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KATRINA

-O que eu faço? –Perguntei enquanto me espreguiçava.

-Coloca os pratos na bancada... –Assenti e abri o armário, pegando os pratos. –Dormiu bastante, hein? –Ela comentou bem-humorada.

-Estava cansada... Não só fisicamente como mentalmente. –Falei enquanto arrumava as coisas. –Sei lá, Valentina... As vezes acho que estou quase desistindo disso tudo, e minha vontade na maioria das vezes é de jogar-me de um prédio de mil andares. –Sorri tristemente.

-Nem brinca com isso! –Ela colocou o que parecia ser um arroz de forno em uma travessa de vidro e depois me encarou. –Você é muito jovem... Não pense em desistir, sua hora vai chegar, tudo é provisório.

-Esse provisório está durando muito pra mim. –Falei e suspirei.

Enquanto almoçávamos as meninas riam e conversavam de diversos assuntos, eu apenas assentia e sorria educadamente. Julia e Camila ficaram de lavar a louça, então estava livre pra fazer o que bem entender durante aquela tarde de domingo deprimente.

Já que não tinha permissão de sair do condomínio, pensei em pelo menos ficar na porta, sentada na calçada respirando sem sentir-me presa em um aquário de vidro.

-Oi. –Olhei pra trás e vi o Kenedy.

-O que você quer? –Falei rispidamente. –Veio conferir se eu fugi?

-Caramba! TPM ou é só sua falta de humor ou educação mesmo? –Revirei os olhos e voltei a encarar a rua.

-Qual a sua? –Falei sem olhá-lo. –Eu quero ficar sozinha! Posso ou não?

-Ei, relaxa, loira... Só vim te fazer companhia. –Ele falou.

-Eu não quero companhia, e mesmo se quisesse você seria a última pessoa a ser escolhida. –Falei dando os ombros e ele sorriu torto.

-Tirou o dia pra ser chata? –Ele falou com sarcasmo. –Quem te deu esporro foi o Henric, não eu! –Ele levantou os braços.

-Vocês são todos iguais. –Falei com desdém. –Agem como se fossem donos do mundo, das meninas... De mim. –O olhei. –Eu não tenho dono, eu não pertenço a ninguém! Não sou um objeto.

Ele me olhou por alguns segundos sem demonstrar reação, depois olhou pra cima.

-Tudo nessa vida tem seu dono, Katrina... –Ele me lançou um olhar gélido. –Querendo ou não, por bem, ou por mal... –Ele sorriu cinicamente. –Por mal é bem melhor, todo mundo gosta das difíceis.

-Você é um nojento... –Murmurei. –Todos você são! –Dei os ombros.

-Você está se achando muito, Katrina. –Ele falou. –Se você acha o Henric “nojento”, é porque ainda não me conhece... Eu posso ser muito pior que ele.

Ao invés de ter medo de suas palavras, eu sorri, sorri com todo desdém que existia em mim, ergui minha cabeça e o encarei.

-Vai me matar? –Perguntei. –Devo ter medo? –Provoquei. –Não sei se você percebeu... Mas já estou morta há muito tempo, Kenedy. –Ele soltou um riso cínico e balançou a cabeça.

-Quanto drama, Katrina... Pensei que você era mais audaciosa.

-Eu ainda não entendi o que você quer aqui... Fazer amizade comigo não é, na realidade acho que você não é amigo de ninguém! –Ele sorriu novamente e assentiu pra minha surpresa.

-Esse é o ponto que eu queria chegar, loira. –Ele fechou os olhos e inclinou a cabeça para ambos os lados de maneira frenética, logo ouvi os estalos de suas juntas, o som me deu um grande desconforto.

-Que ponto? –Perguntei.

-Você é a kriptonita do Henric. –Ele abriu os olhos e me encarou de maneira sombria. –Pode destruí-lo se for aconselhada da forma correta, pode chegar longe se for bem engajada.

-Suponho que há maior interesse da sua parte, do que da minha... Estou certa? –Ele sorriu torto. -Estou bem assim! Não quero confusão com ninguém, muito menos com o Henric. -Falei e mirei meu olhar para a rua, tentando ignorar sua presença, mas o cachorro faminto não desistiria do pedaço de carne antes de rosnar.

-Qual é Katrina? –Ele falou. –Todos nós temos um objetivo na vida, essa é a nossa gasolina... Qual é o seu sonho? –O encarei. –Seja o que for, eu posso conseguir realizá-lo, claro, com sua ajuda, mas seja o que for, eu vou conseguir... O céu será o limite.

Cerrei os olhos enquanto o encarava, tentando decifrar sua real intenção, tentando ler sua alma.

-Eu não confio em você. –Falei e ele sorriu.

-Está certa... Primeira regra básica de sobrevivência nessa selva de pedra é: não confie em ninguém.

EVAWhere stories live. Discover now