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KATRINA

-Por que então, Katrina? –Ele perguntou impaciente. –É só responder, simples. Um motivo.

-Entrei nisso de uma maneira tão inexplicável... –Dei os ombros. –Que agora não consigo sair.

-E porque não consegue? –Fiquei em silêncio.

Ele então, caminhou até mim, puxando a cadeira e sentando-se em minha frente.

–Por isso? –Ele tocou meu pescoço, onde havia as marcas, agora quase inexistentes, mas ainda visíveis. –Que fez isso? –Continuei calada. –Aquele cara? –Ele ficou em silêncio por alguns segundos, somente me encarando, até que pareceu voltar a si. –O que está acontecendo com você naquela casa, Katrina? Por que não pode sair?

Sabe quando você é criança e acontece algo muito ruim? Você prende o choro e tenta com todas as suas forças contê-lo, mas basta alguém perguntar: “o que houve”, ou “o que aconteceu”, que você entra em combustão? Pois então, eu estava em meu limite, lutava com todas as minhas forças para não chorar ali, em sua frente. Um choro se instalou em minha garganta e eu tentava a todo custo deixá-lo preso ali.

-Nada. –Tirei sua mão de meu pescoço e afastei a minha cadeira da dele. –Não acontece nada. –Falei.

-Que “nada” diferente... Isso foi um carinho errado que ele fez? –Ele perguntou com um sarcasmo amargurado. –Que exótico ele, hein?

Revirei os olhos e contrai os lábios tentando conter meu soluço quase que seria seguido de uma crise de choro.

-Não se mete nisso. –Falei.

-Por que? –Ele perguntou com um sorriso sórdido nos lábios.

Sabe aquele cara filho da mãe que mandamos não fazer algo, e no fim ele acaba fazendo? Era o estilo do Matheus! Era marrento e adora desafiar, típico “Sou o rei do mundo”.

-Você não conhece o Kenedy... Você não sabe do que ele é capaz pra conseguir o que quer, ele mede esforços pra tirar alguém que o atrapalha... E nesse momento, a mira dele está apontada pra você, pois ele acha que você está empatando a vida dele. –Falei.

E era a verdade, Kenedy já havia lembrado-me isso antes que eu saísse de casa, não queria que o Matheus tivesse o mesmo fim tragico do Henric.

Eu não me perdoaria jamais se algo acontecesse com ele por culpa minha.

-Não tenho medo dele. –Matheus falou. –Se você me contar o que está havendo com você, eu vou te ajudar, pode ter certeza disso, e você não vai precisar se preocupar com esse tal de Kenedy ou com mais ninguém. –Ele pegou a minha mão, e a segurou. –É só falar, e eu resolvo.

Deixei um soluço escapar, e com isso, alguns lagrimas se libertaram e desceram pelo meu rosto.

–É só falar, e eu resolvo. –Ele insistiu.

-Não se envolve nisso, é muito além do que você acha conhecer ou saber como lidar. –Falei com a voz embargada.

-Um bom jogo, só se faz jogando a dois, Katrina. –Matheus falou, com aquele sorriso torto no canto dos lábios.

-Não é uma boa idéia. –Tentei argumentar.

-Desde o inicio não foi uma boa idéia. –Ele falou, se referindo a que eu já não sei. –E eu sou adepto a tomar e seguir decisões erradas. Essa não vai ser a primeira, nem a última. –Ele tocou meu pescoço outra vez. –Agora é com você querer ajuda ou não. –Ele se acomodou na cadeira de maneira largada para me encarar.

Eu o encarei em silêncio, não sabia se poderia confiar nele para contar algo tão grande, tão sério.

Mas eu não tinha ninguém com quem contar... Quer dizer, ele parecia interessado, mas ao mesmo tempo, era muito doloroso falar sobre aqueles anos, era como se um filme rodassem em 3D em minha mente, e minha personagem tinha um fim trágico a cada mudança de cena.

Matheus me encarava em silêncio, não forçava o meu limite, mesmo parecendo estar impaciente.

Suspirei e juntei minhas mãos, abraçando meus joelhos e encarando os mesmo, eu estava envergonhada.

-Acho que no fundo você sabe do que se trata, não é mesmo? –Perguntei com a voz embargada tentando a todo custo não chorar, aquele era o momento de se livrar de um passado que me atormentava.

-Não faço idéia, quero que você me conte. Tudo. –Ele falou de maneira dura.

Suspirei outra vez e assenti contrariada.

-Se eu te contar o que se passa... –Ergui a cabeça e o encarei de maneira fixa. –Até onde está disposto a ir para me ajudar? –Perguntei de maneira sensata e decidida, pela primeira vez.

A expressão de Matheus não mudou, ele inclinou a cabeça para o lado e olhou para baixo rapidamente, depois voltou a me encarar.

-Dependendo... Até o fim. –Ele falou de uma maneira decidida, transbordava segurança e sinceridade.

-Até o fim? –Perguntei intrigada.

-Até o fim, Katrina. –Matheus repediu. –Agora me conta.

-Meu pai veio a falecer há alguns anos, quantos precisamente não vem ao caso... E minha mãe, não contente com o buraco que meu pai havia deixado, decidiu casar-se novamente... –Falei.

-Com o pai do Pietro, certo? –Matheus perguntou.

-Certo. Minha mãe nem deixou o lado da cama do pai esfriar, desconfio que ela já tinha o pai do Pietro como amante, éramos de uma cidade vizinha, aqui mesmo de São Paulo, e fomos morar na casa deles. Eu tinha uma pequena diferença de idade, Pietro sempre me tratou mal, sempre com empurrões, xingamentos, tapas, mas nada absurdamente grave... Pensava que era ciúmes do pai dele, pois afinal, nos éramos as intrusas ali... Mas minha suspeita estava errada... A raiva dele por mim, ia muito além...

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