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KATRINA

Ficar na mira do Matheus era muito desconcertante, por mais que eu tentasse evitar de olhá-lo, conseguia sentir o peso de seu olhar sob mim.

Eu já nem sabia mais para onde olhar, por mais que eu tentasse, lutasse, no final, eu sempre ia de encontro ao seus olhos. Ele tentava passar imagem de calmo e frio perante minha presença, mas eu conseguia notar suas “decaídas” por alguns míseros segundos, e quando isso acontecia, era a vez dele tentar mudar o rumo de seu olhar.

Pelo que eu conhecia daquele salão, funcionava as seguinte maneira: no “térreo”, eram mais a parte onde os sócios socializavam, pois haviam o hall, o salão onde nos estávamos sentados e outro onde serviam os pratos. No salão onde estávamos, tinha uma grande escada onde levava ao segundo piso, onde era uma área mais reservada, talvez para os fumantes ou algo assim, tinha grandes janelas de vidro que iam do chão ao teto e levavam para um terraço onde era possível ter uma vista privilegiada da cidade.

-Atenção, por favor senhores, atenção! –Ao ouvir um som completamente horrível do microfone, olhamos para um pequeno palco que tinha no centro do salão, onde um homem de uns quarenta anos, muito bem vestido estava. Ele segurava o microfone e pedia silêncio com as mãos, aos poucos os sussurros das mesas iam cessando e os olhares foram voltados á ele. Ele fez um discurso completamente cansativo, repetitivo e desnecessário. Era notável o tédio de todos ali presentes, incluindo o Matheus, que “ouvia” tudo sem sorrir e demonstrar reação. No final, ele agradeceu a “atenção” das pessoas e chamou o Matheus, que levantou e foi até lá, nesse momento me endireitei na cadeira e o admirei sem disfarçar.

Matheus falava maravilhosamente bem, seu tom era sério e firme, ele segurava o microfone com uma das mãos e a outra estava em seu bolso, ele estava parado ao centro do palco e falava com verdadeira facilidade, falava o quanto era importante a presença de todos ali, que de certo modo todos faziam parte de seu sucesso. Foi assim por uns cinco minutos, até que ele mais uma vez agradeceu e depois desceu do palco, encerrando seu discurso por aquela noite. Pouco a pouco todos os convidados começaram a caminhar até o segundo salão, onde provavelmente serviriam o jantar, e por um breve momento perdi Matheus de vista.

Entrei no meio de algumas pessoas ali e comecei a olhar em volta, meus olhos passeavam pelo salão em busca dele, haviam aproximadamente umas cinqüenta ou sessenta pessoas ali, mas mesmo assim eu havia conseguido o impossível, perdê-lo de vista... Parabéns, Katrina!

Pouco a pouco o salão foi esvaziando, e quando eu estava prestes a ir para o segundo salão procurá-lo, senti minha cintura ser envolvida por uma mão, meu coração não bateu rápido, um arrepio não percorreu meu corpo, pois não era ele. Não era o Matheus. O toque era diferente, o perfume era diferente.

-Eduardo... –Falei com um tom quase que desanimado, pelo seu olhar, ele deve ter percebido perfeitamente.

-Pelo visto eu não sou a pessoa que você esperava. –Ele sorriu torto. –Sinto muito desapontá-la. –Olhei para os lados a procura da Joice.

-Cadê sua acompanhante? –Perguntei e ele deu os ombros.

-Deve ter ido para o outro ambiente. –Ele continuava sorrindo. –Eu procurei por você assim que voltei ao Brasil, e nunca consegui reencontrá-la. O seu contato mudou? –De alguma forma, aquele assunto estava começando a me deixar impaciente, desconcertada e irritada. Por mais que ele falasse cautelosamente, e sem intenção nenhuma de me constranger, algo nele me deixava inquieta.

-É... –Sorri fraco. –Eu não trabalho mais lá, ou melhor, não trabalho mais nisso. –Sua feição mudou, era notável sua surpresa com as minhas palavras.

-Não trabalha? –Ele questionou.

-Não. –Falei firme.

-Entendo... Mas será que não é possível ab... –Eduardo parou de falar e olhou por cima do meu ombro, sua expressão ficou mais dura, como se estivesse vendo algo que não o agradava. Virei para trás e vi do que se tratava, ou melhor, de quem se tratava. Matheus estava escorado em uma das pilastras, seus braços estavam cruzados e nos olhava de maneira seria. Nem queria imaginar o quanto isso deve o deixado irritado comigo.

-Matheus... –Murmurei e sem nem ao menos falar algo com Eduardo, andei com passos rápidos em direção ao Matheus, quase corri, assim que eu estava prestes a chegar ao seu encontro, Matheus descruzou seu braço e virou para sair dali, ai sim dei uma pequena corrida para impedi-lo. –Matheus, não! –Falei envolvendo meus braços ao redor dele.

Ao contrário do que eu imaginei, Matheus parou, parou como se acabasse de ser preso ao chão. Ele não esperava essa minha reação, na verdade nem eu mesmo esperava fazer isso, foi meio que extinto. Eu queria segurá-lo, impedi-lo de sair dali. Dos meus braços.

Mesmo de salto, eu continuava pequena em comparação a ele, e foi algo que sempre gostei, de certa forma, eu me sentia protegida perto dele.

–Não vai embora. –Murmurei para que ele ouvisse. Matheus estava de costas para mim, minha cabeça “deitada” na mesma, minha respiração estava ofegante, o medo de deixá-lo ir sem ao menos uma despedida, me desesperava.

-Eu não vou. –Matheus disse firme, deixando-me surpresa e absurdamente contente. A essa altura, eu já sorria. Aquela noite poderia acabar de uma forma que eu não esperava, mas só de tê-lo ali, tão próximo de mim por aqueles breves segundos... Me deixava em paz. Ele era o meu ponto de paz. Mesmo tendo inúmeras divergências quando estávamos juntos... De nada adiantava os momentos “calmos”, pois sorrir sem ele, era sorrir sem motivo.

EVAWhere stories live. Discover now