fiz muita coisa errada nesses anos. –Ele falou.

-Você é uma boa pessoa, Pedro. –Falei.

-É difícil aparecer pessoas que realmente merecem serem ajudadas. Eu só faço minha parte. –Ele apertou minha mão e sorriu. –Eu não gosto do que faço, não é da minha natureza. Mas vou fazer enquanto for preciso. Ela é minha família, e eu cuido da minha família. –Pedro falou de maneira firme. Sorri em resposta, e ele também.

Depois daquela manhã turbulenta, Pedro me deixou em casa com a promessa de que voltaria mais tarde.

Quando estava prestes a subir, percebi que na calçada em frente havia um butique de vestidos. Logo um pensamento, ou melhor, um alerta surgiu em minha mente.

Arrastei minha mala ate o “saguão” do condomínio, logo vi Thayna sair do elevador junto a outra menina, provavelmente da Letícia, a outra moradora do apartamento. Fui de encontro a elas sorridente, assim que Thayna notou minha presença, caminhou em minha direção.

-Oi, Katrina! –Ela beijou minha bochecha. –Essa aqui é a Katrina, Let... A sua nova colega de quarto. –Thayna encarou sua amiga, que também sorria.

-Prazer, Letícia... –Ela apertou minha mão e eu fiz o mesmo.

-Katrina. –Falei. –Prometo que vou ser organizada. –Brinquei pra descontrair o momento, as duas sorriram.

-Sarah era uma bagunceira! –Letícia falou sorrindo. –Vai ser ótima a nossa convivência então, acho que vamos nos entender direitinho. –Assenti.

-Bom, Katrina. –Thayna falou, ganhando minha atenção. –Estou indo trabalhar, a Let também, mas a Gabriela está lá, deve estar dormindo. –Ela revirou os olhos e riu em seguida. –O almoço hoje é por conta dela. –Assenti e segurei minha mala.

-Prepare-se para comer arroz queimado, frango cru e salada salgada. –Letícia falou em um tom dramático.

-Você vai se acostumar, garanto. –Thayna falou e logo em seguida mandou alguns beijos enquanto afastava-se junto a amiga. Segurei minha mala e arrastei até o elevador.

Assim que entrei no apartamento, fui recebida pelo bom humor matinal muito elevado da Gabi, que correu para me ajudar.

-Encontrou com as meninas? Elas acabaram de sair. –Ela falou levando minha mala até meu novo quarto.

-Vi sim... –Falei enquanto sorria. –Obrigada, Gabi. –Falei e sentei na cama.

-O almoço está quase pronto. –Ela falou enquanto sentava ao meu lado na cama. Não pude deixar de sorrir ao pensar no que as meninas falaram da comida dela. Na outra “casa”, se é que posso me referir aquele lar de casa, Valentina e Camila sempre foram ótimas cozinheiras, faziam e inventavam inúmeras receitas, era difícil resistir as coisas que elas faziam, lembro-me de como Henric reclamava quando nos via com um enorme prato de doce na mão.

-Tudo bem... –Sorri brevemente. –Pedro vai voltar mais tarde. –Falei mesmo sem entender o porque de estar informando pra ela tal coisa. Ela me encarou e assentiu, dando um sorrisinho no final.

-Tudo bem. –Ela me imitou e sorriu.

Abri minha mala e comecei procurar por algo, eu não tinha esquecido do pensamento ao ver a butique de roupas... Amanhã seria a festa da empresa do Matheus, e algo em mim, me impulsionava a ir, era como se pra seguir em frente, eu precisava vê-lo, conversar com ele pelo menos por uma ultima vez. –O que está procurando? –Gabi falou, arrancando-me de meus devaneios.

-Um vestido bonito. –Falei.

-Pra que? –Ela falou.

-Tenho uma festa pra ir. –Falei sem olhar para ela.

-Festa? –Ela falou surpresa. –Você namora ou algo assim? –Ela tentava soar com certa indiferença, mas eu conseguia notar a curiosidade em sua voz.

-Acho que por um momento, ou quase isso... –Balancei a cabeça. –Não sei posso chamá-lo de namorado, ou melhor, ex namorado... –Passei a mão pelo meu rosto. –Ele é alguém especial, mas do que especial. –Falei. –Nossa última conversa foi conturbada, e eu queria, de certa forma, consertar isso. Quero dar um isso um fim decente, pois a nossa história merece isso. Ele merece isso, e eu também. –Falei e Gabi me encarou por alguns segundos, por fim assentiu.

EVAWhere stories live. Discover now