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KATRINA

[...]

A semana passou rapidamente, Matheus quase não parava em casa, sua ausência me incomodava. Mas amor, amor... Negócios à parte! Não poderia me queixar, pois quando ele chegava, era incrível! Sua atenção era totalmente voltada a mim, perguntava como foi meu dia mesmo sabendo que eu não fazia nada além de andar pela casa e assistir filmes e séries... Mesmo assim, adorava como ele parava e me encarava enquanto me ouvia com atenção.

Sophia fez inúmeras ligações tentando convencê-lo de ir ao aniversario da mãe, ele continuava irredutível, sempre a respondia de maneira grosseira.

Até mesmo Elena, a sua “segunda mãe”, tentou persuadi-lo, mas meu loiro arrogante não se deixou levar pelo drama delas, eu apenas o observava, pois de algum modo, aquilo mexia de uma forma gigantesca com ele.

Hoje era sábado, mesmo sendo final de semana, Matheus não parava sequer um minuto! Sua empresa completaria três anos na próxima semana, e ele estava preparando uma comemoração para seus sócios e envolvidos, ele estava totalmente indiferente com a situação, ou melhor, tentava se passar por indiferente, pois no fundo ele estava orgulhoso de seu trabalho. E eu? Mais ainda!

-Já terminou? –Falei enquanto me sentava ao seu lado. Matheus me olhou brevemente, balançando a cabeça negativamente enquanto voltava a mexer em seu celular.

-Não. –Ele falou.

-Falta muito? –Perguntei. –Já passam das sete. –Falei.

-Eu sei, Katrina. –Matheus respondeu grosseiramente. –Eu tenho relógio. –Caramba! Que fora!

-Ok. –Levantei as mãos e dei os ombros. Já era acostumada com as patadas que Matheus me dava. Ele ficou tenso a semana toda, e hoje não seria diferente. Era o dia nebuloso para ele, ou melhor, o aniversário de sua mãe. Eu estava sendo paciente com ele, mesmo recebendo diversas farpas, tentava agradá-lo.

-Eu preciso trabalhar. –Ele falou.

-Tudo bem. –Para bom entendedor... Ele estava me expulsando dali. Levantei e coloquei os papeis que eu havia tirado dali para sentar, Matheus ao menos me olhou, continuou concentrado hora em papéis, hora notebook.

Fui até a cozinha e peguei inúmeras coisas para comer e em seguida voltei pra sala, Matheus agora conversava com alguém pelo celular.

–Quer? –Murmurei enquanto erguia uma lata de refrigerante.

-Não, Katrina. Não quero. –Matheus respondeu de maneira rude. Dei os ombros e caminhei até a mesa de centro, depositando todas as minhas besteiras ali, logo depois, sentei ao lado da mesma, pois não queria atrapalhar o senhor rabugento. Fiquei sentada por quase vinte minutos em mais absoluto sigilo, até que o toque estridente do celular do Matheus fez com que eu o olhasse.

Ele murmurou algo, e posso apostar que não era um elogio, e quando atendeu trocou poucas palavras com a pessoa do outro lado da linha, mas posso afirmar com certeza, o que foi dito na ligação deixou Matheus inquieto e pensativo. Ele me encarava com um olhar vazio, parecia sufocado em alguma incerteza.

–Vai ser arrumar. –Ele disse enquanto se levantava.

-Arrumar? Onde vamos? –Questionei.

-Pra casa da minha mãe. –Foi a única coisa que ele disse antes de subir as escadas.

Respirei fundo e deitei no tapete fofo na cor preta que decorava a sala, encarei o teto por alguns segundos que pareciam horas.

-Ótimo programa pra fechar a noite. –Sussurrei irônica.

Subi as escadas com uma lerdeza que daria inveja a qualquer lesma. Eu não estava nem um pouco animada para as “festividades” dessa noite.

Quando cheguei ao quarto, vi que Matheus ainda estava no banho, então aproveitei esse meio tempo para escolher o que vestir. Não queria passar a imagem de menininha, tão pouco de uma garota vulgar. Eu só queria deixar Matheus orgulhoso de poder me levar a esses lugares, ou melhor, ter a capacidade de andar a altura dele.

Optei por um vestido azul, ele era meio solto, não tinha um decote extremamente chamativo, e o tamanho não deixava a desejar. Tinhas alguns detalhes de renda nas mangas, era apropriado para a ocasião, já que eu amava azul! Deixei o vestido sobre a cama e quando estava prestes a escolher o sapato fui surpreendida por Matheus que saiu do banheiro com a toalha envolvida em seu corpo, o cabelo estava molhado e sua cara era de poucos amigos, evitei contato naquele momento.

-Vou tomar banho. –Anunciei ao passar por ele.

O relógio mostrava que estávamos perto da oito, então, tomei um banho absurdamente rápido. Quando sai do banheiro, Matheus estava terminando de colocar sua camisa. Ele estava bem simples, isso até me espantou, vestia uma calça jeans escura e uma camisa polo preta. Nada em especial! Era clara sua má vontade de ir, mas algo parecia obrigá-lo a fazer essa “boa-ação”.

-Vou te esperar na sala. –Matheus não esperou uma resposta, apenas falou e desceu. Balancei a cabeça e encostei a porta. Eu estava absurdamente atrasada, precisava me apressar. Coloquei meu vestido e escolhi um salto preto, combinava com a escolha da roupa. O único problema era meu cabelo que não colaborava comigo de forma alguma. Tentei deixá-lo solto, mas isso não me agradou, então peguei minha escova e o penteei para cima e o prendi.

–Katrina! –Ouvi Matheus gritar da sala. Homens! Paciência é uma virtude meu caro. Me maquiei tão rápido que poderia entrar para o Guinness Book. –Estava na hora! –Matheus falou assim que apareci na sala. Seu olhar passeou pelo meu corpo, mas não tive elogios, apenas um aceno de cabeça.

-Vamos. –Falei e o segui em silêncio até o carro. Por boa parte do percurso, seguimos em silêncio, mas como a tagarela que existia em mim não ia embora... Tratei de puxar assunto. –Quem era no telefone? –Perguntei.

-Sophia. –Matheus falou sem tirar os olhos da estrada.

-Ela enfim te convenceu? –Continuei. –Como conseguiu? –Matheus balançou a cabeça parecendo desaprovar minha pergunta.

-Minha mãe está mal... –Matheus falou.

-Mal? –Perguntei com um sorriso nos lábios, talvez meu tom de voz saiu debochado demais para a situação.

Quer dizer, com certeza aquilo era drama! Algumas mulheres quando não conseguem o que querem jogam sujo dependendo do que a ocasião exige. E era exatamente o que essa senhora estava fazendo. Já não bastou ferrar com a infância dele, queria preocupá-lo agora em sua vida adulta.

-Sim, Katrina! Mal. –Matheus repetiu. –Porquê? Acha que ela está mentindo? –Matheus falou enquanto me lançava um breve olhar gélido.

-Não sou médica para dar opiniões sobre a situação. –Falei. Matheus me olhou surpreso, não esperava essa resposta naquele momento. O que foi? Só ele poderia ser rude? Toma lá dá cá, queridinho!

Fiquei em silêncio o resto do caminho, me cansei de ser paciente e só levar na cara. Apesar de muito tranquila com ele, eu não tinha sangue de barata.

EVAWhere stories live. Discover now