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KATRINA

-E esse daqui? Você não gosta? -Ela disse puxando um vestido preto frente única.

-Acho que pra ocasião não é a melhor escolha. -Falei e dei os ombros.

-Acho que não meus vestidos não servem em você. -Ela falou analisando meu corpo rapidamente.

-Pois é, esqueci de ter os traços de mulher, deve ser algum atraso. -Zombei de mim mesma. Gabi balançou a cabeça negativamente e bateu seu braço no meu.

-Ha-ha. -Ela falou fingindo rir. -Você poder até ser magrela, mas tem uma cinturinha de dar inveja pra muita modelo. -Balancei a cabeça eu ri. -E esse daí? -Ela apontou para um vestido que ainda estava na mala. Inclinei a cabeça para o lado encarando o vestido.

-Talvez... -Torci os lábios e me curvei para pegar o mesmo. -Eu usei esse em minha formatura. -Falei com um sorriso sereno, a imagem das pessoas, dos meus colegas de classe e professores veio em minha mente como um passe de mágica, eu juro que podia escutar as risadas e a musica ruim da festa, fora o cheiro de óleo dos salgados servidos na recepção.

-Você realmente é uma pirralha, Katrina! -Gabi sorriu e se aproximou de mim. -Qual sua idade?

-Tenho dezoito. -Falei encarando o vestido. -E você? -Perguntei por educação e a olhei rapidamente.

-Vinte e quatro. -Ela deu os ombros.

-Entendi. -Falei sem dar muita importância, naquele momento, eu estava mais interessada em como aquele vestido ficaria em mim. Era notável a diferença da Katrina de agora, de certa forma, eu havia ganhado mais corpo. Eu queria ficar bonita, queria que ele tivesse a lembrança de uma Katrina diferente. Os vestidos que eu costumava usar para "sair" com ele na época do Henric, eram completamente diferentes, tinham fendas e decotes absurdos, os tamanhos também não eram nada discretos, pois apesar de serem vestidos caros, de marca, não mudava a mensagem que ele passava: "acompanhante".
Balancei a cabeça tentando afastar esse pensamento.

-Acho que vai ficar bom. -Falei enquanto levantava e colocava o vestido em frente ao meu corpo. -O que você acha? -Encarei a Gabi.

-Vai te deixar com um ar de menininha... -Ela falou analisando o vestido.

-Talvez se eu... -Gabi levantou em um pulo e correu pelo quarto.

-As panelas! Eu não desliguei o fogão... -Ela gritou saindo do quarto. Ri sozinha ao pensar no meu saboroso almoço... Gabi tinha uma personalidade completamente diferente, tinha inocência, mas também já havia conhecido a malícia, a maldade... Assim como eu. Novamente eu estava com os pensamentos voando para um lugar que eu realmente não queria mais pousar.

Era muito difícil esquecer meu passado, ainda mais quando se esta cercada de peças que de um jeito ou de outro, me levavam diretamente para o início, seria uma tarefa árdua, com certeza.

Outra vez tentei esquecer o assunto, caminhei até o espelho que ficava ao lado do quarto, e realmente constatei que era verdade o que a Gabi falou, me deixava completamente diferente da Katrina que Matheus estava acostumado. Era perfeito para a ocasião! Matheus nunca conheceu a Katrina Gottardi, ele conheceu apenas a "Eva", uma loira que dormiam com os homens por dinheiro. Já era hora de mostrar o que eu realmente sou, ou melhor, o que eu fui antes de todos os infortúnios.

-Perfeito. -Murmurei contemplando o reflexo do vestido.

O dia praticamente se arrastou, Gabi conversou comigo durante todo esse tempo, ela falou o quanto estava frustrada pelo seu relacionamento pouco duradouro, e do quanto era difícil recomeçar depois de viver daquela forma. Eu não estava sendo uma boa ouvinte, pois apenas meu corpo estava ali, minha mente estava em outro lugar, ou alguém, ou melhor... No Matheus.

Gabi me explicou como as coisas funcionavam ali, contou de como era a convivência com as outras meninas, os afazeres, os cuidados e tudo o que eu precisava saber, o que não era muita coisa, dava pra viver tranquilamente ali, assim eu esperava.

-As meninas chegam as onze. -Gabi falou enquanto arrumava-se para ir trabalhar, segundo ela, trabalhava em uma farmácia 24 horas na rua de cima. Ela tinha outros planos, óbvio, fazer uma faculdade, viajar, casar, e quem saber até ter filhos... Afinal, não éramos tão diferentes assim, pois no fundo, acho que todas ali desejávamos ter uma família, uma família de verdade... -Fica a vontade durante esse tempo, acho que já te expliquei onde tudo esta guardado e como tudo funciona, não é? -Ela me encarou enquanto passava a escova pelo seu longo cabelo. -Acha que vai ficar bem aqui sozinha? -Assenti.

-É claro, pode ir sossegada, Gabi. -Sorri. -Vou ficar bem. -Sentei na poltrona e a encarei.

-Então já vou indo. -Ela falou colocando a escova na bancada. -Já estou atrasada. -Ela fez uma careta e andou apressadamente até a porta, pegou sua bolsa e antes de sair, virou e me olhou. -Beijo, beijo. -Ela acenou e fechou a porta em seguida. Respirei fundo e olhei para a TV que estava ligada em um programa qualquer. Nem sei ao certo o tempo que fiquei encarando o aparelho sem prestar atenção no que ela falava, mas estava sozinha demais para desligá-la, quer dizer, deixá-la ligada, me passava mais segurança. E foi nesse meio tempo que meus olhos começaram a pesar, então me ajeitei no sofá e acabei apagando.

-Katrina? -Senti meu corpo ser balançado com delicadeza, abri meus olhos lentamente e me deparei com Thayna em minha frente, ela sorria de maneira amigável.

-Desculpa, nem vi a hora passar e... -Falei ainda meio sonolenta e aérea ao que se passava em minha volta.

-Ei, calma! -Ela sorriu e ouvi vozes na sala, cocei os olhos e ergui meu corpo, me deparando com Pedro sentado em um dos bancos que ficavam acoplados ao pequeno balcão de maneira.

-E aí, bela adormecida. -Ela sorriu.

-Oi, Pedro. -Passei a mão em meu cabelo e sentei de maneira correta no sofá. -Tudo bem? -Ele assentiu.

-Tudo. -Ele balançou a cabeça. -Trouxe uma pizza pra vocês. -Ele falou inclinando seu corpo para lado e mostrando a caixa que estava ao lado de uma sacola, provavelmente com algum refrigerante.

-Que ótimo. -Sorri de canto. -Estava com fome. -Falei e as meninas riram.

-Coitada, deve ter sofrido com a comida da Gabi. -Letícia falou. Pedro e Thayna sorriram. -Eu vou tomar um banho, se quiser podem ir comendo sem mim. -Letícia pegou a toalha no quarto e entrou no banheiro, Thayna ia dizer algo, mas seu celular tocou, ela pegou o mesmo na bolsa e sorriu ao olhar para o visor.

-Podem comer. -Ela sussurrou e atendeu, abrindo um grande sorriso e em seguida entrou no quarto, fechando a porta.

-Deve ser alguma paquera dela. -Falei e Pedro assentiu. -Pedro? -Falei me aproximando dele.

-Diga. -Ele falou sem me encarar, estava concentrado demais pegando seu pedaço de pizza.

-Quais das garotas foram chamadas para servirem de acompanhante amanha? -Perguntei e ganhei seu olhar.

EVAWhere stories live. Discover now