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KATRINA

Thayna me levou até um dos quartos, tinha uma manta e fronhas sobre a cama.

-Letícia dorme naquela cama. –Ela apontou para a cama do lado com um lençol de flores. –Vocês vão dividir esse quarto, eu divido com a Gabi. –Assenti.

-Obrigada. –Sorri.

-Disponha... Sabemos exatamente como você deve estar se sentindo, sei o quanto é deve ser estranha e assustadora essa sensação de recomeço, mas vai por mim, de um modo ou de outro, sempre tudo dará certo para pessoas boas. Vai ser difícil no início, foi pra mim e foi para as meninas, mas você pode contar com o nosso apoio. Já passamos por isso e... –Ela sorriu. –E de certa forma vencemos, e você está a caminho da sua vitoria. –Balancei a cabeça.

-Obrigada mais um vez. –Passei a mão pelo rosto.

-Amanhã conversamos, dorme um pouco. –Assenti. Thayna saiu do quarto e fechou a porta. Sentei em minha cama e olhei em volta, tudo era realmente “novo” agora, seria difícil, mas eu estava disposta a tentar.

Ajeitei a “minha” cama e tirei meu tênis, deitei na cama e encarei o teto, minha cabeça estava como um turbilhão, mil coisas assombravam minha mente, eu estava exausta demais para pensar em soluções.

Dormi pouco aquela noite, pois acabei me perdendo em tantos pensamentos, e posso dizer que consegui me organizar. Acordei por conta das vozes que invadiam o ambiente, passei a mão pelo rosto e abri meus olhos, minha cabeça demorou um pouco para assimilar onde eu estava, quando me “encontrei”, sorri ao pensar em uma nova chance.

Ergui meu corpo, apoiando o mesmo na cabeceira branca da cama, e só então notei a presença de outra pessoa no quarto, na outra cama uma menina dormia de maneira tranqüila, deveria ser a Letícia. Me inclinei para fora da cama e peguei minha mochila que estava no chão, abri a mesma e escolhi uma muda de roupa, levantei e a vesti. Quando estava saindo quarto, notei a presença do Pedro na sala, ele estava acompanhado das meninas.

-Bom dia, Katrina! –Pedro falou assim que me viu.

-Bom dia, Pedro. –Sorri. –Bom dia meninas.

-Bom dia! –Elas falaram juntas. Gabriela estava sentada ao lado do Pedro, já Thayna estava sentada na poltrona, ela segurava uma caneca vermelha.

-Quer café? –Ela ofereceu.

-Não, obrigada. –Sorri em agradecimento. –Pedro? –Olhei para o mesmo.

-Oi? –Ele mirou sua atenção pra mim.

-Você tem um tempinho? –Perguntei enquanto o encarava, Pedro me encarou em resposta por breves segundos, por fim assentiu.

-Tenho. Por que? –Ele falou.

-Preciso que me leve a um lugar. –Falei e ele assentiu. –Meninas, quando eu retornar, prometo que conversaremos, esse assunto é muito importante! –Falei e elas concordaram.

Minutos depois, lá estava eu, novamente no carro do Pedro, dessa vez decidida do que fazer, quer dizer, ontem eu estava “perdida” diante tantas revelações, hoje eu havia me “reencontrado” e estava disposta a fazer algumas coisas, resolver coisas, antes de enfim recomeçar.

-Pra que lugar nos vamos? –Pedro questionou assim que embarcamos em seu carro.

-Pra esse lugar. –Mostrei o endereço do lugar, Pedro olhou para o papel brevemente e logo voltou sua atenção para a rua.

-Que lugar é esse? –Ele perguntou sem me olhar. Suspirei e mirei minha atenção para frente.

-Minha casa. –Falei de maneira firme.

Mesmo não prestando atenção, sabia que Pedro me encarava, talvez pensasse que aquilo não era uma boa idéia, na verdade nem eu mesmo sabia se era uma atitude correta, mas era o que eu precisava fazer, eu precisava olhar para minha mãe, nem que fosse para trocar farpas comigo, como ela sempre fazia quando eu questionava ela sobre algo.

Pedro não se opôs contra mim, ele apenas deu partida em seu carro e seguiu o caminho. Eu já estava muito inquieta e ansiosa pelo o que me esperava, minha mãe sempre agiu de maneira indiferente comigo após a morte do meu pai, antigamente era posta minha necessidade como prioridade, tempos depois, ela começou a fazer a linha do “eu em primeiro lugar”, e eu fui ficando de lado, não tínhamos mais um relacionamento de mãe e filha, éramos quase estranhas, não concordávamos com nada e no fim, acabávamos discutindo.

Virei e encarei Pedro, que parecia também estar pensativo, o clima ali estava um pouco pesado, mesmo tem ter motivos, afim de contornar a situação, virei e tentei brincar.

-E você e a Gabriela? –Falei e Pedro me encarou com um sorriso leve nos lábios.

-O que tem? –Ele falou fingindo não saber.

-Qual é, Pedro? –Bati em seu ombro. –Vi como ela te olha, e quando você não apareceu lá ontem, pude notar o desapontamento dela. –Pedro me olhou brevemente e deu os ombros.

-Não sei de nada. –Ele falou. –Ela é gente boa, saiu daquela vida e eu a admiro por isso, mas... –Ele fez uma careta. –Você sabe... Eu já me relacionei com a Camila, e nada contra, só que é complicado, sabe? –Ele balançou a cabeça. –Eu não quero ninguém, estou bem do jeito que estou. Sozinho. –Ele deu os ombros e me olhou rapidamente. –Quem sabe mais pra frente? –Ele sorriu.

-É complicado. –Falei. –Te entendo perfeitamente, além disso, deve ser difícil pra vocês homens assumirem algo que já passou pela mão da cidade inteira. –Falei com certa ironia.

-Não é assim, Katrina. –Pedro me recriminou. –Eu só acho que nessa fase da vida, eu não consigo tomar conta de outra pessoa, não é exatamente uma vida isso que eu estou vivendo. –O encarei, Pedro parecia falar serio. Ele não estava satisfeito. Fiquei em silêncio o resto do caminho, e quando Pedro entrou em minha rua, meu coração parou, era tão nostálgico e ao mesmo tempo tão distante... Parecia que eu não fazia mais parte daquele lugar, ambos éramos estranhos para o outro, e eu temi que a mesma coisa havia acontecido entre minha mãe e eu, tinha medo de nossos “laços” terem sido rompidos de vez.

-É aqui, Pedro. –Falei apontando para uma casa de portão branco. Pedro parou o carro em frente, e me encarou.

-Quer que eu fique e te espere? –Fiquei o encarando por alguns minutos.

-Eu não sei quanto tempo isso vai durar, Pedro... Talvez dure cinco minutos, talvez uma hora. –Falei.

-Eu te espero. –Ele piscou.

-Não sei nem como te agradecer. –Falei enquanto inclinava meu corpo para frente e beijava sua bochecha. –Boa sorte pra mim. –Falei enquanto me afastava e tirava o cinto. Pedro assentiu e eu sai do carro. Meu coração batia tão rápido que eu estava a ponto de ter um “treco”. Caminhei em passos lentos até o portão, ensaiei algumas vezes antes de tocar a campainha, quando enfim toquei, virei e quase voltei para o carro, mas a voz da minha mãe fez com que eu virasse abruptamente.

-Katrina? –A voz dela ecoou pelos meus ouvidos.

-Mãe? –Falei enquanto escorava meu corpo no portão para vê-la.

EVAWhere stories live. Discover now