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Maratona 6/7

KATRINA

Matheus entrou no banheiro e voltou minutos depois já pronto. Vestia uma calça jeans preta, e uma camisa xadrez de botões, o cabelo meio bagunçado e como sempre com seu cheiro irresistível pra qualquer mortal.

Sorri com meus pensamentos enquanto ele guardava seu celular e suas coisas em seu bolso, quando terminou, virou e apenas acenou com a cabeça para que eu o seguisse, e assim fiz, o segui enquanto descia as escadas apressadamente.

-Onde vamos? -Perguntei apagando a luz da sala.

-Não podemos ir em nenhum lugar que se preze com essa sua roupa aí. -Ele falou todo mau-humorado. Desconsiderei, Matheus é incrivelmente chato quando quer.

-Ok. -Murmurei.

Matheus virou,e apenas sorriu de canto, não entendi bem o porquê, mas logo voltou com sua expressão séria. Matheus era um mistério em forma de pessoa, na maioria das vezes um mistério pra lá de irritante.

Matheus tirou seu carro da garagem, mas não antes de fazer uma verificação na rua, como sempre, ia até a esquina, voltava, ia até a outra esquina, voltava e as vezes conversava com o vigia que "tomava" conta ali do bairro. Só então ele entrava no carro sossegado. Quando eu perguntava o porquê desse ritual bizarro, ele apenas dizia que era um bairro caro e sempre é bom ficar atento por conta de assaltantes ou coisa assim, eu nunca engoli essa explicação, apenas concordava e como sempre ficava quieta.

Fomos o caminho todo em silêncio, mais hora ou outra Matheus olhava pra mim, não dizia nada, apenas me olhava fazia um aceno com a cabeça e voltava a sua atenção ao trânsito.

Quando chegamos ao shopping da cidade, Matheus não pegou minha mão, mas fez questão de ficar do meu lado, próximo mesmo, praticamente colado, mas minha mão ele não pegou.

Quando alguém me olhava, Matheus praticamente fuzilava a pessoa, chegando até a parar no meio do caminho para olhar e intimidar, eram garotos, as vezes um grupinho deles.

A história era diferente quando uma mulher o olhava, ele encarava de volta, e até dava um daqueles sorrisos que eu tanto amava, só que para diversas mulheres. Aquilo era patético. Ele era patético!

Cruzei os braços e me afastei dele, não tanto, mas foi o suficiente para Matheus puxar meu braço.

-Katrina! -Ele sussurrou com um tom de autoridade. O ignorei e continuei andando. Ao ver qual foi minha postura, Matheus se apressou para me acompanhar.

-Tem vergonha de segurar minha mão? -Perguntei enquanto caminhava, sem olhá-lo. Matheus ficou em silêncio, mas logo tratou de responder.

-Não é isso. -Ele falou de forma dura.

-É o que então? -Parei e o encarei. -Sou um segredo? Que você só pode usufluir quando está sozinho? Que eu sou boa, mas só quando estivermos á sós? O que foi? Eu não digna de segurar sua mão? -Falei irritada. Estávamos parados próximo a escada rolante. -Pois eu quem não quer segurar sua mão agora, Matheus. -Forcei um sorriso enquanto tornava a me afastar dele.

-Katrina! -Matheus murmurou irritado enquanto corria até mim. Nem fiz menção de esperá-lo, mas ele se adiantou. -Para de ser infantil, Katrina. -Ele falou assim que parou do meu lado.

-Infantil? -Perguntei irritada.

-É! Infantil! -Ele repetiu.

-Você olha pra centenas de mulheres quando está comigo. Não me respeita e... -Ele me interrompeu.

-É você dorme com centenas de homens! -Ele falou irritado. Seu olhar agora parecia estar mais possesso. -E qual é minha posição diante disso? Você acha que é fácil pra mim? -Ele passou as mãos pelo cabelo enquanto olhava para os lados. Fiquei em silêncio, não podia rebatê-lo , pois ele tinha razão, como sempre. -Acha que é fácil? A maioria dos meus colegas de trabalho te conhece.

-E daí? E não é você mesmo quem diz que não precisa da opinião de ninguém. O quê foi? Mudou de idéia? -Falei.

-O que você quer que eu faça, Katrina? Te assuma? Compre um anel e saia de mãos dadas com você por tudo quanto é canto falando: "ei, essa aqui é minha mulher, ela é ex garota de programa, talvez você a conheça". É isso o que você quer? Pois é isso o que vai acontecer. Pois onde eu vou, sempre vai ter alguém que te conheça. E como eu vou lidar com isso? Como? Tendo que aturar os olhares e os sorrisos das pessoas sob você. Provavelmente eu vou querer quebrar a cara da pessoa. Esse fantasma do seu passado sempre vai assombrar a nossa vida, Katrina. Não tem nada que possamos fazer para controlar isso. -Matheus falou. Cuspiu as palavras em minha cara, eu não tinha como me defender, pois absolutamente o que ele falou, tudo o que ele ressaltou, tinha razão. Se iria ser difícil pra mim tal situação, seria muito pior para ele.

-Esquece isso. -Falei. -Vamos fazer o que viemos fazer, e depois vamos embora. -O olhei e virei, mas dessa vez esperei por ele.

Enquanto escolhia algumas blusas em uma das araras, as palavras de Matheus invadiam minha mente, era como um flashback.

Suas palavras caiam de forma esmagadora em minhas costas, eu mal conseguia prestar atenção a minha volta.

Matheus não entrou comigo, ficou do lado de fora em um desses quiosques de café que ficam espalhados pelo shopping. Mesmo estando longe, sabia que ele me observava, provavelmente tão pensativo quanto eu.

Peguei algumas blusas, pois era a única coisa que levaria daquela loja, o resto era muito colorido e sei lá, não gostei. Meu humor não estava bom naquele momento, quando estava indo até o caixa com as peças na mão, Matheus brotou do meu lado enquanto aguardava na fila. Era até meio cômico, um cara de quase dois metros parado em uma fila em uma sessão feminina segurando algumas blusinhas bem comprometedoras, se eu não tivesse tão abalada, com certeza iria rir da situação.

Matheus não puxava assunto comigo, e eu tão pouco, nossa conversa de minutos atrás já teria sido o ponto alto do nosso dia. Não concordávamos com nada, e provavelmente brigaríamos.

EVAWhere stories live. Discover now