04/02/2019

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Estou vagando há dias pela região, reconhecendo a área e planejando meus próximos passos. Gastei parte dos últimos dias para espalhar melhor os carros com suprimentos, eles nãos servirão de abrigo mas serão meus planos B, C e D caso algo dê errado.

Também cobri bastante área a pé, pois apesar de ser mais demorado acaba por ser bem mais furtivo e me dar uma noção mais detalhada das localidades.

Mesmo já tendo tudo o que precisaria para me manter por um bom tempo eu não abdiquei da idéia de conferir os outros abrigos de Frank. Acabei chegando atrasado em praticamente todos eles e infelizmente em nenhum eu tive a sorte de me deparar com o miserável.

Ele também não deixou nenhuma armadilha ou mensagem parar mim, algo como aquele presentinho que deixei para ele no galpão. Admito que foi um pouco frustrante isso, mas sei que a hora de nos encontrarmos ainda chegará.

Os dias não serviram apenas para o trabalho físico. As noites frias e as madrugadas longas e solitárias serviram como uma companhia para mim e meus pensamentos. Não adiantaria de nada estar suprido com alimentos, carros, combustível, armas e munições se eu não estiver centrado e certo do que estava fazendo.

Estou revendo meus erros e equívocos, percebendo que não posso continuar agindo como ultimamente se quiser encarar de frente meus inimigos. As coisas do galpão facilitaram minha vida, mas em meio a essa guerra estou em clara desvantagem.

De um lado enfrento o comandante e seus grupos de buscas que detém a força bruta e do outro tem o Frank que tem a inteligência e o conhecimento a seu favor. E eu estou no meio dos dois e sem vantagem nenhuma contra eles, então preciso reverter este quadro logo.

Tive a idéia de criar pistas falsas e comecei a por isto em prática há dois dias. A maior parte das coisas são sutis mas tento as deixar bem claras pra um bom entendedor e as formas de fazer isso são muitas. Às vezes canto pneu propositalmente em alguma rua para marcar o asfalto, mas obviamente sigo por outra direção posteriormente. Limpei parcialmente uma casa na tarde passada e deixei apenas a cama desarrumada para aparentar que alguém dormia por ali, mas na verdade passei a noite a 20 km daquele lugar.

Deixei as marcas de uma fogueira numa parte da floresta próxima ao galpão em que pus os zumbis esperando que alguém chegasse até eles. E sempre que julgava seguro deixava algum tipo de sujeira para trás, como embalagens usadas e cascas de frutas. Tudo servindo como um rastro falso para despistar meu verdadeiro paradeiro e também para fazer com que talvez meus dois inimigos se encontrassem.

Se Frank e os grupos de buscas estão a minha procura, fazê-los seguir o mesmo rastro uma hora ou outra fará com que eles se esbarrem e um embate entre eles sempre será bom para mim.

Em meio a uma das minhas caminhadas de reconhecimento e implantação de pistas falsas eu decido parar e me abrigar no interior de um carro abandonado para escapar do sol forte e amenizar o calor. O carro estava largado à beira da estrada e não devia receber ocupação humana desde que deve ter sido jogado ali há meses.

Sentei no lugar do motorista e reclinei o banco para trás, com os pés sobre o painel eu repousei meu boné sobre parte do meu rosto e descansei meu corpo cansado. Os ferimentos da luta com Frank haviam deixado suas marcas, mas a essa altura já começaram a curar.

A costela ainda incomoda um pouco, principalmente quando faço algum tipo de esforço mais pesado ou preciso respirar mais fundo e por vezes acordo a noite quando me viro de lado e apoio o corpo sobre o lado ferido. Não tenho muito o que fazer quanto a isso então apenas descanso quando sinto dor e espero meu corpo cuidar da recuperação.

Os ferimentos no rosto me deixaram ainda mais feio do que antes, se é que fosse possível. E a aparência suja aliada aos cabelos também sujos, já longos e assanhados só pioravam a situação. Mas isso não me importava e eu sou grato por pelos menos os machucados não terem infeccionado, isso já é o bastante para mim.

Depois de certo tempo parado ali me endireitei novamente no banco e estiquei a mão para o lado alcançando a bolsa e retirando uma garrafa com água. Enquanto bebia observei pelo espelho central um zumbi vindo pela estrada e caminhando vagarosamente à cidade mais a frente.

Saquei a faca da bainha em minha cintura mas não saí do veiculo, apenas me mantive quieto bebendo o restante da água e aos poucos o mordedor foi passando ao lado do carro sem desviar a trajetória que vinha fazendo.

Eu o observei passar e naquele momento não senti vontade alguma em matá-lo. Debrucei-me sobre o volante e o vi se afastar e seguir seu caminho. Pensei como se desenrolaria a mesma situação caso fosse o Frank quem eu visse passando por ali, ou o comandante ou qualquer merdinha do grupo de buscas e com certeza as coisas não seriam tão calmas. Naquele momento eu percebi mais uma vez que talvez os zumbis não fossem meu maior inimigo.

Diário de Um SobreviventeWhere stories live. Discover now