25/11/2018

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25/11/2018

Ainda não me habituei bem a escrever nessa coisa, não sei como Jotah pôs tanta coisa aqui, esse diário é imenso.

Sinto-me um pouco estranha ao folheá-lo, lembro ainda das palavras dele ao dizer que não queria me ver tocando nisto novamente e hoje além de ler e escrever isto parece estar se tornando cada vez mais parte de mim.

Assim como Dayse fez com o pingente de Luciano, eu mantendo este diário vivo me faz sentir como se ainda levasse parte de Jotah comigo e é o que me conforta hoje.

Existe muita coisa neste diário que eu não sabia, principalmente do período antes dele nos ter encontrado naquele acampamento e estou lendo aos poucos enquanto alterno com algumas poucas linhas de escrita tímida.

Ainda estamos no mesmo apartamento no qual chegamos há dois dias. Estou num quarto que da janela tenho a vista da rua e vejo vários mordedores perambulando de um lado pro outro. Ultimamente tínhamos andado apenas pelo interior e cidade pequenas então não é muito comum pra nós vermos uma quantidade significativa deles juntos, principalmente pra mim, não tenho medo deles e sei como lidar com os desgraçados mas é sempre uma sensação horrível ver e ouvir essas coisas.

É manhã mas não sei bem as horas pois não uso relógio, não vejo muita necessidade em saber do tempo atualmente, é uma preocupação que perdemos. Acho que todos já estão acordados, daqui consigo ouvir vozes e barulho das meninas correndo pelos apartamentos até que uma delas entra pelo quarto adentro:

- Izabel! Izabel! Acorda! Você está acordada? Queremos brincar com você – Jennifer fala com uma alegria infantil única.

Estava acordada sim mas com pouco ânimo de levantar e antes de responder Heloíse entra com o mesmo vigor de Jennifer e dá um salto em cima da cama:

- Aqui você! Eu disse a Jê, sabia que você estava nesse quarto. – ela fala enquanto bagunça meu cabelo.

- Oi meninas. Tudo bem, já vi vocês, agora saiam pra eu poder trocar de roupa e já vamos brincar.

As duas saíram logo do quarto e essa energia delas me fez levantar e me preparar pra mais um dia nessa luta sem fim.

Procurei algo no guarda roupas do quarto em que estava e encontrei um lindo vestido azul com estampa florida. Não é sempre que encontro roupas legais assim e ainda mais em bom estado, estou cansada dessas roupas encardidas e esfarrapadas que vivo usando.

Assim que sai do quarto me deparei com as duas mas antes de começarmos a brincar vi meu irmão e Rodrigo conversando em frente a passagem da escada no primeiro andar e decidir ir até eles depois de pedir pras meninas começarem a brincadeira sem mim.

Assim que cheguei peguei o fim da frase do meu irmão:

-... Um dia após o outro como sempre fizemos.

- Do que vocês estão falando? – Indaguei.

- Estamos decidindo o que fazer agora que nosso plano não saiu como o esperado – Respondeu Rodrigo.

- E o que vamos fazer? Não temos outro plano, ou temos?

- Vamos continuar sobrevivendo maninha. Manter-nos vivos, esse é o plano.

- Espero que esse saia melhor que os outros. – Rodrigo fala desacreditado.

Nos entreolhamos e nossa atenção é tomada por um barulho alto de vidros quebrando misturado com gritos de crianças, eram as meninas, algo aconteceu com elas.

Saí em disparada escada abaixo, antes que Rodrigo e meu irmão me percebessem já estava no térreo correndo na direção de onde ouvi os sons e fui a primeira a chegar ao local em frente ao AP 101. Empurrei a porta entreaberta e gritei pelas garotas.

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