24/11/2018

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A conversa ontem com Barbara foi legal, além de pensarmos em como lidar com os zumbis, ou canibais como ela fala, ainda nos conhecemos um pouco melhor. Eu estava um tanto confuso sobre ela a principio, mas ontem pude confirmar que ela é uma boa pessoa, pena que talvez não nos conheceremos tão bem assim.

Minha idéia para lidar com o problema na frente do prédio a principio seria usar um carro para dispersar e atrair os zumbis para longe mas Barbara me disse que o estacionamento do prédio não havia sido fechado então eles perderam o local pros mordedores.

Então pelo jeito vamos fazer a moda antiga. Eu sairei pela saída de emergência na lateral do prédio que dá para um beco não tão cheio de zumbis e darei a volta no quarteirão. Volto à rua pela próxima esquina e então é só atrair os zumbis e correr para longe, levá-los pra dentro de algum prédio desses e mandar tudo pros ares junto com os desgraçados.

Essa parte de explodir um prédio junto com os zumbis eu ainda não falei a Barbara, mas é um caso sério a se pensar, ou posso eu mesmo fazer sem alarmar ninguém.

Enquanto pensava no que fazer fui surpreendido por Natália que apareceu de surpresa na porta do quarto.

- Oi. Jotah? Não é? – Ela disse encostada na porta entre aberta do quarto.

- Sim. Bom dia, Natália. – Respondi gentilmente. – O que você...

- Barbara quer falar com você. – Ela se antecipou.

- Tudo bem. Já estou indo. – Falei e ela fechou cuidadosamente a porta e me deixou a sós.

Encostei novamente a cabeça no travesseiro e alguns pensamentos me vieram à mente. São dois dias desde que eu e Edinho nos afastamos da nossa família e nunca ficamos tanto tempo assim sem receber noticia deles. A ficha ainda não havia caído pra mim por conta de toda essa merda que aconteceu depois. O acidente e os cuidados com meu tio, a confusão com Adônis, que ainda não me desceu aliás, e os zumbis tentando invadir o prédio.

Toda essa confusão tinha levado minha mente para longe, mas hoje eu recostei a cabeça no travesseiro e ao olhar pro lado não vi Izabel. Hoje eu recostei a cabeça no travesseiro e não foi Izabel quem entrou no quarto a minha procura. Hoje eu recostei a cabeça no travesseiro e a ficha caiu.

Fiquei um tempo assim, perdido no meu mundinho, mas se manter assim não me levará a nada. Se eu realmente quero reencontrar Izabel, minha mãe, Igor e os outros eu preciso esquecê-los por um momento e voltar à atenção a realidade a minha volta. Eu preciso fazer isso para que eles não se tornem apenas pensamentos matutinos de um homem amargurado.

Sacudi a cabeça e esfreguei os olhos para que os pensamentos dispersassem, passei a mão no rosto e peguei sobre o criado mudo a mesma roupa desbotada de ontem. Fui até o banheiro enxaguar o rosto e depois segui para fora do quarto, onde Natália estava a minha espera.

- Você demorou. Eu não quis ser grossa e bater novamente então...

- Tudo bem. Eu pensei que você não estaria mais aqui quando eu saísse por isso não me apressei.

- Sem problemas. Podemos ir?

- Sim. – Conclui e ela me guiou em direção a Barbara.

Caminhamos pelos corredores sem tanta pressa e subimos alguns lances de escada no mesmo ritmo. Alguns minutos depois chegamos em frente a um apartamento que eu ainda não havia conhecido, Natália entrou primeiro e eu a segui logo depois.

A primeira vista que tive ao adentrar no apartamento foi a de Adônis sentado numa poltrona de frente para mim, e eu não gostei muito daquilo. Tentei conter o ímpeto de xingá-lo e por as coisas a limpo logo ali, tirar satisfações sobre todas as ameaças que ele me fez desde que eu cheguei e mostrar que ele não é tão durão quanto pensa, e pelo jeito que ele me olhou a sua vontade era de fazer o mesmo.

A tensão no quarto aumentou sem nem sequer dizermos uma única palavra e ao perceber isso Barbara se adiantou a qualquer ação nossa e se pronunciou.

- Espero que eu não tenha de apontar a arma pra nenhum dos dois hoje. – Frisou. – Estamos aqui pra resolver um problema que diz respeito a todos.

- Foi esse moleque que nos trouxe o problema. – Adônis disse provocativo por conta do aviso de Barbara.

- Não estamos mais na quarta-série Adônis, já chega! – Barbara foi energética ao respondê-lo.

- Já tratamos sobre isso ontem, não? – Falei trazendo a atenção a mim.

- Sim, mas você não vai fazer aquilo só. – Barbara diz. – É por isso que estamos aqui.

- Eu já fiz uma vez e com mais zumbis do que isso. Terei mais chances se for sozinho.

- Eu não chamei você aqui para discutir se você vai só ou não, pois isso já foi decidido. Você só está aqui para saber quem irá acompanhá-lo.

Suspirei e desviei o olhar num sentido claro de desaprovação.

- Eu vou com você. – Ela prosseguiu. – E Adônis nos dará cobertura.

- Sem chance! – Eu e Adônis falamos ao mesmo tempo.

- Eu não vou andar sob a mira desse cara nem a pau. – Falei.

- E eu não deixarei você sair sozinha com ele. – Adônis disse a Barbara.

- E eu não confio em vocês dois sozinhos lá fora. – Barbara disse depois que eu e Adônis nos calamos. – Eu irei e ponto final, lidem com isso.

- Vão os três então. – Natália que se manteve quieta até agora, falou.

- É arriscado e desnecessário. – Respondi.

- Seremos mais lentos assim. – Adônis completou.

- Mas parece ser o único jeito não é? – Natália insistiu.

- É. – Barbara pontuou. – Faremos assim.

Dei um longo suspiro novamente e sai do apartamento interrompendo o prosseguimento da discussão. Parei encostado no peitoril da janela do corredor e passei a observar os zumbis que enfrentaríamos e analisei novamente a situação.

- Podemos fazer do seu jeito. – Falei ao perceber que Barbara viera atrás de mim.

- Ótimo. – Ela se conteve a dizer apenas isso. – Vamos nos preparar então.

Diário de Um SobreviventeWhere stories live. Discover now