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KATRINA

Fiquei em silêncio, Sophia me encarava com um olhar sereno, e com um sorriso confortante, como se dissesse “está tudo bem...”, mas não, não estava.

Matheus iria arriscar-se por mim, e eu não poderia permitir.

Disfarcei, pegando meu copo de suco e tomei um longo gole, quando fui colocá-lo sobre a mesa outra vez, o coloquei em falso e o mesmo entornou sobre meu vestido fazendo com que eu soltasse um gritinho e levantei rapidamente, Sophia fez o mesmo.

-Que desastrada eu sou, desculpa... –Falei passando a mão no vestido.

-Que isso... Acontece. –Ela falou. –Vou buscar um pano pra você. –Antes que ela pudesse virar, segurei seu ombro e a tranqüilizei.

-Não. Fique aqui, eu vou ao banheiro e passo uma água, logo vai secar... –Falei sorrindo.

Ela assentiu e voltou a se sentar. Comecei a caminhar em direção a casa, passando a mão no vestido e disfarçando até chegar a casa. Mas ao invés de ir ao banheiro, fiz o que tinha de fazer, sair daquela casa e impedir o que provavelmente acabaria com uma tragédia.

Passei direto pela ampla sala e abri a porta pesada de mogno, daqui há alguns minutos Sophia notaria minha demora e viria atrás de mim, e quando isso acontecesse, eu já estaria longe. Caminhei pela calçada larga do bairro caro, meu vestido tinha uma mancha amarela enorme agora, e o cheiro de maracujá estava impregnado em mim. Perfeito!

Caminhei até um ponto de táxi que existia ali perto.
Não demorou muito pra chegar ao condomínio onde eu vivia, e assim que cheguei, cumprimentei o porteiro e passei como um raio pela portaria.

Quando cheguei perto da entrada, verifiquei se o carro do Kenedy estava lá, e pra minha sorte, não estava, apenas o carro preto do Pedro estava parado na porta.

Suspirei aliviada e corri até a porta, adentrando a casa e subindo sem ao menos olhar quem estava na sala.

Entrei no quarto e já fui direto até minha cama. Abri o meu baú e comecei a jogar tudo o que existia ali na cama, sem ao menos ligar se iria quebrar ou não, pois eu tinha pressa. Peguei uma calça jeans preta e uma blusa qualquer sem mangas, me troquei por completo e joguei o vestido no banheiro, levá-lo agora poderia ser um problema, sujaria o resto das roupas, então eu o deixaria.

-Onde você se meteu? –Valentina entrou no quarto, fechando a porta atrás de si. –Kenedy está louco atrás de você, Katrina... –Ela falou vindo em minha direção.

-Me empresta aquela sua mala grande? –Falei sem me importar com o que ela havia acabado de falar.

-O que você está fazendo? –Ela perguntou desconfiada.

-Me empresta ou não? –Falei impaciente.

-Pega... –Ela deu os ombros.

Passei por ela e peguei a mala grande com estampa de zebra que ela deixava debaixo da cama. Coloquei a mesma sobre a cama e comecei a colocar minhas coisas ali sem nenhum cuidado. Comecei a arrumar tudo num gesto mecânico, sem prestar atenção em volta.

-Ela veio aqui hoje? –Perguntei fechando a mala assim que a preenchi por completo.

-Já. Três vezes! –Valentina falou. –Ele está completamente louco.

-Então eu tenho que ser rápida. Antes que ele volte pela quarta vez. –Falei colocando alguns objetos na minha mochila, junto aos meus documentos.

-Ele ligou agora pouco, Pedro deve ter falado que você voltou. –Mordi meus lábios e suspirei.

-Droga, Pedro... –Falei angustiada.

Eu não tinha raiva do Pedro, pois esse era o seu “trabalho”, Kenedy era seu amigo a muito mais tempo, e se esse motivo não bastasse, deveria agora ter receio do que o “amigo” faria com ele, já que presenciou o que Kenedy foi capaz de fazer com Henric só para tirá-lo de seu caminho.

Pedro já podia imaginar o que faria com ele, caso Kenedy achasse que ele estava o atrapalhando.

–Valentina, o que eu deixei aqui, caso queria alguma coisa, é seu! –Falei pegando meu dinheiro e colocando no bolso menor da mochila.

-Você está fugindo? –Valentina falou abismada. –Kenedy nunca vai parar de te procurar. –Ela falou.

-Minha vida nunca foi fácil mesmo... –Falei. –Isso só vai ser mais um grande obstáculo. –Falei dando um sorriso cercado de nervosismo.

Coloquei minha mochila nas costas, coloquei meu tênis e me aproximei da Valentina.

-Boa sorte, Katrina... Você vai precisar. –Ela sorriu tristemente.

-Viver aqui nunca foi uma escolha, se eu continuar aqui, nunca vou ter a minha vida. –Falei. –Vocês que precisam de sorte. -A abracei rapidamente, e voltei a encará-la. –Se cuida, Valentina. –Sorri.

-Você também. –Ela sorriu em resposta e me deu passagem.

Peguei a mala, e quando estava prestes a descer, escutei o barulho dos pneus desenharem a rua com fúria.

-Kenedy. –Falei com o coração quase saltando pela boca.

Olhei alarmada para a Valentina, que retribuía com um olhar esbugalhado.

Minhas pernas já tremiam, assim como minhas mãos que agora tinham dificuldade em segurar a mala.

–Estou morta! –Escutei um grande estrondo.

-CADÊ ELA? –Ouvi a voz furiosa de Kenedy.

-No quarto. –Morgana respondeu. Maldita!

Meu coração iria parar de bater a qualquer momento.

Tirei a mochila das costas e me ajoelhei perto da cama, tentando esconder tanto a mochila, quanto a mala em baixo dela, mas logo ouvi os passos pesados do Kenedy na escada de madeira e a porta ser aberta com violência.

Posso dizer que naquele momento, meu coração parou por alguns segundos e eu esqueci como respirar.

EVAWhere stories live. Discover now