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KATRINA

-Relaxa, loira... –Pedro retrucou bem-humorado.

-Você estava na boate? –Falei mudando de assunto mesmo sem querer. –Quando te liguei o barulho era alto. –Pedro assentiu enquanto tirava seu boné e passava a mão pelo cabelo, colocando seu boné novamente em seguida.

-Sim, estava. –Ele bocejou. –Por que saiu da casa do riquinho? Cansou da vida de madame? –Pedro novamente estava usando seu humor em uma péssima hora.

-Kenedy sabe que eu te liguei? –Falei ignorando sua pergunta, ou melhor, suas perguntas.

-Lógico que não, Katrina. –Pedro falou. –Ele está de serviço hoje. –Pedro esfregou os olhos, como se estivesse cansado. –Estou morto de sono, virei a noite naquela boate e vou ter que virar de novo. –Pedro reclamou enquanto xingava alguém.

-Kenedy de serviço? –Estranhei. –E por que ele te deixou esse tempo todo na boate? Aliás, desde quando ele te coloca pra “vigiar” a boate? Ele não tem outras pessoas para exercer essa função? –Perguntei intrigada.

-Muita coisa mudou desde que você foi embora, Katrina. –Pedro falou.

-Como assim? Que coisas? –Questionei curiosa.

-Preciso de um café ou um energético, caso contrário vou ter uma pane aqui. –Pedro novamente ignorou minhas perguntas. –Será que aqui vende energético? –Pedro olhou para a lanchonete.

-Pedro! –Falei beliscando seu braço. –Responde! Que coisas mudaram? –Pedro revirou os olhos e voltou a me encarar.

-Vamos para um lugar mais vazio. –Ele enfiou as mãos em seus bolsos e pegou sua chave, destravando seu carro. –E o mais importante... –Ele abriu a porta. –Que venda café! –Ele falou antes de embarcar no carro. Bufei frustrada e contornei o carro, embarcando assim como ele.

Pedro se negou a conversar durante o caminho, falou que estava cansado demais para fazer duas coisas ao mesmo tempo, segundo ele, ou me dava atenção, ou prestava atenção na estrada. Depois de passar por diversas ruas, encontramos uma pizzaria ainda aberta, Pedro parou em frente dela e desembarcou do carro. Poucas pessoas freqüentavam o lugar, afinal era um pouco afastado do “centro nervoso” da cidade, era aquelas pizzarias de bairro... Apenas alguns casais e amigos estavam no local.

-Aqui não vende café. –Alertei Pedro.

-Vende energético. –Ele piscou pra mim enquanto caminhávamos até uma mesa vazia no fundo do estabelecimento. Pedro pediu uma pizza e três latas de energético, enquanto eu pedi uma lata de refrigerante.

-Ou você fica enérgico, "pilhadão".. Ou tem um ataque do coração. –Falei assim que a garçonete se afastou.

-Já passei por coisa pior e continuo aqui vivo. Invicto. –Pedro se gabou.

-Ok, senhor invicto. –Falei com sarcasmo. –Pode me contar agora das mudanças? –Perguntei enquanto me inclinava sobre a mesa para encará-lo, antes que Pedro pudesse contar algo, fomos interrompidos pelo toque de seu celular. Pedro pegou o celular do bolso e olhou brevemente o visor, fazendo uma cara nada boa.

-Olha a grande mudança ligando. –Pedro falou antes de atender seu celular.
Pedro trocou poucas palavras com a pessoa do outro lado da linha, seu tom de voz ficou até mais “manso”. Eu o observava com atenção, Pedro apenas concordava e por fim finalizou o diálogo com um “entendido”.

-O que foi isso, Pietro? –Questionei enquanto franzia o cenho. –Era o Kenedy? –Pedro balançou a cabeça.

-Como eu disse, muita coisa mudou! –Pedro falou enquanto se escorava no encosto de sua cadeira estofada.

-Eu já sei disse, Pedro! –Falei irritada. –Não quero esses tipos de comentários... Quero saber logo dessa mudança!

-Depois que você foi embora, Kenedy surtou de vez... –Pedro passou a mão em seu rosto. –Mas antes que ele pudesse tramar qualquer coisa contra o cara lá... –Pedro olhou pra mim como se estivesse querendo saber o nome. O nome do Matheus.

-Matheus? –Falei em duvida.

-É! –Pedro sorriu torto. –Antes que ele pudesse fazer algo contra o Matheus, foi surpreendido por uma notícia que mexeu e praticamente acabou com todos os planos dele. –Pedro olhou por cima do meu ombro e parou de falar, virei e vi o motivo de seu silêncio, a mulher estava trazendo nosso pedido. Eu batia minhas unhas totalmente impaciente enquanto observava a mulher se mover feito uma lesma, Pedro parecia divertir-se com meu nervosismo, pois ele tentava a todo momento conter sua risada.

-Obrigada... Obrigada! –Falei pegando as latas da mão da mulher, que me olhou meio torto e logo saiu. –Que lerda! –Murmurei fazendo uma careta e colocando as latas sobre a mesa. –E para de me enrolar, Pedro! –Pedro levantou as mãos em defesa.

-Vou contar rápido mesmo, pois tenho que estar na boate daqui á vinte minutos. –Ele balançou a cabeça e pegou uma lata, abrindo a mesma e tomando um gole do seu energético. –Continuando... Você sabia que o Henric tinha um irmão, não é? –Ele falou com toda naturalidade do mundo. Minha cara deve ter sido um poema. Arregalei os olhos e balancei minha cabeça freneticamente.

-Não. Não sabia. –Falei.

-Pois bem, está sabendo agora... –Ele sorriu com a minha expressão de surpresa. –Henric e ele nunca se deram bem, no começo até eram sócios, mas o Hector sempre f... –O interrompi.

-Hector? –Perguntei.

-É... O irmão do Henric. Ele assumiu tudo. –Pedro falou.

-Kenedy permitiu? –Falei meio confusa.

-Como eu disse, foi tudo muito rápido, essa história pegou o Kenedy de surpresa, ele não tinha nada articulado, nenhum plano formulado caso essa possibilidade viesse a acontecer. –Ele deu os ombros. –O jeito foi concordar e continuar. –Ele novamente voltou a beber seu energético.

-Eu ainda não entendo, Pedro... –Falei passando a mão pela minha cabeça. –Se Kenedy tirou o Henric de circulação, porquê não fez o mesmo com esse cara? Hector? É isso? –Perguntei.

-Sim. Hector. –Ele olhou seu relógio e voltou a me encarar. –Como eu disse, no início Henric e ele eram sócios, mas Hector sempre foi o mais esperto, pensava antes de fazer as coisas, calculava e pensava em todas as possibilidades... Já o Henric sempre foi impulsivo, alguém oferecia uma boa quantia e ele já aceitava sem pensar nas conseqüências... E cometeu o erro que custou sua vida: confiar no Kenedy. –Pedro respirou fundo. –Hector não é assim, ele não confia na própria sombra.

EVAWhere stories live. Discover now