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KATRINA

-Sabe como é... –Pedro deu os ombros. A mulher balançou a cabeça negativamente enquanto sorria. Só então, pareceu notar minha presença ali.

-Sua namorada? –Ela me olhou sorrindo.

-Não! –Falamos juntos e ela riu.

-Somos só amigos. –Pedro falou.

-É. Amigos. –Falei passando a mão pelo braço. Ela deu uma piscadinha para mim, como se não acreditasse em nos. Sorri meio sem graça diante essa situação.

-Vamos... –Ela seguiu por um curto corredor cheio de portas. Ela entrou na penúltima porta, Pedro a seguiu e eu também, era um cômodo enorme e “aconchegante”, o cheiro de amaciante reinava no ambiente. A tal Carol distribuía os copos com os compridos para os idosos e outra ia dando água. Fiquei ao lado de Pedro, que parecia ignorar tudo em sua volta. –Ali está ela. –A mulher falou. Olhei para onde ela apontava, e Pedro fez o mesmo.

Caminhamos até uma senhora sentada ao lado de uma enfermeira, elas pareciam conversar.

–Dona Tereza? –Carol a chamou, e logo ganhamos a atenção da senhora. Ela parecia ter seus setenta anos, seus frios grisalhos e marcas de expressão confirmavam meu “achismo”, ela vestia o que parecia ser um pijama, seu sorriso era meigo. A senhora nos olhava com curiosidade, seu sorriso tinha certa curiosidade agora.

-Quem são? –Ela perguntou. A Carol olhou para o Pedro, o mesmo encarava a senhora totalmente sorridente.

-São voluntários, dona Tereza. –A Karol falou. –Vieram ajudar.

-Ah sim... –Ela ainda nos olhava, Pedro não desgrudava os olhos dela.

-Está sol lá fora... A senhora quer aproveitar? –A enfermeira ao seu lado falou.

-Quero. Quero sim. –A senhora falou.

-Então vamos. –Quando a enfermeira estava prestes a ajudá-la a levantar, Pedro se prontificou e correu para ampará-la.

-Obrigada, obrigada. –A senhora agradeceu enquanto sorria e saia ao lado da sua acompanhante. Logo sumiram pelo corredor.

-Ela parece bem. –Pedro falou.

-Sim. –Carol falou. –Ela reagiu bem hoje, e esse tempo só ajudou. –Pedro assentiu.

-Quem é? –Insisti.

-Minha avó. –Pedro falou com uma feição vazia.

-Avó? –Repeti abismada. –Ela não se lembra de você?

-Alzheimer. –Pedro falou com uma voz meio abalada. –Ela tem Alzheimer. –Poxa... Aquela doença, aquela cara triste do Pedro... Ao ver minha feição abalada, Pedro passou o seu braço ao redor de meu pescoço e me guiou até o corredor, entramos no que parecia ser uma sala de visitas. –Senta aí... –Ele me soltou e eu fiz o que ele pediu, eu ainda estava atônita, perturbada... Poxa, sua avó não se lembrava do próprio neto? Aquilo me cortava o coração de tal forma.

Observei enquanto Pedro caminhava até uma daquelas máquinas que vendiam besteiras, ele mexeu em seu bolso e colocou alguma coisa na mesma, e logo voltou trazendo duas latas de refrigerante.

-Eu sinto muito... –Falei assim que Pedro sentou ao meu lado.

-Não sinta... –Ele sorriu de canto. –Não tem como ela viver comigo. –Pedro falou como se tivesse lendo meus pensamentos. –Foi a melhor opção que encontrei para ela.

-Então por isso você trabalha lá? Com Kenedy? –Perguntei.

-Eu não as julgo por isso, Katrina... Pois de certa forma, eu também me vendi. –Ele falou. –Morávamos minha mãe, minha avó e eu, há certa de sete anos minha mãe faleceu e só me sobrou ela. Minha avó já dava sinais da doença, mas ainda estava no inicio, eram pequenas coisas... Tudo foi piorando, e certo dia ela surtou de vez, tiveram que levá-la ao hospital para acalmá-la, ela já não se lembrava de mim. Eu tinha apenas dezoito anos, Katrina... Estava terminando o ensino médio e trabalhava de vendedor em uma loja no shopping. Comissão. –Ele sorriu como se estivesse lembrando da época. –Mal dava pra me sustentar, o que eu faria? Minha avó precisava de mim, e era meu dever, minha obrigação é ajudá-la. Eu já conhecia o Kenedy, na realidade, o conheço desde que me entendo por gente... –Ele deu os ombros. –Kenedy sempre teve de tudo, a família dele tem dinheiro, e ele não precisava se meter em boa parte do que ele já se envolveu, mas ele sempre gostou disso, desde menino se interessava por problemas. Ele me contou que estava trabalhando com um cara, o dinheiro que ele pagava era alto, e que se eu quisesse, ele conseguia me colocar nesse esquema. –Pedro passou a mão pelo rosto e me encarou. –Eu estava desesperado, precisava me sustentar e a minha avó também... Então eu não pensei duas vezes. E foi como o Kenedy disse, o dinheiro era alto, e fácil, além disso, Henric sempre estava do lado como nosso mentor, ele mandava e nos obedecíamos, sempre foi assim. Sem questionamento. Eu não concordava com boa parte do que ele mandava, mas obedecia.

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