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Maratona 1/7

KATRINA

[...]

Passaram-se quase uma semana desde a conversa desastrosa com Matheus.

Nesses dias, ele não chegou ao menos a trocar uma palavra comigo, até evitava olhar pra mim, ainda parecia irritado, e eu também não o procurei, não tentei falar e nem me desculpar, pois no fundo, eu não estava arrependida de ter dito aquelas palavras.

Qual é? Há dezoito anos eu carreguei segredos, palavras em minha garganta, e eu não suportava mais tal idéia.

No dia seguinte a nossa discussão, Matheus começou a chegar muito tarde, ele passava quase a madrugava inteira fora, e quando chegava, sua roupa estava amarrotada, a gravata apoiada em seu ombro e o cabelo molhado, e eu sabia perfeitamente a razão disso, ele estava dormindo com alguma mulher ou algumas, não é? Afinal, Matheus não tinha relacionamentos fixos com ninguém, muito menos com alguma “garota de programa”.

Certa vez, me atrevi a pegar sua roupa no cesto de roupas para lavar, não achei marcas de batom, mas senti o aroma doce e forte de algum perfume feminino e devo confessar, que aquilo foi como um soco em meu estômago.

Me permiti a deixar algumas lágrimas rolarem ao pensar que alguém estava se usufluindo do seu corpo, seus olhos já não tinham apenas a mim como alvo... Aquilo estava me matando.

Na noite anterior, perdi completamente o sono enquanto o esperava, passava das 2h e nada dele chegar, a insegurança já preenchia meu coração, meu rosto deveria ter inchado horrores, minhas lágrimas se tivessem sido aproveitadas, provavelmente aumentariam o nível de alguma represa.

Minutos mais tarde, naquela mesma noite, ouvi os passos nada discretos de Matheus, levantei rapidamente e abri a porta do meu quarto, para que ele visse que eu estava o esperando, Matheus estava do mesmo jeito das noites seguintes, roupa amarrotada e cabelo molhado, ele apenas me encarou por alguns segundos antes de entrar em seu quarto, e fechar sua porta.

A indiferença dele estava me matando.

E o pior era saber que ele sabia dos meus sentimentos, e não fazia nada para correspondê-lo da forma que eu imaginava.

Hoje era sexta-feira, passava das oito da noite e o Matheus como sempre não havia aparecido em casa. Assisti a um daqueles filmes que te deixam depressivas e com um humor no chão, daqueles com o final nada motivadores.

Resolvi lavar minhas roupas, pois as que eu havia levado comigo já estavam precisando desesperadamente encontrar com o sabão em pó.

As coloquei na maquina pra lá de sofisticada do Matheus e voltei para cozinha, estava preparando meu jantar, ou melhor, me aproveitando da comida que Elena havia levado para Matheus.

Meu pensamento estava longe, eu precisava de roupas novas, e o mais importante... Dinheiro. Eu não tinha como arrumar, ou melhor... Tinha sim! Pedro. Pedro me salvaria como sempre.

Corri até o telefone e disquei o seu número, mas logo fui surpreendida por Matheus, ele segurava algumas sacolas.

Respirei fundo e tornei a colocar o telefone no gancho, Matheus me encarou por alguns segundos, fiz o mesmo, ele não estava com o cabelo molhado nem desarrumado, estava igual a como havia saído hoje de manhã para o trabalho.

-Oi. –Ele falou.

Eu apenas balancei a cabeça, sua presença me balançava, me deixava insegura e desarmada.

Matheus parecia saber disso, e usava isso ao seu favor.

Ele me encarava e eu o encarava de volta.

Eu o amava.

Amava com todas as minhas forças, mas já não podia afirmar o mesmo de Matheus, ele parecia não se importar comigo as vezes, outra hora, enfrentava o perigo pra me salvar, depois dormia com outras mulheres... Como eu poderia saber o seu real sentimento, sua real intenção por mim? Ele não me permitia compreendê-lo, e mal sabia ele, o quanto isso me machucava.

–Você está bem? –Ele perguntou.

Balancei a cabeça outra vez, Matheus então pegou a minha mão e a segurou por alguns segundos, sua mão estava fria, a minha estava quente. Éramos assim... O oposto do outro.

-Sim. –Falei.

Puxei minha mão e virei indo em direção da cozinha antes que eu pulasse em seu pescoço e falasse o quanto sentia sua falta.

Matheus me seguiu para meu total azar.

-Estava falando com quem? –Ele perguntou. Olhei para o mesmo enquanto deixava meu prato em cima da bancada. Sorri ironicamente e balancei minha cabeça.

-E isso te importa? Afeta sua vida? –Falei. Matheus sorriu com deboche e cruzou os braços.

-Talvez afete. –Ele falou.

-Talvez, é? –Repeti em voz alta balançando a cabeça e sorrindo como quem havia escutado uma piada. –E porque então? Porque te afeta, Matheus? –Perguntei passando por ele.

Matheus então voltou a segurar minha mão, dessa vez puxando meu corpo para ele. Tentei me afastar, mas ele segurou meu corpo com força.

–Me solta. –Ordenei o encarando.

-Não solto. –Ele falou num tom desafiador.

-Cansou de brincar com suas outras garotas pagas? –Falei com petulância.

Matheus pareceu surpreso com minhas palavras, mas acabou rindo.

–Não contei nenhuma piada, Matheus. –O empurrei, de nada adiantou. –Me larga! –Falei.

-Quer mesmo que eu te largue? –Ele perguntou me encarando de forma profunda.

Quero! Quero que ele me solte... Ou não? Quero estar ali? Em seus braços? Quero! Com toda certeza. Era o meu paraíso.

-Quero.. –Falei tentando fingir uma certeza que certamente eu não possuía.

-Não senti verdade em suas palavras. –Ele falou, ainda me encarando. Desviei o olhar e passei a mão em meu rosto.

-E eu não sinto verdade em nada que venha de você, na realidade, eu nem o  compreendo, Matheus! Me ignora, me destrata, me magoa e mesmo assim eu... Eu... –Não terminei de falar, as palavras fugiram de minha boca.

-E mesmo assim gosta de mim? –Ele falou. Falou com tanta firmeza nas palavras, que senti meu coração parar de bater naquele mesmo instante. Ergui meu olhar para encará-lo, e lá estava ele, com o mesmo olhar de quando tinha assumido que gostava “um pouco” de mim. –É isso?

EVAWhere stories live. Discover now