13/04/2018

4.3K 249 8
                                    

Estamos há quase 1 mês do inicio da infecção, o abatimento e a depressão são claros no rosto de todos embora as duas crianças do nosso grupo parecem não perceber o risco que correm e é bom assim.

Passamos a racionar  água e comida, as crianças comem 3 vezes por dia e o restante de nós apenas 2. Perdi algo em torno de 5 kg e me sinto um pouco fraco, não tomo banho há 3 dias assim como todos do grupo, faz tempo que não chove e não queremos gastar água com algo que nesses tempos virou um desejo ao invés de necessidade.

Não ouço músicas há duas semanas. Logo eu que não passava 1 dia sem o fone de ouvido. Além das músicas também não escuto o som de um carro, moto ou avião há alguns dias, nos primeiros dias o fluxo de veículos parecia bem intenso e quase decidimos seguir o mesmo caminho, mas ultimamente a única coisa que ouvimos vindo de fora da casa são os grunhidos dessas coisas. Um sentimento ruim toma conta de mim, eu que reclamava tanto da minha vida, de ter que acordar cedo pra estudar, dos professores me cobrando trabalhos, da minha mãe cobrando as atividades em casa... Hoje nem isso tenho e daria tudo pra ter  de volta, ter a minha vida de volta. Me sinto impotente e fico furioso ao mesmo tempo só de pensar que todas as pessoas que conheci, meus amigos, parte da minha família e a garota de que gostava devem estar mortos ou vagando como uma dessas coisas pela cidade. Com o inicio de tudo isso acabei me aproximando mais da minha vizinha e hoje estou com ela, meu pai e minha também se reconciliaram logo depois de nos trancarmos em casa, ao menos o convívio entre nós é bom.

20/04/2018

Até que enfim choveu. Foi uma das melhores coisas que aconteceram nos últimos dias, enchemos parte dos recipientes, tomamos banho, foi ótimo.

Espero ainda o resgate, não é possível que tudo tenha acabado de uma hora pra outra, mas parece que ninguém nunca planejou nada e que estamos sozinhos agora.

O desgaste mental é evidente, confinado 24 horas por dia dentro de uma casa, sabendo que não poderá sair sem correr um alto risco de vida e que mesmo ficando aqui dentro o futuro é no mínimo incerto mexe bastante com a cabeça de uma pessoa. Esse livro ou espécie de diário que inventei foi algo como uma válvula de escape como aquelas das panelas de pressão. Eu não aguentava mais a situação e vi que começava a perder o controle de mim mesmo foi só aí que resolvi fazer algo para me distrair um pouco.

Não paro tanto pra escrever porque quando não estou dormindo ou extasiado demais pra fazer qualquer coisa estou ajudando os outros a nos manter vivos. Nossa divisão de trabalho é simples, as mulheres cuidam da comida e de manter a casa e nossas roupas limpas, além de cuidar das crianças. Já os homens ficam responsáveis pela vigia que foi dividida em turnos, dois de nós ficam acordados por noite, dia sim dia não eu fico acordado a noite, assim como os outros. Trabalhamos com as ripas e barras de ferro que compramos, fizemos lanças afiadas, é uma boa arma.


Diário de Um SobreviventeWo Geschichten leben. Entdecke jetzt