15/04/2019

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Não consegui pregar os olhos durante um minuto sequer durante toda a noite e a cada "tic" do relógio meu coração pulsa com mais intensidade. Já conferi a arma e a pouca munição que Rayssa me deu incontáveis vezes e de 5 em 5 minutos observo pela janela pra certificar que nada comece sem que eu perceba.

Debruço-me sobre o criado mudo junto ao diário e faço das folhas do pequeno livro o meu calmante. Me preparo psicologicamente para o que estar por vir, não que eu já não tenha passado por situações tensas o bastante e de forma muito mais inesperada que essa e creio que esse seja o motivo de eu estar tão nervosa. Não sei como me preparar pra isso e nem sequer se há como haver algum preparo para o que vai acontecer então descarregar um pouco da tensão aqui parece ser a única coisa que pode funcionar.

Ainda não amanheceu e como o planejado eu já estou pronta para descer e avisar as pessoas do meu prédio. Tenho que reuni-las e esperar pelo momento certo para escapar, é isso que eu tenho de fazer e é isso que eu irei fazer, a vida destas pessoas depende de mim e eu espero ser forte o bastante para aguentar este fardo.

Desci e bati porta por porta avisando a todos o que iria acontecer, os reuni um a um e caminhei pelos corredores agrupando cada vez mais pessoas junto conosco. Alguns esboçaram resistir, outros poucos desacreditaram das minhas palavras, mas ao verem que o grupo que caminhava junto comigo aumentava de acordo com o nosso avanço pelo prédio eles acabam cedendo e se juntando a nós. Ao fim de tudo eram cerca de vinte pessoas comigo, vinte pessoas que dependiam de mim para salvar suas vidas, vinte pessoas que eu não poderia deixar morrer.

Ao sentir toda essa responsabilidade sobre mim, ao sentir o peso da vida das vinte pessoas sobre meus ombros eu passei a ceder pouco a pouco e repensar sobre o que faria. Se as coisas realmente explodirem como Rayssa imagina que acontecerá, talvez seja egoísmo de mais da minha parte deixar estas pessoas ao bel prazer do destino.

Permaneci no corredor do térreo junto com todo o grupo esperando pelo momento certo de sair. Nós não poderíamos simplesmente sair agora porque um grupo de pessoas saindo de um prédio durante pleno toque de recolher seria alarde de mais para passar despercebido. Tínhamos que esperar a atenção dos guardas serem desviada para que então pudéssemos correr e então aguardamos ansiosamente pela oportunidade de fugir.

Eu estava dividida entre as opções de fugir e ficar para lutar. Comecei a divagar por uns instantes mesmo sabendo que essa era a pior hora possível para perder a atenção, mas por mais que eu tentasse não conseguia tirar meu pensamento disso, não sozinha, e algo aconteceu pra me trazer de volta a realidade, tiros.

Tiros foram disparados do lado de fora o que fez com que todos dentro do prédio se assustassem e se abaixassem encostando-se nas paredes do corredor.

"Seria essa a hora?" pensei comigo mesma e logo depois ouvi alguém gritar:

- Precisamos sair daqui! Agora!

Um grito que foi apoiado pela maioria do grupo, mas não por mim.

- Não! Fiquem onde estão ainda não é à hora! – Respondi.

- O que?!

- Ta maluca?

- Precisamos sair daqui, vamos!

Ouvi varias pessoas gritarem e começarem a criar pânico e disseminar o frenesi entre todo o grupo que só não foi notado por alguém lá fora por conta do barulho dos disparos. Eu não podia deixar isso acontecer então me levantei e apontei a arma pro homem que mais gritava e incitava os outros.

- Cale a boca! Cale a droga da boca! Ainda não está na hora de sair, você quer que todos sejam mortos lá fora?

O homem arregalou os olhos ao ver a arma próxima a sua cabeça e se calou enquanto as outras pessoas se abraçavam e observavam com tanto medo quanto ele.

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