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KATRINA

-Você é maior de idade? –O tal Marcelo perguntou enquanto sentava no banco do meu lado.

-Sim, tenho dezoito anos. -Falei sem demonstrar interesse.

-Bem novinha... –Ele falou. –É sua primeira noite aqui? Parece estar bem nervosa... -Suspirei.

-Eu estou bem. –Falei. –Posso pegar outra bebida? –Falei na expectativa de mudar de assunto.

-Quantas você quiser. –Ele piscou.

Já estava no quarto copo, já não sentia mais nada dentro de mim, tinha que me equilibrar naquela banqueta, o que foi um grande desafio.

O cara olhava pra mim como se eu fosse uma pote de ouro, e claro, não demorou muito para ele começar a desfrutar desse meu estado, sua mão quente pousou sobre a minha perna, eu não demonstrei reação, ele então continuou a me alisar, aquilo era uma tortura.

Eu definitivamente não iria fazer isso, de jeito nenhum!

-Para! –Falei retirando a mão dele da minha perna, ele me olhou sem entender nada, apoiei meu corpo no balcão e com muita dificuldade consegui levantar, o cara segurou meu pulso, mas com um grande solavanco consegui me livrar, caminhei até o fundo da boate me esquivando das mãos bobas, quando cheguei, encostei meu corpo na parede e deixei com que ele escorregasse até o chão, onde me sentei e retirei o salto, o jogando longe.

Abracei meu joelho e comecei a chorar, chorei tudo o que estava reprimido esses anos, chorei por conta do amor que nunca recebi, pelo Pietro, por todos os abusos e humilhações, chorei por todos esses malditos dezoito anos!

Aquela vida não era minha, aquilo não seria parte de mim, eu não queria aquilo para mim... Não queria!

Voltar pra casa não era uma opção, ficar ali estava fora de cogitação, eu não suportaria mais.

Eu precisava de um sinal, de um milagre, de uma intervenção...

-Eu não quero isso pra mim... Eu realmente não quero mais. –Sussurrava coisas sozinhas como se fosse alguma louca, mas se eu ficasse ali, eu me tornaria uma... Parte de mim já estava morta.

-Katrina? –Abri meus olhos e ergui meu olhar, dando de cara com o Kenedy, ele me olhava sem entender bem aquela cena, mas de todas as coisas que ele poderia fazer, de todas as maldades ou brincadeiras de mal gosto que ele poderia tentar... Ele fez a coisa mais decente que ele poderia fazer por mim.

Ele veio até mim e abaixou-se, ficando diante de mim, encarando-me em silêncio.

Ele ergueu sua mão uma vez, duas vezes, três vezes... E na quarta conseguiu fazer o que talvez fosse sua intenção, sua mão tocou o meu rosto meio sem jeito, secando meu rosto.

–Você é muito fraca, Katrina... –Ele sussurrou enquanto aproximava seu rosto do meu.

Ao ver sua intenção, virei o rosto e o abaixei, encarando o chão, Kenedy afastou-se um pouco, provavelmente sem jeito por esse fora que acabará de levar, mas eu não estava afim de contato nenhum, eu precisava de ajuda, e qualquer intenção sem ser essa... Estava fora de cogitação.

Respirei fundo e finalmente o encarei, segurando sua mão que a pouco estava em meu rosto, ele fez o mesmo, encarou-me fixamente.

-Eu não quero ficar aqui, Kenedy... Você precisa me ajudar! –Falei em um sussurro.

Ele não disse nada, mas claramente estava travando uma guerra em sua cabeça: "ajudar: estar indo contra tudo o que ele venera por mim, consequentemente uma quase estranha em sua vida." "não ajudar: estar ajudando a puxar o gatilho apontado pra minha cabeça"... Realmente, não era fácil decidir tal coisa.

-Vai para o quarto, Katrina. -Ele falou enquanto levantava, desacreditado de suas próprias palavras, parecendo não estar pensando muito bem no que havia acabado de falar.

-E o Henric? -Perguntei enquanto limpava meu rosto com as costas da mão. Ele me lançou um olhar gélido e depois balançou a cabeça negativamente.

-Com ele eu me resolvo depois, agora para de chorar e vai logo, antes que eu mude de ideia! -Ele falou irritado, assenti e um sorriso brotou no meio daquelas lágrimas.

-Obrigada... -Murmurei enquanto me levantava.

Ele nada disse, apenas virou e caminhou pelo corredor, provavelmente querendo entender o porquê de estar me ajudando. Peguei o salto e os segurei apenas, não voltei a colocá-los.

Aquela era uma luz no fim do túnel pra mim, e quem diria... Meu salvador daquela noite foi o Kenedy! Quem poderia imaginar?

Voltei aos dormitórios, algumas meninas já dormiam, eu não estava cansada fisicamente, apenas psicologicamente, então aquela seria uma longa noite...

Troquei de roupa, vestindo uma calça um short de lycra preto e uma blusa grande, deixei as roupas vulgares que se dependesse de mim, jamais voltaria usar no lugar onde Marina havia pego. Quando voltei ao quarto, deitei na beliche, minhas costas logo sentiram a diferença dos colchões, aquele era duro, simplesmente horrível!

Pegar no sono ali iria custar... Mas eu tinha esperanças, Kenedy iria conversar com Henric, e eu teria grandes chances de sair daqui. Era o que eu queria acreditar. Era o que eu precisava acreditar.

EVAWhere stories live. Discover now