104

1.7K 152 33
                                    

KATRINA

Antes que o suposto amigo do Matheus pudesse responder algo, virei e subi as escadas rapidamente, chegando até a tropeçar no ultimo degrau.

Meu coração estava a ponto de saltar pela boca, abri a porta do quarto onde eu estava instalada e fechei a porta.

-Ele vai contar. Ele vai contar. –Murmurei aflita.

Eu já imaginava que isso aconteceria, afinal, eu dormi com dezenas de homens por dinheiro, a cidade não é tão grande e um dia obviamente eu iria encontrar um desses caras em algum shopping ou restaurante.

Mas tinha que ser ali? Agora? Logo na casa do Matheus?

Com certeza o seu amigo faria uma piadinha infame sobre mim, Matheus provavelmente iria rir e quando se despedisse do seu convidado subiria as escadas e me mandaria embora de imediato.

Poxa! Sentei na cama e coloquei as mãos apoiadas em meus joelhos, um frio se instalou em minha barriga e o medo corroia todos os meus pensamentos.

Já conseguia imaginar a cena do Matheus me colocando pra fora.

Eu estava tão zonza que nem conseguia escutar nada além das inúmeras fantasias criadas em minha cabeça.

Eu estava ofegante e mais paranóica do que qualquer esquizofrênico em surto.

Longos minutos se passaram. Um silêncio se instalou em minha cabeça e foi então que eu pude assimilar o que se passava em minha volta: passos pesados e apressados, e logo em seguida duas batidas na porta, mas antes mesmo que eu pudesse abrir a porta, Matheus adentrou no quarto, fechando a porta atrás de si.

-Por que sumiu daquela maneira? –Ele perguntou parado na porta, observando-me com uma feição seria. –Você já o conhecia? –Ele perguntou sabendo da responda, então não respondi. Matheus então insistiu. –Já conhecia? –O olhei e dei os ombros. –De onde? –Ele perguntou e eu sorri com desdém.

-Você sabe de onde, Matheus. –Falei e abaixei a cabeça. –O que ele falou pra você? –Perguntei sem olhá-lo.

-Nada. –Matheus falou e eu ergui a cabeça para encará-lo. Matheus tinha a feição mais relaxada, mas eu sabia perfeitamente que estava mentindo, com certeza o tal Lucas deveria ter perguntado o que Matheus fazia abrigando uma “garota de programa” em sua casa, ou pior, ter feito piadinhas sobre a situação.

-Nada? –Perguntei sorrindo tristemente. –Posso até imaginar esse nada. –Falei e voltei a abaixar a cabeça, mexendo na barra do meu short. –Vai querer que eu saia da sua casa? –Perguntei num tom baixo.

Matheus não respondeu nada, o silêncio "ecoava" pelo quarto, meu medo dele falar “sim” me atingia de maneira feroz.

Matheus então aproximou-se de mim, sentando-se do meu lado, sim, do meu lado, como se estivéssemos em um banco onde não houvesse espaço.

-Eu não me importo com que ele disse ou vai dizer. Não preciso da opinião, nem da benção de ninguém para fazer o que eu quero. –Matheus falou.

Me atrevi a olhá-lo, Matheus me encarava em silêncio, sua mão direita se aproximou de meu rosto pegando uma mecha que caia sobre meu rosto e a encaixando atrás de minha orelha, eu prendi a respiração e o encarava de volta totalmente enfeitiçada.

-Não? –Perguntei desconfiada.

Matheus negou e inclinou sua cabeça em minha direção, eu estava receosa, tinha medo dele e enganar como havia feito de manhã, mas meu corpo me traiu e então eu fechei os olhos e me inclinei ao seu encontro também, e foi então que meu coração parou por alguns segundos quando senti seus lábios tocarem os meus de maneira afetuosa.

Levei minhas mãos até sua nuca, alternando meus dedos entre seu rosto, hora por seus cabelos.

Matheus virou seu corpo em minha direção, segurando meu rosto entre suas grande mãos.

Seu beijo tinha saudade, e mesmo assim não deixava de ser quente, como sempre tinha desejo, de ambas as partes, obviamente.

Eu estava entregue a ele e ele sabia disso perfeitamente, sua mão então tocou o meu ombro e o acariciou com delicadeza, esse carinho da parte dele tomou outras proporções, sua mão “escorregou” pelo meu ombro, levando minha manga e a alça do meu sutiã, aquilo arrancou-me abruptamente do meu conto de fadas, tomei distância dele.

Na mesma hora ele tentou segurar meu rosto, mas ao ver minha recusa ele acabou me soltando.

-O que foi? –Ele me olhou confuso, eu toquei meu ombro, ajeitando minha blusa e o olhando com certa decepção.

-É isso que você pensa de mim? –Falei jogando meu corpo pra trás e ajeitando minhas costas na cabeceira da cama.

-O quê? –Ele perguntou ainda mais confuso.

-É evidente o que se passa em sua mente quando chega perto de mim. –Falei. –Sexo! Apenas isso e nada além disso. –Falei o encarando.

Matheus pareceu surpreso com minhas palavras, mas logo seu olhar voltou a se escurecer, sua feição tornou-se seria novamente enquanto me devolvia um olhar um tanto quanto irritado.

-Ficou louca? –Ele perguntou gesticulando com as mãos.

-Louca? –Repeti com um sorriso nervoso. –Você não consegue ao menos me beijar sem pensar no que isso pode levar, aliás,  tanto pensou que até estava se adiantando. –Falei e Matheus balançou a cabeça rindo, provavelmente controlando-se para não me ofender.

-Você é realmente maluca. –Matheus levantou da cama e bufou.

-Eu acho que você ainda é apaixonado por aquela garota, a Me... –Me arrependi no mesmo momento de ter começado aquela frase, tanto que até me calei, mas Matheus a compreendeu perfeitamente. Seu olhar mudou, se endureceu ainda mais, sua raiva me atingia em cheio, mesmo com ele estando longe de mim.

-De onde você tirou isso? –Ele perguntou. –Ou melhor, que te contou isso? –Ele falou irritado. Fiquei em silencio o encarando como uma criança que havia acabado de desobedecer os pais. –Quem? A Sophia? –Balancei a cabeça negativamente.

-Eu só achei qu... –Ele ergueu a mão para que eu me calasse, e assim fiz.

-Você não tem que achar nada sobre a minha vida, nunca te dei esse direito. –Ele falou cheiro de fúria. –Guarde seus “achismos” para si própria. Eu não quero saber. –Ele falou, achei melhor não respondê-lo, afinal eu não tinha o que falar, não tinha como debater.

Matheus me direcionou um olhar furioso por alguns segundos antes de caminhar até a porta, abrindo a mesma, mas antes de sair mirou seu olhar gélido em minha direção.

–Não que isso seja da sua conta, mas não, eu não estou apaixonado por ela. Nem por ninguém. –Ele deu ênfase no "ninguém".

Abaixei minha cabeça, estava sem coragem de encará-lo e em segundos escutei a porta ser fechada com violência. Ele havia saído.

EVAWhere stories live. Discover now